CAPITULO 31

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Thales

Olho no espelho pela terceira vez em menos de cinco minutos, não me reconheço com essas roupas, embora a camisa tenha sido presente da vó de Ayla, eu não me sinto eu com ela. Na verdade não me sinto eu mesmo a algum tempo, tempo suficiente para que eu comece a achar que não sei quem sou de verdade.
Passo a mão em meus cabelos desmanchado o penteado certinho, deixo algumas mechas caírem de proposito, gosto quando Ayla mexe no meu cabelo, não quero que ela ache que não pode porque tá arrumado demais. Sento novamente na cama enquanto meus pensamentos se perdem no dia de hoje, passamos a maior parte dele na sala jogando vídeo game, vendo filme e comendo, com os olhos atentos da vovó em nós, como se a qualquer momento eu fosse agarrar a sua neta. Eu consegui passar uma noite inteira ao seu lado sem agarra-la, uma tarde na presença da vovó não é nada.
Olho para a bolsa que ainda está no chão com minhas roupas socadas dentro, no fundo eu sei que estou apenas fugindo da realidade, isso aqui não é minha vida, a minha vida está do outro lado da rua, me esperando. Mas eu estou tão fora de mim, tão no limite, que não vi outra alternativa a não ser deixar que eles cuidassem de mim, era isso ou uma tragédia. Porque sinto que na próxima vez que aquele maldito tentar tocar em mim será a ultima vez.
Uma batida soa em minha porta e me levanto para abri-la.
— Está tudo bem ai? — Milton olha para mim e reprime um sorriso que me faz fechar a cara.
— Estou muito ridículo? — olho para a calça jeans e a camisa e depois olho para ele a espera da sua resposta.
— Eu não sei, espere que a Ayla te dirá. — ele dá um tapinha em meu ombro. — Vem, a vovó tá esperando vocês para cantar parabéns.
Passo por ele e vou até a cozinha, estão todos lá, a vovó,  os gêmeos, o tio tagarela de Ayla que quase nunca aparece aqui e ela. Perco o ar quando a vejo, ela está linda, usando o vestido que sua vó deu a ela hoje cedo, com os cabelos presos em um coque no topo da cabeça e um sorriso iluminado no rosto, quando me vê seus olhos caem em meu corpo e me sinto aquecer por dentro, mesmo na presença de toda essa gente.
— Até que enfim garoto, achei que ia ter que te buscar pelos cabelos. — o tio tagarela fala e eu me limito a sorrir.
Vovó se aproxima arrumando o colarinho da minha camisa e dando tapinhas em meu peito.
— Você está maior do que eu me lembrava menino. — a camisa ficou um pouco justa nos ombros, mas não sabia se era assim mesmo, nunca usei uma camisa antes e estou tão nervoso que não dei atenção,  ela me analisa com os óculos na ponta do nariz e rezo para que ela não me peça para tirar, acho que gostei de quem eu me pareço com essa camisa.  — Mas até que ficou bonito.
— Obrigado, eu adorei.
— É para você usar quando for para o seu clube, os jogadores usam camisas as vezes não usam?
— Sim, eles usam.
— Então está ótimo, aqui está a sua. — Ela me puxa e me dá um beijo em cada lado do meu rosto. — Que Deus te abençoe garoto. — ela me dá um tapinha no rosto e se afasta.
— Thales. — Milton me chama e estende uma caixa na minha direção. — Pra você.
Olho para a caixa por alguns instantes, e Milton a coloca nas minhas mãos que parecem ter perdido a função.
— Espero que goste do modelo e da cor.
Olho para Ayla e ela balança a cabeça me incentivando a abrir a embalagem, rasgo o papel devagar tentando não chorar porque sempre me sinto um pouco emotivo quando ganho algo que foi comprado com carinho para mim enquanto tento entender porque essas pessoas se importam comigo se nem ao menos minha mãe se importa.
Quando termino de rasgar o papel ainda preciso de uns instantes para compreender que o que tenho nas minhas mãos é realmente meu, tenho que respirar fundo algumas vezes para controlar a emoção, não vou chorar, não aqui, na frente dessas pessoas, na frente dela.
— Se não for do seu gosto podemos trocar. — Milton fala e devo estar parecendo um idiota olhando para um par de chuteiras como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
— Meu Deus... — é tudo o que sai da minha boca enquanto noto a imagem ficar embaçada. — S- são minhas? — minha voz sai um pouco embargada e faço de tudo para não olhar para Ayla, de onde estou posso ver sua mão se erguendo e tenho certeza que ela está chorando.
— Claro, veja se ficam boas. — Milton pede e eu preciso piscar algumas vezes enquanto caminho até o sofá carregando o presente mais especial do mundo em minhas mãos.
Todos estão olhando para mim e preciso me esforçar para desamarrar os cadarços dos meus tênis surrados e tira-los dos meus pés, o contraste é tão grande que tenho medo de estragar as chuteiras ao coloca-las nos meus pés.
O couro macio desliza quando a calço, sinto o material abraçar meu pé, ajusto o cadarço e a amarro, depois faço o mesmo com o outro e por um instante fico olhando para elas maravilhado com a forma como elas se encaixam perfeitamente neles.
— Acho que ficaram boas. — Ayla diz e ergo meus olhos para encontrar os seus.
— É, ficaram. — consigo responder e ela sorri emocionada para mim.
— Não tem que andar para ver se ficou bom? — Milton fala e faço o que ele pede.
Caminho de um lado sentindo a textura da chuteira em meus pés e meu coração socando meu peito, quando me viro, tudo o que vejo é ela, sorrindo e chorando, com as mãos na boca, respiro fundo sentindo o amor explodir em meu peito e sem pensar vou até ela, minhas mãos se movem antes que eu possa pensar, uma se acomoda na curva da sua cintura, a outra retira as mãos da sua boca para que eu a cubra com a minha. Beijo-a com respeito e emoção, desejando que ela possa sentir toda a gratidão que carrego em meu peito, quando nossas bocas se separam ela segura meu rosto em suas mãos e diz.
— Esse é só o começo de uma vida linda que está te esperando lá fora.
Tudo o que faço é assentir, não consigo fazer minha boca se mover, nem as palavras saírem de dentro dela, estou emocionado demais.
Me viro para Milton que está me observando com um sorriso orgulhoso nos lábios.
— Muito obrigado, de coração. — digo a ele e recebo um menear de cabeça de volta.
Logo os gêmeos estão em volta de mim, pedindo para experimentar a chuteira, não sei como agir e agradeço quando o tio de Ayla retira os moleques de cima de mim.
— Eu vou guardar a chuteira.
Saio o mais rápido possível da sala, ainda ouço a vovó reclamando que ninguém deu atenção para seu bolo e os meninos falando ao pai que querem chuteiras iguais.
— Quando vocês forem como o Thales ganharão chuteiras também. — ele diz no momento em que fecho a porta do quarto e desabo.
As lágrimas ardem ao caírem dos meus olhos, pesadas, cheias de emoção, não me julgo por estar chorando escondido, porque pela primeira vez na minha vida, eu me lembro de ter um motivo para chorar de felicidade.

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