Intro- Prólogo (reescrito)

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Já é a terceira noite em claro da semana.
A sétima do mês.
E a octogésima segunda do ano.

Penso duas vezes antes de ir até a cozinha e preparar uma xícara de café, já que eu odeio esse tipo de bebida. Talvez seja melhor pegar apenas uma caixinha de chocolates e voltar para o quarto, enrolando meu corpo no edredom e correndo de volta para minhas anotações.

O penúltimo ano do Ensino Médio já está na reta final, a semana das avaliações está chegando e, junto com ela, férias.
Finalmente.

Não que eu não goste de estudar, pelo contrário, dediquei toda a minha adolescência em livros didáticos e sou até visto como o nerd misterioso do colégio. Férias para mim significam um tempo livre para poder estudar mais.

Mas não são as matérias da escola que me interessam, é algo além, algo muito além.
Meus conhecimentos em matemática, física e ciência são avançados até demais para alguém beirando os dezoito anos, mas mesmo assim, não consigo progredir nem em 1% com o meu experimento desde o último mês.

Quando criança, encontrei uma casa abandonada junto com Jeongguk, meu melhor amigo. Era o nosso lugar, apenas nós conhecíamos, o único lugar onde a gente podia ser livre e aproveitar um tempo juntos. Mas desde que o menino desapareceu, venho usando este espaço como um esconderijo para minha preciosidade, um lugar para esconder a única esperança restante de encontrar meu garoto novamente. Uma Máquina do Tempo.

Só falta uma parte, tenho certeza, apenas uma parte, mas qual?

Se eu pudesse simplesmente correr e pedir umas dicas a Ron Mallet, seria tudo mais fácil, mas o astrofísico infelizmente desistiu de sua invenção— pelo menos é o que sabemos. Comecei seguindo seus passos e depois dei continuidade ao processo. Estou indo bem, progredindo aos poucos nos últimos seis anos, cada vez aumentando mais as esperanças de encontrar Jeongguk.

Porém, nem mesmo um especialista na teoria da relatividade como Mallet conseguiu desvendar o mistério dessa última peça. Por que não funciona? O que eu tenho feito de errado?

"Estudar o tipo de campo gravitacional produzido por um laser anel pode levar a uma nova maneira de olhar para a possibilidade de uma máquina no tempo baseada em um feixe de luz circulante".

Beleza, achei isso na internet, é uma fala dele sobre o assunto, mas?

Mas o que isso quer dizer?? Onde eu encontro um laser anel? O que é um laser anel?

Olho o relógio. 04:30 da manhã em plena segunda-feira, e minha aula começa às 8. Será que consigo pegar no sono e acordar 3 horas depois? Melhor não arriscar.

Continuo estudando no quarto debaixo da escrivaninha, com apenas a luminária acesa. O resto do cômodo é um breu.

Meu corpo já está consumido pelo sono, mas ficarei acordado pelo menos só mais esta noite. Não tenho tempo a perder, 6 anos já foram demais. Jeongguk pode estar precisando de ajuda.

Seja lá onde estiver.

Pisco os olhos com força numa tentativa de ficar acordado e colocar meus pensamentos em ordem. Na minha frente estão imensos rabiscos em folhas de papéis aleatórias, um monte de lixo, canetas Bic que achei perdidas no chão da escola, imagens de experimentos com lasers, embalagens de chocolate e meu diário.

Não é bem um diário, já que minha vida é extremamente monótona e minha escrita é péssima. Mas tenho um caderninho que uso para registrar todo o processo de criação da máquina desde que comecei a construí-la. É bem útil, na verdade, por isso que eu o deixo guardado a sete chaves dentro de uma gaveta da escrivaninha.

Há dias não escrevo uma página sequer. Não tenho nenhum update desde que consegui enviar uma caneta para o futuro, falhando miseravelmente ao tentar trazê-la de volta.

A coitada viajou no tempo e, pelo visto, levou meu cérebro e minha inteligência junto.

Ligo o notebook. A luz branca quase me cega. Odeio claridade, prefiro mil vezes estudar no escuro apenas com a luminária. Depois me pergunto o motivo de ter que usar óculos para leitura, ou talvez eu tenha fotossensibilidade, que piorou quando comecei a mexer com lasers feito um maluco.

Uma reportagem sobre buracos negros me chama atenção, mas, graças ao sono, não consigo nem entender o que está escrito.

Pego meus fones de ouvido e procuro alguma música agitada na minha playlist para dançar no quarto. Isso geralmente levanta meu ânimo e costuma mascarar o sono. É uma ótima tentativa de enganar o próprio corpo.

                                  [...⌛️⏳...]

Acordo em um susto com o toque do celular, logo desgrudando uma folha de papel da cara e procurando o aparelho no meio da minha bagunça.

09:30. Estou atrasado.

Para variar.

Só percebo que não se trata do despertador quando o nome de Jimin aparece na tela.

— É o trânsito, guarda meu lugar— digo, mas a voz de sono me entrega. Além disso, o colégio fica tão perto de casa que nem preciso pegar o carro.

Eu nem sequer tenho carteira de motorista.

Não tem trânsito nenhum hoje, Taehyung. Você acabou de acordar, não é? Eu conheço essa voz.

— Eu...

Passou a noite em claro mais uma vez? Sério, Tae, as provas estão chegando— o tom de preocupação é evidente em sua voz.

— Eu sei, eu sei, prometo que foi a última do ano— Nem eu mesmo acredito nisso.

Quando você vai me contar o que fica fazendo a noite toda? Não confia em mim ainda?

— Ji.... é claro que eu confio, já te disse, quando terminar eu te conto, juro— Pode parecer ridículo, mas levanto o dedinho da mão esquerda mesmo que Jimin, meu melhor amigo que está do outro lado da linha, não consiga ver.

Está bem, vou fingir que acredito. De qualquer forma, anda logo!

A ligação é interrompida. Pego minha mochila e uma barra de cereais e praticamente voo pra fora de casa, ignorando os berros da minha mãe.

Com os fones de ouvido, nem percebo quando alguns garotos começam a rir e a tirar fotos. Continuo seguindo meu caminho sem nem olhar para os lados. Até que acabo por ver meu reflexo no vidro da entrada de uma loja de esquina que vende artigos de decoração. Estou de pijama.

Hoje definitivamente não é o meu dia de sorte.

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