Quando a neve caía ao chão, tingindo de branco a imensidão verde do território da matilha, era quando Kim Taehyung podia ser ele mesmo. Os ventos gélidos de Lua Cheia, apesar de serem os seus favoritos, contrapunham o que residia em seu corpo: uma c...
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Queimava como fogo, brasas ardentes contra a pele sensível de uma criança, rasgando-a até o ponto onde a dor não era mais uma simples e corriqueira dor ㅡ essa era a sensação de respirar em meio aquele denso e corrompido ar. Essa era a punição daqueles os quais os pés tocavam o solo deturpado de uma terra que um dia fora chamada de lar, mas que hoje não passava de um montante de ruínas inanes.
As árvores não eram verdes, as flores não tinham aroma, o vento feria e as pessoas não possuíam vida. Todas movidas pela sede insaciável de perfeição, matando todo rastro de vitalidade que um dia ousou existir no grandioso e único planeta terra. Transformando em poluição o que um dia foi puro e límpido.
Tudo era cinza.
Como as borras da madeira que queimavam para que pudessem construir suas enormes moradas metálicas, bem climatizadas em seu interior para que, mesmo que por míseras horas, pudessem esquecer do peso que era lidar com a atmosfera externa.
Era doloroso de ver, concluiu o lobo de pelagem escura como as noites mal iluminadas, já que nem o sol brilhava tão intensamente, fadando os ventos noturnos a vagarem sós pelas ruelas solitárias. Seus olhos ㅡ diferente de tal estrela ㅡ brilhavam intensamente, transbordando raiva e mágoa por ver o mundo que um dia fora belo e vívido, tão morto quantos os milhares de cadáveres que eram jogados ao solo diariamente, mortos de fome por falta de recursos. Abandonados pela terra da mesma forma que fizeram há alguns anos com ela, fadando-a ao seu fim.
Ele lamentou, uma vocalização aguda repleta de agonia, cambaleando por alguns segundos antes de finalmente deitar-se, fazendo o possível para acalmar o coração que batia forte contra seu peito, influenciando-o a cometer um ato impensado sem ao menos comunicar os outros. Mas antes que o fizesse, a presença surgiu ao seu lado, como um feixe. Quando a fitou, não havia forma, apenas luz.
ㅡ Senti cheiro de perigo eminente, presumi que fosse você. ㅡ a voz doce ecoou de forma triste, apesar de animada. Ficavam assim ao olhar para o planeta. ㅡ Oh... Entendi...
ㅡ É deprimente, não é? ㅡ o som gutural fez o feixe tremular. ㅡ Eu os dei tudo... Eles poderiam viver felizes, mas preferiram sucumbir à ganância como se ela fosse encher seus estômagos podres.
ㅡ São apenas crianças, alfa... Não culpe-os por trilhar os caminhos errados se não se deu ao dispor de mostrar-lhes o certo.
O lobo bufou, não discordando, pois sabia de sua parcela de culpa sobre o destino cruel ao qual sua criação havia sido confiada. Ele sabia que havia falhado como deus, como guardião e como alfa; havia fechado os olhos que tudo vêem, confiando veementemente em sua percepção obsoleta que dizia que eles saberiam o que fazer. Mas eles eram apenas crianças... E precisavam de um caminho para trilhar. Um bom caminho.
E agora, não tinham nenhum.
O dono dos orbes vermelhos pôs-se de pé, caminhando na direção contrária da que estava o cegante feixe de luz, deixando-o só, iluminando a imensidão enfeitada por pontos prateados. Até que, assim como ele veio, se foi.
