2.1 Raio

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"Raio: o raio simboliza uma bipolaridade, de um lado com um poder criador e de outro um poder destruidor. O raio gera e destrói ao mesmo tempo, é a vida e a morte, o significado do duplo gume do machado. As simbologias do raio, do relâmpago e do trovão estão associadas e remetem frequentemente ao medo, à uma força violenta e fulminante, mas que por vezes também é benéfica. O raio é a criação que surge do nada, em estado ainda caótico ou que se anula num incêndio apocalíptico. Apesar de simbolizar uma intervenção súbita e brutal vinda do céu, o seu simbolismo é bastante distinto do simbolismo das estrelas, por exemplo, pois enquanto o raio é uma descarga violenta de energia, a estrela é uma energia acumulada."

- iris -

"Quem é você?" Uma voz perfeitamente equiparada à figura reage perante a minha presença ausente deixada na surpresa tremida pelo que se encontrava à minha frente. "Uhm" - gaguejei - "o Luke está?" "Aqui não mora nenhum Luke. Com licença." Dito isto, a porta foi fechada na minha cara.

Demorei algum tempo a digerir o que acabara de ouvir. Não fazia sentido. Como podia o homem alto responder-me tal coisa? Olhei a toda a volta e aquela era definitivamente a casa onde o Luke me havia levado há alguns dias; a casa que proclamava sua. Decidi bater, novamente, à porta, arriscando-me a uma reação pouco ortodoxa por parte do homem sisudo que se escondia por trás das espessas paredes pálidas. "Já lhe disse que aqui não mora nehum Luke." - respondeu, já exaltado. "Não querendo ser impertinente, eu tenho a certeza que aqui mora um Luke. Luke Hemmings. Eu já estive nesta precisa casa com ele. Como pode dizer-me que estou equivocada?" "Olhe, menina, eu não sei quem você pensa que é, mas se veio aqui para negar algo sobre a minha própria vida, volte para de onde veio e desapareça da minha frente." O homem voltou a fechar a porta na minha cara, desta vez com o dobro da violência. Sabia que voltar a bater à porta seria passar todos os limites e, não me querendo envolver em quezílias graves, afastei-me; virei costas à casa que tão bem gravada na minha memória estava e segui caminho até casa, ignorando por completo a única aula que tomava lugar no fim da tarde. Moía o juízo com toda esta situação. Estava a sentir-me estranha, confusa, perdida, se assim o posso expôr, com toda esta questão. Como assim ali não mora nenhum Luke? Eu estive ali com o Luke, estive no quarto dele. Eu sei. Algo grave havia acontecido. O homem que abrira porta tinha todo o formato e feitio para ser o tão complexo pai do Luke, aquele pai que tudo o que fazia era criar desavenças e deitar o Luke abaixo. Aquele ser gélido havia magoado o Luke já por várias vezes e eu sei que a saga se repetiu, porém com maior gravidade, aparentemente. Peguei no telemóvel e liguei-lhe pela milésima vez e, pela milésima vez, fui ignorada e, face este desaparecimento súbito, o meu lado responsável pelo desespero mostrava a cara e fazia-me pensar se haveria alguém que pudesse saber do Luke. Após um relativamente longo caminho, cheguei a casa. Passei o portão de entrada e nem me dei ao trabalho de entrar dentro das quatro paredes: dirigi-me ao ao jardim e sentei-me no banco de balouço por baixo das nuvens que impediam o sol de contrariar a brisa gelada que agredia a minha pele. Do banco era possível ver o horizonte da cidade, era um vista plana, tirando meia dúzia de árvores que se impunham e um cabo elétrico. Ao longe, no centro daquele horizonte, observei um raio - trovoada - e logo me ocorreu, como a apaixonada que sou, uma coisa somente.

"O raio simboliza uma bipolaridade, de um lado com um poder criador e de outro um poder destruidor. O raio gera e destrói ao mesmo tempo, é a vida e a morte, o significado do duplo gume do machado. As simbologias do raio, do relâmpago e do trovão estão associadas e remetem frequentemente ao medo, à uma força violenta e fulminante, mas que por vezes também é benéfica. O raio é a criação que surge do nada, em estado ainda caótico ou que se anula num incêndio apocalíptico. Apesar de simbolizar uma intervenção súbita e brutal vinda do céu, o seu simbolismo é bastante distinto do simbolismo das estrelas, por exemplo, pois enquanto o raio é uma descarga violenta de energia, a estrela é uma energia acumulada."

As simbologias do raio e do trovão eram as minhas favoritas. Sempre foram, desde que me empenhei no estudo dos significados simbólicos. Eu tinha um pódio, na verdade: o raio, a noite e a lua. Sem qualquer relação entre eles, eu identificava-me com cada um dos significados.

O tempo passava e a brisa também se intensificava, pelo que decidi abandonar o posto de cógito e dirigir-me ao interior da casa. Entrei, obviamente, pela porta traseira do salão e fui capaz de escutar duas vozes em tom preocupado a falar de um assunto que soava sério. "Ela tem que saber, não achas? Será pior se for apanhada de surpresa!" Dirigi-me à cozinha, apanhando a última frase a ser exclamada pela boca da Stacy. Para minha surpresa, a pessoa com quem a Stacy dialogava era o meu tio. "Tio?" "Olá... Iris!" - era tão notável a sua naturalidade forçada como a preocupação que jorrava dos seus olhos. "Pensei que a viagem era de duas semanas." "E era, mas o Claude teve um problema e teve que voltar mais cedo." "Quem parece estar com um problema são vocês, que raio de conversa é que estavam a ter?" Ambos se entreolharam e aí percebi que algo estava mal. E era relacionado comigo. "Vão desembuchar?" - insisti. "Talvez te queiras sentar ali no salão."Caminhei atrás deles até ao salão, sentindo já o eu batimento cardíaco a acelerar. Por alguma razão idiotica, uma pequena parte de mim achava que o meu tio me ia esclarecer o que se passava com o Luke; uma ínfima parte de mim acreditava que ele saberia o que se passava com o Luke. "Eu vim mais cedo para casa porque a Stacy recebeu ontem uma chamada desagradável." "Terás que explicar melhor, não percebi."

Depois de um profundo suspiro, o meu tio encheu simultaneamente de ar e de coragem e falou. "O teu pai telefonou aqui para casa e exigiu que voltasses para casa. Caso contrário, ele virá até aqui. E desta vez não é apenas uma ameaça. Já tentei entrar em contacto com ele, mas até agora tem sido impossível."

Assim que o meu tio terminou a primeira frase, o cérebro desligou automaticamente e o meu lado irracional veio ao de cima. A minha vontade? Falar naquele preciso momento com os meus pais e dizer-lhes o que há tanto tenho acumulado, mas por outro lado incidia ainda mais a vontade de os apagar por completo da minha memória. Senti que o mundo havia desabado sobre os meus ombros ao imaginar, sequer, a possibilidade de encarar pessoalmente os meus pais depois de tanto que passei. Pesava ainda mais imaginar a possibilidade de regressar às terras germânicas. "Vou até ao meu quarto. Com licença." "Iris..."

Levantei-me, ignorando por completo a chamada ternurenta do meu tio, e segui caminho até ao quarto. Eu nunca fui pessoa de chorar, na verdade. Talvez fosse possível contar pelos dedos as vezes que chorei na minha vida. Contudo, naquele instante, assim que o trinco da porta encaixou na devida zona, duas torneiras se instalaram no meu rosto e escorria água salgada pelas minhas faces. Tirei o telemóvel da mala na ignorante esperança de que o Luke sentiria algo empático e entenderia que eu precisava que ele atendesse o telemóvel, mas novamente caí na esparrela e uma voz feminina a encaminhar-me para o voicemail foi tudo a que tive direito.

Depois de uns minutos sentada na cama, sequei as lágrimas e saí do quarto, de mala na mão. "Iris, onde vais? Está quase na hora de jantar." "Não tenho fome. Preciso de sair. Não esperem acordados." Tomei rumo em direção ao único bar onde gostava de estar e onde serviam as melhores bebidas, o Eclipse. Numa velocidade desenfreada, cheguei ao bar. Estava lotado, repleto de fumo e conversas cruzadas em tons elevados devido à música típica de ambientes noturnos. Apenas podia pensar em apagar por algumas horas os sucedidos através de quantidades abusivas de compostos orgânicos com hidroxilas que deslizam na garganta e ardem no estômago. O álcool era a minha borracha. O álcool e a droga, mas a única pessoa que me poderia arranjar alguma coisa seria o Luke e esse, bem, desapareceu.

A pedido, o dono do bar colocou uma mesa e uma cadeira num canto desocupado do bar e aí me sentei, acendendo um cigarro após ter pedido um gin tónico. Ali fiquei, na noção de que iria passar um bom bocado, sem ter a mínima ideia de como iria para casa. "Iris?!"

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n/a: olá malta, espero que gostem e tal. estou honestamente a pensar fazer uma segunda temporada desta história mas possivelmente nao irá acontecer pq sou preguiçosa q dói eh, logo se vê. bjinhux e obg por lerem, u rule

btw, juro que os capítulos em nome do luke estão para breve, dont stress

Crash // l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora