IV

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Haviam chegado em casa. A volta pareceu a Camila bem mais rápida que à ida ao supermercado. Quando desceu da moto não conseguia conter o sorriso, tinha sido muito bom apesar do medo, muito bom mesmo.

Lauren notou o contentamento dela.

- Parece que já se acostumou com o passeio, foi legal né?

- Se você não tivesse corrido tanto, até que seria.

- Eu não corri, é você que não está
acostumada, mas vejo pela sua cara que gostou.

- Eu gostei mesmo, nunca pensei que andar de moto fosse tão divertido.

Então Camila para de falar e se da conta que havia sido divertido não só pela moto, mas por tudo, pela companhia de Lauren, pelas compras que fizeram juntas, por ter ido abraçada a cintura da outra. Sentiu um mal estar súbito nesse momento, isso não podia estar acontecendo, não podia sentir o que sentia por Lauren, As mãos começaram a ficar frias e úmidas, nessa hora achou que ia desfalecer.

- Camila. Você esta bem? O que foi? Tá tão pálida, vem cá, o que esta sentindo?

Lauren se aproxima para apoiar Camila, segura ela pelos ombros e pega na mão gelada.

- Caramba, tua mão tá muito fria. Você precisa sentar, quer que te leve em casa?

- Não, por favor, não quero ficar sozinha agora.

- Vem comigo, vamos pra minha casa.

Entraram na casa de Lauren, e ela deitou no sofá, a cabeça rodava, a constatação de que poderia estar sentido algo mais que amizade por Lauren a deixou totalmente abalada.

Além de ser casada. que chances ela
teria com uma mulher como Lauren, linda, independente e talvez cheia de rapazes interessados. Estava tão absorta nesses pensamentos que não viu quando Lauren voltou com um copo de água .

- Aqui Camila, bebe tudo devagar. Como se sente? O que aconteceu?

Não aconteceu nada, só acho que estou apaixonada por você. Pensou, mas lógico que não poderia dizer isso.

- Acho que minha pressão deve ter caído, isso acontece às vezes.

- Nossa Camila porque não me avisou? Você podia mesmo ter caído do moto...

- Já passou Lauren, obrigada pela sua preocupação. Acho que já posso levantar.

- Não mesmo, fica mais um pouco, você ainda esta pálida. Vou buscar algo para comer.

- Não levante, ok?

Se encostou ainda mais no sofá, estava se sentindo um pouco melhor, pelo menos fisicamente, mas emocionalmente estava a beira do caos, como se estivesse perto de um abismo e qualquer passo errado a fizesse cair.

Fechou os olhos com desespero. Lauren tinha voltado e trazido com ela um sanduíche de queijo. Comeu mesmo por insistência dela, a comida parecia não ter nenhum gosto. Por fim se levantou, não podia ficar o dia todo ali deitada.

- Tem certeza que está bem?

- Estou sim Lauren, não se preocupe, foi só uma queda de pressão, mas estou melhor.

- Posso te levar até o hospital se quiser.

- Não, estou bem. Vamos fazer suas
panquecas?

O olhar preocupado de Lauren acabou tocando fundo no coração de Camila Quando havia sido a ultima vez que alguém tinha se preocupado assim com ela? Nem lembrava mais.

- Podemos deixar para outro dia.

Não Lauren, você vai ter sua aula de
panquecas hoje.

- Haha, você dura na queda em heim?!

- Então vamos lá, mas qualquer coisa e nos paramos, certo?

Foram até a cozinha, Camila não precisava de nenhuma receita escrita, sabia fazer muitas coisas de cabeça. Começou a dar instruções.

- Pegue seu liquidificador, vamos jogar os ingredientes ali dentro... Assim não Lauren, você nunca joga os ovos diretos na receita, eles podem estar estragados...menos sal, senão isso vai ficar uma salmora...calma, cuidado com essa farinha...

Nesse momento Lauren começa uma guerra de farinha com Camila, que revida enchendo o cabelo da outra com aquele pó branco, por fim a cozinha estava uma zona, mas as panquecas feitas.

Deram muitas risadas, principalmente pela falta de jeito que Lauren tinha para cozinhar.

- Você nunca cozinhou? Que desastre você é.

- Meu nível de culinária se resume a
pegar algo congelado no freezer e jogar no microondas, mas quando morava com minha avó eu comia algo mais saudável e tinha panquecas toda semana.

- Você visita sempre a sua avó?

Aquela sombra de tristeza que tinha visto no rosto de Lauren outro dia, apareceu dessa vez também.

- Não tanto quanto gostaria. Eu amo ela, mas temos algumas desavenças sobre alguns assuntos.

- Sinto muito Lauren.

E ela sentia mesmo, sua família também era muito distante, quase nunca visitava os pais e eles nunca vinham até sua casa.

- Tudo bem Mila. Vem comigo na sala, vou te contar um pouco sobre minha vida. Sabe de uma coisa? Preciso tomar cuidado com você, esse seu olhar tranquilo e meigo
me leva a falar coisas que nunca contei a ninguém, mas acho que vai ser bom desabafar.

Foi para sala segurando a mão de Lauren e aquele calor acolhedor se espalhando por todo corpo. Estava atordoada, desesperada e por incrível que pareça, feliz.

A MULHER DO PASTOR ➵ CAMREN Onde histórias criam vida. Descubra agora