Sangue e miolos

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Arredores de Atlanta – 2013.

A garota olhou para os dois lados, antes de se virar para a frente novamente e suspirar entediada. Ambos os lados, sua frente e com muita certeza, suas costas, estavam repletos de mortos. Ela acompanhava o grupo de walkers pela estrada há dias. O cheiro de carne apodrecida já estava impregnado em seu nariz e os ruídos produzidos por aquelas coisas a importunavam dia e noite.

Estava no centro de cerca de 10 mortos que se arrastavam vagarosamente pelas estradas e matagais abandonados que haviam se tornado os arredores de Atlanta. Eles não pareciam se importar com a presença dela ali, não lhe dirigiam nem um olhar ou uma tentativa de ataque. E sabia bem demais que aquelas coisas atacavam, ansiavam por carne humana. Já havia visto muitas pessoas serem mortas por eles em Nova Iorque há três anos atrás.

Porém não com ela. Os walkers eram indiferentes a ela, de uma tal maneira que chegava a incomoda-la. Ela não era digna de ser devorada? Se perguntava toda vez que um passava por ela sem olha-la, isso a irritava tanto a ponto de mata-los em fúria, vários de uma vez, e mesmo assim eles não a importunavam.

Há três anos isso acontecia. Desde o primeiro momento em que havia botado o pé na rua, em que havia saído daquele lugar horrível e cruel em Nova Iorque aonde havia passado tanto tempo. Se lembrava como se fosse ontem, as ruas da cidade eram um caos total. O exército americano lutando contra os mortos-vivos, os civis desesperados para fugir daquela confusão vivos e ilesos.

Ria toda vez que se lembrava daqueles idiotas médicos assistindo às transmissões do então presidente dos Estados Unidos, dizendo que tudo ficaria bem, que a epidemia seria controlada e todos ficariam a salvo. Bem, não ficaram. Havia um pouco mais de três anos que o mundo havia ido para a puta que pariu, e o digníssimo senhor presidente já devia estar no estomago de um dos mortos a muito tempo.

Mas não ela. Não sabia se estava realmente muito viva, estando ali perto de tantos walkers por dias, até mesmo semanas. A única coisa que sabia era que não estava por ai devorando cérebros humanos como a maioria da população mundial, e isso devia contar para alguma coisa.

Ouviu um grito desesperado soar a distância. Alguns dos walkers perto dela levantar as cabeças deterioradas em resposta ao som. A garota revirou os olhos e começou a correr pela estrada, deixando seus companheiros de viagem para trás.

Virou uma curva na estrada e vislumbrou uma família sendo atacada por 5 daquelas coisas. A mulher, que havia gritado, estava sentada no teto de um carro com um bebê em seus braços, enquanto um homem, que provavelmente era seu marido, estava no chão com dificuldades para matar os walkers.

Correu até a confusão e agarrou um dos mortos pelos ombros e o empurrou para o barranco que ficava fora da estrada, o walker rolou o morro razoavelmente íngreme se despedaçando aos poucos. A garota correu até outro e chutou sua perna, fazendo com que o osso já pobre se quebrasse e o monstro caísse. Esmagou sua cabeça com um pisada de sua bota.

A garota foi para cima de um dos que estava sobre o homem e o derrubou ao chão, ficando por cima do morto de socando sua cara. Não possuía nenhuma arma, havia perdido seu facão em uma de suas explosões de raiva contra aquelas coisas. Por isso, apenas abriu um rombo na cabeça do morto-vivo com socos violentos, enquanto sentia o sangue podre e pegajoso se espalhar por seu rosto e braços.

Se levantou ofegante e viu que o homem havia dado conta de eliminar os dois últimos e estava escorado no capô do carro tentando não vomitar. Ele a viu e arregalou os olhos agradecido pela válida ajuda.

- Muito obrigada. – ele disse, um pouco rouco. Estava branco como papel.

A garota deu de ombros, estreitando os olhos para a mulher sentada trêmula.

Patient Zero (The Walking Dead Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora