Capítulo 9. Vermelho Carmim

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JÚPTER

Vênus apagava nossos rastros jogando para longe os tocos, já negros, que na noite anterior utilizamos para formar uma fogueira. Varria o chão com os pés, para apagar nossas pegadas e esconder as cinzas.

A manhã havia chegado e estávamos cercadas por uma densa neblina, em meio a uma floresta, com árvores curvas e verdes da raiz ao topo, mas o destaque eram as aves, amareladas, grandes, que escalavam as árvores usando de suas patas e bicos para se agarrarem aos troncos; obviamente não podiam voar. Graças a todos esses detalhes eu sabia exatamente onde estávamos: na linha de Varrym, que demarcava o fim do território de Elday e o começo da Costa Norte, que por sua vez era o lugar para onde queríamos ir.

Muita sorte, muita sorte, muita sorte.

Eu lia os mapas e estudava o local, enquanto Vênus cortava cipós e os trançava, para criar algo, que nos amarrasse uma a outra novamente. Com o equipamento pronto, nos amarramos e prosseguimos nosso caminho, sem muitas palavras, até porque não sabíamos como começar um diálogo depois do que nos havia acontecido. Eu me sentia fraca e confusa, mas Vênus deveria se sentir pior, pois para ela eu era como uma pedrinha de vidro, pequena demais para se proteger, frágil demais para manter-me inteira em meio às dificuldades, e ela uma peça de metal que me cobria por inteiro e me protegia de tudo, não se quebrava com nada. Mas no dia anterior, ela havia se quebrado e eu fiquei exposta ao mundo; eu sabia que Vênus se culpava por isso.

Vênus começou a destroçar os galhos enormes de árvore que nos impediam de chegar à Costa. Com uma explosão atrás da outra e as faíscas da lanterna voando pelo ar. Logo, era possível ver o sol, a areia e o mar.

A última raiz fora despedaçada por inteiro e os raios solares nos envolveram com calor. Um cheiro mais puro tomou o lugar dos cheiros de ervas e flores que vinham da floresta; o mar refletia o brilhar do sol como nunca.

— Desculpe Júpiter, eu não vou perder mais briga alguma, prometo — ela disse, os dedos gesticulando de forma medrosa, parecia pesado para ela me dizer aquilo.

Dei um tapa forte na cabeça de Vênus, que a fez acordar um pouco daquele estado de decepção e autojulgamento.

— Você não é a única culpada por termos perdido. Perder nenhuma briga? Não se trata de brigas, precisamos salvar os nossos pais, só isso — eu disse.

— E pare de falar como uma brigona, você está parecendo os Mours — acrescentei.

Os Mours eram uma família um tanto estranha que morava muito próxima da minha, eles eram torrões e desordeiros, do tipo que lutaria com um urso por um pedaço de salmão.

— Aonde iremos agora? — perguntou-me Vênus. Seu comportamento parecia mais vivido agora, e se estava me enganando, ao menos estava o fazendo com bastante maestria.

— Não está muito distante daqui, veja! — eu disse, apontando para o lado, lá havia uma montanha de terra vermelha que devia ter uns 120 metros de altura e era onde estava a entrada para o reino Frida, o reino que escravizou os nossos entes queridos, nosso rei e rainha.

Vênus pediu-me o colar de forja e entreguei-a o colar, que era na verdade uma pequena corda amarrada a uma pedra cinzenta, com propriedades mágicas. Ela o colocou no pescoço e o deixou encostado à sua armadura. O efeito do colar era a restauração de qualquer coisa que não fosse orgânica, Vênus o estava usando, para que ele restaurasse a sua armadura que havia sido perfurada pela espada do brado, no entanto essa restauração demoraria algumas horas.

— O colar de forja, uma das três relíquias da sala dos tesouros do rei, deixada para os príncipes, ele tem o poder de subjugar o tempo, retrocedê-lo. Me pergunto por que essa, assim como muitas outras relíquias, não foram levadas pelos invasores.

As chaves de Alanis - Flor da AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora