01 | Dormi com o meu chefe.

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"Samantha o que te faz viver?" Minha companheira de cela pergunta enquanto termina de limpar uma unha da mão direita.

Pensei, repensei e pensei mais uma vez. Para qualquer garota normal essa pergunta seria fútil e fácil de responder, mais para qualquer uma das meninas que estão aqui, que são obrigadas a se prostituir, é uma pergunta a se pensar.

"Não sei." Respondi pensativa.

"Como assim você não sabe?" Perguntou enquanto levantava e ia em direção ao mini espelho.

"Ue Jess, eu só não sei. Talvez a vida?" Levantei a sobrancelha esquerda olhando-a enquanto ela olhava em direção aos seus seios.

Jessica era uma menina linda e inteligente, tinha a mesma idade que eu e chegou nesse inferno no mesmo tempo que eu. Jess era minha companheira de cela a dois anos sofremos muito juntas,rimos e sempre ajudamos uma a outra. Posso dizer que ela foi a melhor coisa que me aconteceu aqui até hoje, uma irmã.

"Você realmente é uma pensadora contemporânea Sam" disse jogando uma almofada em mim.

"Idiota." Sorri.

"Sam, o que você vai fazer?" Perguntou seriamente.

"Em relação ao que?"

"Seu aniversário é daqui a dois dias." Falou em um tom triste.

"Eu tenho escolha?" Perguntei já convicta da resposta.

"Sabemos que não." Abaixou a cabeça.

De costume o tempo demora a passar aqui dentro, digamos que é uma eternidade, aí quando não é para o tempo passar rápido ele passa voando.

"Vocês ainda estão assim suas inúteis?" Ouvi uma voz grossa perguntar alto enquanto a porta da cela se abre.

"Nossa que ótimo." disse irônica.

"O que você disse sua imunda?" Vanda perguntou se aproximando.

"Ela não disse nada" Jess disse.

"Acho bom mesmo." Vanda sorriu vitoriosa.

"Na verdade senhorita, eu disse sim." Ironizei.

"E o que você disse vagabunda?" Falou ela se aproximando cada vez mais.

"Então você é surda? Eu falei, nossa que ótimo" debochei "Você entra aqui e praticamente grita dentro do nosso ouvido fazendo uma pergunta estúpida sendo que você sabe a resposta. Não tenho culpa senhorita que além de surda é mal amada, e que agora precisa de óculos também"

"Olha aqui garotinha." Vanda disse alterando o tom de voz.

"Olha aqui o que?" Enfrentei "Olha aqui você, vai me bater?" Sorri sarcástica "Te enxerga velhota, Chay disse que avisaria pelo auto falante quando for a hora de todas se arrumarem"

"Chay?" Sorriu ela sarcástica "Pra você é senhor Chay. Que intimidade toda é essa sua vadia?" Encarou-me.

"Sabe de nada coitada." Debochei mais uma vez.

"Do que você esta falando?" Perguntou incrédula.

"Ta por fora mesmo em velhota, sim, isso mesmo, é o que você ta pensando, eu dormi com o chefe, na verdade, nem dormimos, você sabe bem o que rolou" sorri gostando da situação.

"Sua vagabunda"

Ela realmente me surpreendeu, eu sabia que ela gostava dele mais nem tanto assim, não ao ponto de me bater e me deixar com o rosto vermelho. Chay era o chefe, não o chefão,é claro, se fosse o chefão eu faria qualquer coisa e já estaria longe daqui. Chay é o sub chefe, o que substitui os dois, o chefão e o chefinho, isso mesmo vem depois dos dois. Adorava provocar a Vanda, ela nunca tinha reagido, não daquela forma, de certeza, nós odiávamos, ela era completamente louca por Chay e ele não estava nem aí para ela. Eu realmente falei com a intenção de que rolou mais que sexo, até porque Chay já dormiu com quase todas as garotas eu era só mais uma.

Não reagi, até porque fizeram isso por mim, fiquei pasma com a mão direita na minha bochecha. Josh um dos seguranças apareceu com mais dois caras altos e a segurou a tempo para ela não fazer mais estragos.

"Você é louca velhote" falei em um tom sarcástico.

"Eu vou te matar vagabunda" gritava enquanto tentava se soltar.

"Pode vim, você irá ta fazendo um favor"

"Samantha" repreendeu Jessica.

"O que ta acontecendo aqui? Vocês estão loucas?" Ouvi uma voz conhecida.. Chay.

"Me solta" gritou Vanda aos seguranças

"Solta ela" ordenou Chay. "E aí, podem explicar ou ta difícil?"

"Essa vadia começou"
"Essa velhote começou" falamos juntas

"Calem a boca" ordenou gritando "Jessica" olhou em direção a Jess.

"Senhor, Vanda entrou.."

"Senhora Vanda" interrompeu Vanda.

"Vanda" Chay encarou ela "Cala a boca"

"Como eu ia dizendo, a Vanda ou senhora Vanda, entrou e ordenou que nos arrumássemos Samantha lhe chamou de Chay e a sr.V surtou e deu um tapa na Cara da Sam deixando-a com o rosto vermelho, como o senhor por ver." Jessica explicou.

"Vanda para o meu escritório"

"Mas" Vanda interrompeu.

"Agora" ordenou sério.

Ela saiu da cela.

"E vocês se arrumem, agora" ordenou Chay se retirando com o seguranças e os dois caras altos

"Definitivamente você me deixou como vítima" sorri a Jessica.

"E definitivamente você mereceu esse tapa" sorriu ela indo se arrumar

Depois de passar dois anos naquele lugar imundo só vendo as mesmas pessoas, algumas diferentes, aprendi a não ter tanto medo deles, não tanto de Chay, ele era uma pessoa boa, as vezes, não só na cama. Tá, temos sim que ter medo deles, mas Chay era diferente, não era tão mal assim, não como os outros, eu nunca conheci o chefão ele nunca deu as caras por aqui, o chefinho só vi uma ou duas vezes, nós primeiros meses que passei aqui.

Perdi minha virgindade aqui, adoeci, já fui faxineira, cozinheira entre outras coisas aqui, sofri o bastante para duas vidas, até mesmo três. As pessoas reclamam quando tem coisas boas ao redor, mal sabem elas que existem pessoas que estão praticamente no inferno. Literalmente.

Enquanto nos, bom.. Somos escravas, somos obrigadas a fazer sexo, não só sexo, as prostitutas posso até dizer que elas têm sorte, elas ganham o dinheiro e ficam para elas, já a gente.. Nunca vimos a cor do dinheiro que ralamos para ter. Se não fazermos o que eles mandam ou até mesmo questionar, sofremos consequências do tipo ou eles matam alguém da família ou matam a gente.

Na minha situação, tanto faz, não tenho família, não que eu saiba. Cresci no orfanato, até alguém que eu não sei quem, porque se um dia eu descobrir vou me vingar, me adotou e me trouxe para esse lixo.

"Nossa Sam, se vingar de alguém que salvou sua vida lhe tirou de um orfanato. Sério? Salvou minha vida? Me tirando de um orfanato onde digamos tinha uma família e não sofria o que sofro aqui. A pessoa me tira de um orfanato, me engana e me trás para um cabaré onde eu tenho que dar o meu corpo e sou só mais uma vadia, ótimo, como vou agradecer a uma pessoa que fez isso comigo? Ta de parabéns."

Agora.. Vou colocar o meu melhor batom e sorrir, porque a noite, está só começando. Infelizmente.

TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora