3. em emergências, utilize as escadas.

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8,

Eu consigo me lembrar do calor da tarde amarelada do dia que nos encontramos no elevador. Um dia de fevereiro, chuva de verão e eu voltava de um carnaval literal de emoções, cores, gotas quentes de suor e de um brilho dourado que se misturava ao meu batom vermelho. Um batom já reposto muitas vezes naquele dia, que muitos haviam retirado de forma rápida e que eu já não me lembrava de seus rostos.

Era rotina encontrá-lo no elevador e no meio do caminho do edifício continuar a viagem sozinha, mas nesse dia nossas intenções não se limitaram somente à chegar em nossos andares. Você pôde dizer e eu pude entender mesmo sem palavras o que significava o silêncio do seu olhar quando chegamos ao seu andar, e mesmo que quiséssemos falar, não havia tempo pra isso. O elevador já subia até o meu andar enquanto eu ainda sentia que estava parada no seu.

E quando chegamos ao meu andar, o propósito de chegar em casa já não me demonstrava ser mais importante que continuar encontrando em você o sentimento que procurei o dia todo em pessoas desconhecidas. Então os botões do painel continuaram sendo apertados para que a gente subisse.

E subisse.

Mais um pouco.

Até o último andar.

E o ritmo manteve-se até que nos lembramos que o edifício não pertencia somente a nós. E em meio a emergência de estar ali encerrando um dia de uma rotina de encontros simpáticos carregados de superficialidades, soubemos que em meio ao nosso incêndio a saída mais segura eram as escadas.

Mas os dias passaram e assim como todo fogo, um dia nosso incêndio teve fim. E do último andar, descemos de elevador até nossos andares e continuamos soltando pequenas faíscas pelo caminho que cruzávamos ao mesmo tempo. Até que tudo virou cinzas.

Hoje estamos no mesmo elevador e espero que o porteiro não se lembre das imagens das câmeras de segurança.

quando amei por doisOnde histórias criam vida. Descubra agora