1.9 Anel

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"Anel: O anel é um símbolo ambivalente uma vez que em seu aspecto positivo pode simbolizar a ligação, a união, a partilha."

- iris -

Passar os quinze minutos do pequeno almoço a ouvir a Stacy a falar sobre o Luke não era exatamente a minha maneira favorita de começar o dia, ainda para mais um dia que começara demasiado cedo. "Porque não o convidaste para tomar o pequeno almoço, querida?" "Eu convidei mas ele tinha mais que fazer." "Mas o pequeno almoço não demora nada!" "Havia também a possibilidade de se engasgar por ter que estar constantemente a responder às tuas perguntas." "Pronto, já não está quem falou." Esperavam-me duas semanas só com a Stacy, pois o meu tio tinha ido numa viagem sobre a qual eu nada sabia pois os meus níveis de concentração eram extremamente inconstantes, principalmente quando era a Stacy a falar.  Provavelmente o meu tio havia falado desta viagem mas confesso que assuntos banais não eram do meu interesse. Nem assuntos banais nem acordar às 9:40 da manhã; era óbvio que acordar cedo estava bem presente na minha lista dos turn offs, mas o facto de ter acordado com o Luke no meu quarto foi algo que me deixou, digamos, alegre. Não alegre, alegre é uma palavra que me fere pela quantidade abusiva de estrogénio (metaforicamente falando) que carrega. Digamos de me deixava blah. Exatamente, blah. O Luke tinha um efeito blah em mim; demasiado blah, na minha opinião.

Acabado o pequeno almoço no qual me limitava a ouvir a Stacy contar episódios das tardes que passava com as amigas - lembra totalmente uma adolescente - que consistiam em dramas e coisas afins, fui até ao jardim e sentei-me num banco de baloiço, se assim lhe posso chamar, que estava na parte de trás do quintal. Lembro-me quando eu tinha uns 11 anos, ainda estava em casa dos meus pais, viajámos umas duas ou três vezes até aqui e o meu tio ia buscar a viola e punhamo-nos os dois aqui a cantar versões acústicas de músicas dos Black Sabbath e dos Lynyrd Skynyrd - bandas que apenas comecei ouvi porque o meu tio me recomendou e implementou, assim, em mim, o espírito do rock, feito pelo qual estou agradecida. Estava disposta a pedinchar um momento assim mal o meu tio regressasse da viagem; as saudades apertavam ao relembrar aqueles momentos simples mas que me deixavam tão feliz. 


✺✺✺


Já passava bem da hora de almoço: eram 14:40h, e tinha acabado de ingerir o último pedaço da lasanha maravilhosa que a Stacy havia feito (o único prato decente que ela sabia fazer, na verdade) e dirigi-me ao meu quarto, totalmente na disposição de pintar; a noite anterior havia-me deixado com imensa inspiração para manchar duas ou três telas e isso eram moods de aproveitar, sem dúvida. Após ajudar a Stacy a arrumar as coisas na cozinha, dirigi-me ao meu quarto e peguei prontamente nos pincéis que jaziam passivamente na zona dos materiais de pintura. Atei o cabelo - o que era uma tarefa algo complicada pois o meu cabelo era curto - e tracei a tela com uma linha preta. Continuei o meu desenho, desligada da realidade que me rodeava até que caí a pique na mesma, através de uns golpes no vidro da porta que dava acesso à varanda. "Luke?" - soltei, assim que abri a porta. "Vem até minha casa." "Porquê? Apanhaste-me um bocado desprevenida." "O que combinamos ontem à noite! Bem, não ficou bem combinado, mas não interessa, anda." "Uh?" "A droga?!" - ele exclamou de forma a que se acendesse uma luzinha no meu cérebro. E resultou. Nada mais foi preciso ser dito, pois soltei o cabelo, vesti um casaco e dirigi-me com o Luke escadas a baixo. Informei a Stacy de que ia sair e assim que bati a porta de entrada, a minha vontade foi correr. A nostalgia de fumar erva possuía-me e estava ansiosa por dar os merecidos bafos no charro que me esperava em casa do Luke. Só esperava não estar demasiado enferrujada. Passados uns 15 minutos, em passo acelerado, estavamos em casa dele. Ele olhava a toda a volta, como que à procura de algo. "Passa-se algo?" "Estava só a verificar que o carro do meu pai não estava cá, não quero que fiques atormentada." Sorri e segui-o para dentro da casa. Era um momento histórico: a primeira vez que entrava na casa dele. Era bonita vista de fora, porém o interior não se ficava nada atrás. As paredes estavam revestidas de um tom de champanhe belíssimo e a parede à direita da porta estava coberta de fotografias do que outrora fora uma família feliz, presumia. Ele não se dignava a fazer a mínima apresentação da casa, mas eu ia captando à medida que examinava: à esquerda, estava uma bonita sala de estar, com um plasma e sofás de pele brancos, cujo chão era tapado por tapetes com padrões egípcios. Uma estante enorme, cheia de livros estava encostada às escadas que guiavam ao andar de cima, para onde nos dirigimos. O quarto do Luke era a última porta à esquerda e assim que entrámos, olhei para todos os cantos e devo admitir que fiquei apaixonada pelo quarto: tinha uma parede preta e três brancas; uma cama larga ocupava o centro do quarto e à frente da mesma estava um plasma incorporado na parede. No canto do lado esquerdo estava uma secretária de tom castanho claro completamente desarrumada e uma viola castanha clara também. Ainda do lado esquerdo, ao fundo, estava uma janela enorme. Do lado da porta, lado direito, estava um roupeiro também incorporado na parede.  "Já examinaste o meu quarto?" "Já, está aprovado." "Ainda bem. Podes sentar-te enquanto enrolo." Sentei-me na cama e sentou-me ao meu lado. Trazia um pequeno saco com erva, um cigarro, um pack de mortalhas e cartão, para fazer o filtro. "Eu acho que ainda sei fazer o filtro, posso tentar." Ele deu-me o cartão para a mão enquanto ele fazia a "sopa", isto é, misturava a erva com o tabaco num tabuleiro improvisado - um livro de matemática - e ia soltando umas gargalhadas esporádicas perante as minhas expressões faciais. Passados uns instantes, entreguei-lhe o filtro e ele enrolou, em L, para ser maior do que apenas com uma mortalha. "Ai, olha aí que eu já perdi o andamento nestas coisas." "Oh, anda lá, vai saber bem." "Não há problema de o teu quarto ficar a cheirar a erva?" "Nunca ninguém entra aqui. A minha mãe não passa tempo nenhum em casa e o meu pai mal se aproxima de mim." Coloquei a mão no seu ombro em jeito amigável, ainda que constrangedor. "Vamos lá acender isso e afogar as mágoas." Ele colocou o charro nos lábios - lábios apetecíveis, diga-se - e chegou-lhe a chama do isqueiro. Eu olhava para aquilo como um lobo faminto; ninguém entendia a vontade que eu tinha de ficar fora de mim, fora da realidade, ficar alterada, alucinada, feliz. Ainda para mais ao lado do Luke. Ele deu três bafos e passou-ma. Assim que a encostei aos meus lábios fui feliz. Dei três bafos e passei e assim sucessivamente até os efeitos se começarem a sentir. Eu, como sempre, começava a fechar cada mais os olhos até ficar, como diziam os meus parceiros da droga lá em Inglaterra, "com os mínimos", sentia a cabeça a levantar voo e ria descontroladamente. Os efeitos no Luke, que chegaram mais tardiamente, eram fenomenais: era o tipo de drogado filósofo, assim que o cenário era nada mais nada menos do que um filósofo a falar sobre grandes assuntos da vida - de forma completamente absurda e incapaz de se entender - para uma pessoa que não conseguia para de rir. Deitámo-nos os dois na cama a olhar para o teto. "Põe música" - pedi. "Acho que não me consigo mexer." Ri-me descabidamente e levantei-me para escolher uma música no portátil que estava em cima da secretária. A música que tocava era a Black Betty pelos Spiderbait, música esta escolhida totalmente ao acaso porque o meu cérebro estava demasiado aéreo para se concentrar nas ações que realizava. 

A sensação de leveza e de paz eram coisas das quais havia sentido imensa falta e não podia estar mais feliz por me sentir tão livre. Olhava o rosto do Luke, de olhos vermelhos, sorrisos esboçados de vez em quando porém de rosto pensativo vestido, sempre. Olhava-o sem pensar em nada; ele, deitado, de barriga para cima, sem mover os olhos do teto, e eu sentada numa cadeira, a olhá-lo e a deixar a música penetrar suavemente os meus ouvidos.

Repentinamente, ele levantou-se e saiu do quarto, enquanto eu permaneci na cadeira sem mexer um músculo, somente a ouvir a música que repetia vezes sem conta. Passados uns segundos, o Luke regressou com um pacote de batatas fritas na mão e disse que sempre que fumava erva, ficava com uma vontade incontrolável de comer batatas fritas. "Luke." "Sim?" "Apetece-me passear." "Queres ir passear?" "Sim." "Então vamos." Ele levantou-se e estendeu-me a mão; demos as mãos e saímos de casa. Ele levava o pacote de batatas fritas na mão e eu levava uma garrafa de água, que era indispensável. Tartamudeámos durante uns minutos mas já estávamos cansados, pelo que nos deitámos na relva de um parque a olhar o céu coberto de nuvens.

"As nuvens fascinam-me. Parece que escondem segredos." Desatei a rir com a observação do Luke e colei o olhar nos seus lábios. Foda-se, porque é que tinha que pensar tanto em beijá-lo? na tentativa de combater a vontade enorme de unir os nossos lábios, encostei a minha cabeça ao seu peito, deitei o braço por cima do seu tronco e, antes que me pudesse aperceber, adormeci.


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n/a: espero q gostem e essas merdas, já sabem, comentem e votem, se gostarem. podem deixar comentários muito negativos q idc, vou ler e adorar, big luv

espero especialmente que a luizacweber goste pq está-lhe dedicado este maravilhoso e alucinado capítulo (sim lembrei-me, uma salva de palmas pf). és uma fofa e obg por comentares e votares, ilysm e espero nao desiludir com o rumo da fic, big luv para ti, linda

Crash // l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora