antes de virar poesia (instruções).

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O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes


Acordo mais uma vez com as leves batidas da chuva na minha janela, apesar de normalmente meu sono ser pesado e não haver nada no mundo que me faça despertar dos meus sonhos desconexos em que eu reencontro velhos parentes ou que visito escolas que estudei quando era criança. Hoje esses sonhos não estão acontecendo e a única imagem que preenche meus pensamentos são de acontecimentos reais e que me perseguem, fazendo com que eu acorde com o coração quase à caminho da garganta e o suor encharcando os lençóis. Não consigo pregar os olhos nem que o barulho mais relaxante esteja caindo do lado de fora da minha casa, minha mente não descansa mesmo quando o corpo insiste por paz. 

Eu não consigo desligar minha mente do mecanismo sútil que alimentei nos últimos anos, lembrando e revivendo momentos com todos possíveis quase-romances que vivi. Em outros momentos, relembrar e reviver esses pensamentos era algo que me aproximava ainda mais dos meus sonhos, me tranquilizavam e me faziam cair facilmente no sono. Hoje isso não tem me acalmado e sim me deixado frustrada com a minha incapacidade de dedicar o coração à alguém, a minha inconstância tem se tornado um pesadelo para mim e quem decide entrar no meu espaço. Eu tenho tido a impressão que minha inabilidade de seguir em frente e minha paixão por diversas pessoas ao mesmo tempo sejam a razão pela qual nunca pude ser amada de verdade. Sinto que tudo se repete por todos serem completamente iguais. 

Por ironia, meu nome lembra amor. Minha mãe quis registrar que a minha vida era fruto do amor incondicional que ela recebera um dia do meu pai, hoje não mais casados. Ela me diz que sou a prova de que não estão juntos por outros motivos, não por ter faltado amor. Ela sabe que ele em sua inconstância, amara ela como ninguém jamais amou. Por essa inspiração poética de uma mulher perdidamente apaixonada, meu nome é Amara e percebo que a inconstância na verdade não significa que o amor não perdura, mas que ele se transforma e se multiplica. 

Meu único problema é não amar unicamente e exclusivamente. Amo o tempo inteiro e todo o mundo, mas será que é amor ou apenas nomeio erroneamente outros sentimentos? Essa pergunta me deu um estalo de escrever como registro de todas essas relações simultâneas e semelhantes, para que no fim eu consiga entender ao menos o que eu sentirei de diferente quando o amor não for o mesmo. 


quando amei por doisOnde histórias criam vida. Descubra agora