Capítulo 1. Contos de Alanis: Fragmento I

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Lá estava ela, a pequena garota, com os olhos cor de mel, que passava as mãos por entre as várias flores, das mais variadas cores, no bosque iluminado pelas tochas, onde as chamas amareladas brilhavam como o nascer do sol e jamais se apagavam.

Pássaros andavam em terra, cervos vinham ao seu encontro e se esfregavam em seus joelhos rosados um tanto pálidos pelo frio trazido pela manhã. Os olhos da criança brilhavam ao encontrar as chamas amareladas e logo se voltavam para os vários arbustos, para as gigantescas árvores negras como a penumbra da noite e até mesmo para as tão odiadas ervas daninhas que formavam um tapete esverdeado por todo o chão.

Um pequeno rebuliço aconteceu em meio a um arbusto inteiramente preenchido por flores violetas e folhas esbranquiçadas.

— Fadas — sussurrou a garota, com um medo tremendo de assustar qualquer que fosse o ser que estivesse ali.

De repente, uma pequena borboleta surgiu em meio às flores, pouco depois, alçou um voo tranquilo e vagaroso. A garota, no entanto, não via apenas uma borboleta. Ela via uma fada a voar embaixo de um céu azul, com nuvens, que para ela eram pequenas pinceladas da cor branca, como a cor pálida da sua mãe da última vez que a viu.

A garota seguiu o bater de asas da fada criada pela sua imaginação, com cautela e andando na ponta do pé. Um dos cervos que a perseguia, deitou-se no chão esmagando algumas folhas secas e a garota virou-se na direção dele assustada. O cervo olhou-a nos olhos, com sua expressão de sempre e quando a garota se voltou para a sua amada, ela encontrou apenas o céu azul e as nuvens. Então, agitada, olhou em todas as direções para onde a borboleta poderia ter partido; olhou até para as odiadas ervas que cresciam no chão, mas não encontrou a pequenina.

— Flor! Venha logo para dentro me ajudar com a casa — gritou sua irmã.

Hera, eu encontrei uma fada — disse Flor, sorridente, acariciando seu amigo cervo, do qual ela havia dado o nome de Carlos, mas mal sabia a inocente Flor que Carlos na verdade era uma fêmea.

Hera suspirou profundamente, lançando vapor, aquele vapor que sai da boca, quando nos encontramos em dias frios. Ela o fez não só porque achava lastimável a inocência de Flor, mas também, porque não sabia se deveria dizer ou não a Flor que Carlos na verdade era uma "garota".

— Já te disse Flor, fadas não existem, agora vamos fazer o que importa, pegue a vassoura e os panos.

— Hera, a mamãe não voltará hoje de novo? Ela parecia tão bonita da última vez que eu a vi.

— Branca, como a princesa, branca de neve, como nos contos de fadas — cantarolou Flor, de forma dramática.

— Não Flor, ela não vem — respondeu Hera, já irritada com a irmã.


Flor tinha a obrigação de lavar os talheres e os pratos e tirar a poeira dos móveis, enquanto cantava. Tinha também de dançar em meio à sala de estar enquanto varria a poeira do chão, na verdade, dançar e cantar eram apenas obrigações inventadas, pois para ela essas eram as suas maiores virtudes; virtudes essas que poderiam atrair as fadas.

Hera limpava o chão do resto da casa, limpava as panelas, coletava lenha para o fogão e preparava as refeições.

Após o fim de todas as suas obrigações diárias, Flor voltava animada para o bosque, para buscar pelas fadas e acariciar seu amigo Carlos. Dias assim seguiam-se e Flor encontrava uma fada ou duas no meio dos arbustos todas às vezes.

Mas houve um dia em que Flor terminou as suas obrigações muito tarde e não fora permitida a sair para se divertir no bosque, por isso, ela se contentou em apenas observar pela vidraça da janela de seu quarto para ver se alguma fada surgiria do meio da vegetação.

As chaves de Alanis - Flor da AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora