1- Devaneios

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Queremos ser capazes de compreender tudo

...talvez algum dia possamos conseguir...

Mas será que estamos preparados para aceitar todos os frutos da nossa compreensão?

Livro um

As pessoas podem dizer a si mesmas que estão seguras, e isso não é totalmente mentira, podemos de fato nos assegurar certa segurança diante do que ousamos lutar. Mas isso só é válido diante do que conhecemos. Porém, do lado de fora da janela de nossa simplória existência, pode espreitar um mal que nem mesmo nos damos conta que exista... Diante disso como podemos nos proteger? Como lutar contra o desconhecido?

Mas e se esse mal sempre existiu? Por quê ainda persistimos vivos apesar da nossa ignorância? Quem garante nossa segurança?

Algumas respostas só são destinadas a alguns poucos escolhidos, o que significa uma grande honra, mas também responsabilidades e perigos proporcionais a tal privilégio.

***

Eu me sentia meio zonza, e não sabia mais ao certo onde estava, concluí então de súbito o que veio primeiramente em minha mente, estava morta. Engraçado, sempre que imaginei a morte eu a via como algo tão distante que agora parecia até engraçado a identificar como algo presente. Bem, só teve uma vez em que eu a havia enxergado como uma possibilidade, e eu ainda era criança. Estava brincando com a minha irmã Laura no jardim da casa de campo dos avós dela, foi aí que Laura viu um ninho em cima de uma das árvores do jardim. Minha irmã era dois anos e alguns poucos meses mais velha que eu, nessa altura eu tinha oito anos, enquanto que ela tinha onze, mas eu completaria nove no próximo mês, funcionava mais pra ela como uma bonequinha feita para obedecer do que propriamente uma irmã, ela decidiu que queria pegar aquele ninho para averiguar se havia algo nele. A árvore era alta, ela nunca teria coragem suficiente para subir ela mesma lá. Eu em geral ficava zangada quando minhas irmãs se dirigiam a mim com autoridade demasiada, isso se devia um pouco porquê tínhamos quase a mesma idade, e sempre se espera que um adulto nos dê ordens, não outra criança, e essas crises de autoridade sobre mim não eram uma particularidade encontrada em Laura, isso também estava presente nas minhas outras duas irmãs, Ângela, que havia completado nove anos a uns dois meses, e um pouquinho em Luísa que era gêmea de Laura. Sempre me incomodava o fato delas tentarem mandar em mim, mas em geral sempre engolia qualquer ressentimento que pudesse transparecer, afinal aquela família era delas, não minha, e elas tinham aceitado que eu fizesse parte dela de bom grado, sendo assim não me neguei a obedecer quando Laura me mandou subir na árvore e pegar o ninho para ela.

Era verão mas mesmo assim os galhos da árvore estavam muito escorregadios, talvez porquê ainda era muito cedo, e deveria ainda se encontrar neles vestígios da fina chuva de verão que havia caído levemente durante as últimas horas da noite que tinha se passado. Apesar das dificuldades que a subida oferecia eu não desisti, continuei sempre subindo mais e mais, e logo consegui chegar até o ninho, constatei que estava vazio o arranquei do galho e o atirei para minha irmã lá em baixo. Ao pegar o ninho ela percebeu que ele tinha se danificado. Bastou isso para ela começar a protestar impetuosamente, me lembro até da sua voz desdenhosa dizendo:

_ Você tem mesmo mãos de ferreiro, olha só o que você fez com o ninho! De fato é incompetente, nem realizar uma simples tarefa é capaz!

Eu fiquei realmente magoada com o jeito arrogante que ela disse aquelas palavras, meus olhos começaram a encher-se involuntariamente de lágrimas. Comecei a descer da árvore, mas minha visão estava embaçada, tudo aconteceu de súbito e eu nem sei o que exatamente provocou o acidente, a única coisa que me lembro é que num instante estava em cima da árvore e no outro me encontrava estatelada no chão sentindo uma dor desnorteante na cabeça, Laura gritava ao meu lado por socorro e me dizia pra ficar acordada, foi em vão, logo fiquei inconsciente.

A Ordem Da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora