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• Capítulo 13 • [2020]

Segundo o psiquiatra Van Der Kolk, as maiores fontes do sofrimento humano são as mentiras que contamos para nós mesmos.

Se eu pudesse reformular essa frase, diria que as maiores fontes do sofrimento humano são as verdades que ocultamos de nós mesmos.

Tudo isso porque aceitar a realidade é o sentimento mais angustiante que existe, mesmo que, na maioria das vezes, seja o mais necessário.

Existe uma verdade estampada na minha cara, na minha frente, me olhando com aqueles olhinhos brilhantes e curiosos de quem quer aprender e conhecer sobre tudo ao seu redor.

Mas eu me recuso a acreditar.

E talvez essa seja a causa do meu sofrimento, do meu pânico, das minhas noites mal dormidas, da minha preocupação, do meu medo.

Ele é meu medo.

Lá no fundo, bem no fundo, eu sei que eu e Jeongguk nunca teremos a mesma relação que tínhamos antes.

Anos se passaram, nós não somos mais crianças. Não tivemos contato, não tivemos convivência, não fizemos parte do crescimento um do outro.

E ele nem se lembra do pouco tempo em que passamos juntos.

Nunca será a mesma coisa, mas eu me recuso a acreditar nisso.

Porque é sempre mais fácil se iludir com uma realidade alternativa onde tudo dê certo, onde tudo aconteça da forma que você quer, sem desafios, sem obstáculos.

É muito mais fácil fugir para uma realidade alternativa porque a minha realidade neste universo é cheia e completa de complicações.

Existe um Kim Taehyung dentro de mim que não é tão emocionado como o que eu demonstro quando estou sozinho ou com Jimin. Existe uma personalidade objetiva, inteligente, capaz de elaborar os melhores planos e as melhores máquinas, capaz de ler as outras pessoas sem que elas percebam que eu estou dando atenção a elas. Existe esse ser humano dentro de mim.

E ele está me dizendo constantemente que não adianta.

Não tem como.

Por mais que eu passe anos tentando descobrir o que aconteceu com as memórias de Jeongguk, tentando recuperá-las, talvez eu nunca consiga.

E é por isso que eu me desespero cada vez mais para conseguir respostas que talvez nem existam.

"Me prometa, Tae, que caso eu nunca me lembre de nada, você vai continuar do meu lado".

Jeongguk me fez prometer que eu cuidaria dele, que eu o adaptaria ao meu mundo, que eu faria com que ele vivesse uma vida normal mesmo sem um passado.

Existe vida sem um passado? Continuo perguntando a mim mesmo.

Jimin brigou comigo na outra semana. Aparentemente, eu despertei um certo nível de preocupação no meu melhor amigo que o deixou louco.

Era quarta-feira, e estávamos finalmente no colégio, fazendo as provas finais do ano, que foram adiadas devido às maluquices do Universo. Olheiras cobriam meus olhos, e eu quase dormi no meio da prova. Jimin me levou para casa, conversou a sós com Jeongguk e os dois se revezaram para me pressionarem a dormir e acordar apenas quinze horas depois.

Dormi por mais de vinte e olhe lá.

Quando acordei, Jimin ainda estava em casa, comendo algum tipo de salgadinho que eu nunca tinha visto antes, junto com Jeongguk. Coxinha de frango, ele dissera. Era brasileiro. O loirinho gritou comigo, jogou na minha cara que eu sou apenas um adolescente de quase dezoito anos (dezenove na Coréia, mas tudo bem), que tem obrigações, que tem família, que tem melhores amigos e uma vida escolar para tocar para frente.

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