Era inverno e os flocos de neve caíam suavemente do céu e coloriam as árvores, os bosques, as pontes, os castelos...
— Eu a amo, eu a amo, eu a amo, eu a amo! — gritava a mulher de cabelos negros, ajoelhada em frente ao túmulo de mármore. Gritos que não precisavam ser ouvidos, que não eram súplicas, gritos que apenas os ventos frios do inverno podiam escutar. Depois sussurros: "Eu jamais me perdoarei, jamais". Tais sussurros também foram levados pelo vento, jogados para bem longe, para sabe lá onde. Finalmente um choro, e as mãos pálidas de frio foram levadas até o rosto para enxugar as lágrimas, antes que estas alcançassem os lábios rachados não apenas pelos dias frígidos, mas também pelo tempo.
Como se protestassem as árvores agitaram-se repentinamente, sendo abatidas pelo vento que cruelmente e constantemente se fortalecia. Ela agora permanecia em silêncio e lembrava-se de momentos de felicidade que teve com sua irmã, dias em que elas liam um conto de fadas e enquanto eram aquecidas pela lareira da casa, o cervo de sua irmã, travesso, brincava pelos cômodos, dias em que viajaram pelo mundo em busca de lendas a muito esquecidas. É incrível a forma como as lembranças mais felizes, tornam-se as mais dolorosas com o tempo, isso porque elas te fazem lembrar de que você jamais poderá revivê-las. É quase como um sussurro dentro do seu coração, dizendo: "acabou".
As lembranças desses dias foram tão reais que por um momento ela sorriu, mas logo o sorriso tornou-se amargo e infeliz, acompanhado por lágrimas e mais lágrimas. Ajoelhada ela bateu firme com o punho sobre o mármore, pois a tristeza tomou-a por completo e já não estava mais apenas em seu coração, agora tal tristeza saía pelos seus olhos, extrapolava os cantos de sua boca, escapava por entre suas unhas; para ela a solidão era algo visível.
De repente veio em sua mente a imagem de uma amiga, uma pequena criatura alada chamada: "Síria", que a deu forças para levantar-se daquele local e ir ao encontro do seu destino.
Um buque de rosas brancas fora deixado no lugar onde antes repousavam os seus braços, mas o vento empurrava algumas flores para longe.
— Vento, meu querido, se você pudesse levar estas flores a ela, eu jamais deixaria de ouvir os teus assovios, jamais te impediria de tocar a minha pele — ela disse.
Seus devaneios ficavam cada vez mais fortes e pouco a pouco a triste senhorita perdia sua sanidade. Agora ela falava com o vento, com o mar, com a chuva, com a neve. Mas talvez... talvez ela estivesse certa, pois a loucura em um mundo desconhecido pode se tornar realidade em instantes e não há mundo que tenha sido por completo desvendado.
Em segundos a moça se levantou da neve, correndo para dentro da floresta, revelando a borda florida de seu vestido amarelado. Flocos e mais flocos de neve levantados pela força de seus passos, mas ela tinha de correr daquela forma, pois se não o fizesse, nunca conseguiria abandonar o túmulo de sua querida falecida.
Seu coração pulsava de acordo com a corrida imprudente, que ela fizera em direção ao norte. Em alguns momentos era preciso um descanso, mas depois de algumas horas ela finalmente conseguiu chegar.
Saudações foram dadas a ela, por meio de uma fada negra, como a cor de seus cabelos, Thyánor era o nome da fada. A pequenina seguiu para o sudoeste guiando a mulher para um local, que já estava há séculos preparado para a ocasião.
A fada guiou-a por entre a vegetação do bosque, levando-a a caminhar por algumas horas pela relva, até entrarem em uma floresta onde algo pulsava dentro das árvores, algo como veias vermelhas e brilhantes. As árvores eram extremamente belas e seus troncos eram extremamente verdes, assim como suas folhas; verde-claro como o tom do mais claro dos trevos.
Fadas de todas as cores brotavam em meio à vegetação e revoavam os três pilares repletos de escritas estranhas que irradiavam luz. A mulher retirou seus pequenos sapatos cristalinos e um pouco relutante, enfiou seus pequeninos pés na neve fria daquela terrível noite. Agora andava suavemente em direção aos pilares, e as fadas cheias de amor pela moça, rodearam o caminho por onde ela passaria e lá elas emanaram uma luz tão forte que a neve derreteu-se formando uma passarela amarelada e brilhante. Vagalumes devem ter sido atraídos pelas luzes, pois encheram o lugar, voando em diferentes direções, colorindo o que não era amarelo daquele lindo quadro com o seu verde florescente. Cervos, pássaros, ursos, unicórnios, borboletas, e até mesmo um rosado dragão, surgiram para ver o que se passava.
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As chaves de Alanis - Flor da Aurora
FantasiAlanis, a imperatriz das fadas, um ser mágico e milenar, por amor criou uma torre abaixo da aurora, chamada por ela de "Flor", o nome de sua falecida irmã, era a mais alta das torres, feita de gelo e escuridão, onde a fada escondeu seus segredos e a...