20:14 (reescrito)

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Capítulo 6 [2805]

Descobri que não posso deixar Jimin sozinho em um século em que não pertencemos. Durante a última hora, ele já caiu do bendito skate voador pelo menos umas três vezes, além de quase ser atropelado porque estava prestando atenção demais na pipoca colorida que roubou de uma criança sem que ela percebesse.

— Estou perdido com um criminoso— solto, observando a cena em minha frente. Jimin está flutuando sentado em cima do objeto enquanto enche a palma da mão com pipocas neon e enfia tudo de uma vez na boca. Ele parece alucinado demais com a cidade ao seu redor, sem nem desviar o olhar para mim.

— E eu perdido com um astrofísico burro. Se você não tivesse errado o cálculo da velocidade, eu não estaria precisando roubar comida para sobreviver.

Ele tem um ponto. Mais uma vez, nos deixei jogados em algum lugar aleatório do espaço-tempo porque não calculei corretamente a velocidade da máquina. Resultado: perdidos em 2805.

Sem o controle.

E sem a máquina.

Sim, sem a máquina. Se em 1897 já foi difícil encontrá-la, mesmo que estivesse debaixo do solo, aqui vai ser pior ainda. 2805 é bem depois de eu ter criado o protótipo, alguém pode ter o encontrado e retirado do esconderijo onde eu o deixava. A casa provavelmente não existe mais; se ninguém a demoliu, então as chuvas e o próprio tempo a destruiram.

Será que é o nosso fim?

— O que disse?— ouço Jimin perguntar com a boca ainda cheia de pipoca.

— Nada, só estava pensando.

— Quer um pouquinho?— ele estica o pacote na minha direção.

Ew, não. Você devia se olhar no espelho, está com os dentes todos fosforescentes.

— Sério?

Confirmo com a cabeça.

— Será que eles brilham no escuro?— ele pergunta, sorrindo abertamente.

Eu provavelmente acharia graça na fala dele se não estivesse tão encrencado. Como Jimin parece tão calmo diante de tudo o que está acontecendo? Diante de todas as coisas ao nosso redor? Como?

Minha cabeça nunca esteve tão lotada de questionamentos como estão agora. E isso que eu já passei anos e anos construindo uma máquina do tempo e me perguntando o que aconteceu com o meu Jeongguk.

Só que agora, não sei nem o que aconteceu comigo mesmo. Não sei como vou fazer para voltar pra casa, não sei onde está a minha máquina, não sei.

Pelo menos uma coisa eu já consegui esclarecer um pouco na minha mente: o motivo da lixeira ambulante ter ouvido nossas vozes. A real é que objetos de outros séculos também sofrem com a nossa presença. O que eu quero dizer é que, mesmo não existindo aqui, nós podemos tocá-los, comê-los, e qualquer outra coisa.

Agora... as pessoas...

Continuamos sendo completamente ignorados por todo mundo que passa nas ruas, da mesma forma que aconteceu quando estávamos em 1897, sem que ninguém sinta a nossa presença.

Nostalgia ➟ taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora