1.5 Satanás

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"Satanás: simboliza o inferno em oposição ao céu, é uma representação do mal, das trevas, do desconhecido, da morte e do azar. Satanás simboliza o puro mal e a tentação, ele é o mestre do engano."

- luke -

"Tu foste a casa dela às 3 da manhã?" "Em tanta informação importante, foi essa a única que reteste?" Olhei de forma cansada o rosto parcialmente escondido por trás de caracóis da cor do mel e dei mais um gole na cerveja que pousava na mesa escura do bar. "Desculpa, eu sei que o facto de o Michael ter ido à escola é mais importante, mas compreende que fiquei surpreso por teres invadido a casa da tua colega às 3 da manhã! De qualquer forma, explica essa história do Michael." "Ele foi buscar o Calum à escola e, pelos vistos, a mim também. Eles disseram que agora não há volta a dar e não posso simplesmente 'sair'" - aleguei, fazendo gestos de aspas com as mãos no verbo 'sair'. "O Calum não te fala disso na escola?" "Não, ele praticamente não fala comigo, eu costumo estar com a Iris. Ah, e o Michael, aparentemente, já teve um encontro com a Iris. Só não lhe fui às trombas porque sei que ele tem mais força do que eu." O Ashton bebeu o resto da cerveja de uma vez e olhou-me, contendo-se ao máximo para não gargalhar. "Desde quando é que bates em alguém por causa de uma rapariga?" Dei mais um gole na minha cerveja e desviei o olhar, deixando pairar no ar uma pergunta que ambos sabíamos que tinha muito sentido retórico. Porém, a questão residia aí mesmo: eu estava disposto a bater ao Michael por uma questão de posse. Eu sonhei em socar cada centímetro da cara do Michael meramente porque ele afirmou que já se havia encontrado com a Iris. Eu era incapaz de me reconhecer a mim próprio. O eu que transmitia à Iris era totalmente diferente do meu eu do quotidiano - eu esse já construído em detrimento da árdua realidade que eu já havia enfrentado - ; era diferente do eu que transmitia ao Ashton; era diferente do eu que transmitia ao meu pai e diferente do eu que transmitia à minha mãe; era diferente do eu que transmitia na escola; era diferente do eu que transmitia à Danielle; era diferente do eu que transmitia ao Michael e ao Calum. Eu era (ou havia-me tornado) assumidamente multifacetado e despersonalizado. Vejo no meu reflexo um ser altamente fragmentado e não sabia até que ponto isso era prejudicial não só para mim mas também para as pessoas que significavam algo para mim: o Ashton e a Iris. Especialmente a Iris, porque o Ashton já passou por muito comigo. Eu poderia mencionar a minha mãe, que era definitivamente gente importante para mim, mas não sei se é correcto uma vez que já ambos nos magoamos mutuamente; eu pelo ser fragmentado que sou e ela pelo ser cobarde e egoísta que é.

Eu era incapaz de ser o meu eu habitual com a Iris, o que me faz parecer um falso ou hipócrita ou cínico, mas, na verdade, eu era incapaz de ser o meu eu habitual com ela porque não consigo. Como posso ser rude com alguém que me faz ter sensações boas? Não posso. "Luke!!" Olhei, desnorteado, para todos os lados na busca do local de onde veio o estridente chamamento do meu nome. À minha esquerda pude ver cabelos castanhos claros em canudos, dois olhos enormes da mesma cor e um vestido cor de salmão. Danielle. "Pensei que irias estudar hoje." "Uhm?" "Pensei que irias estudar hoje, essa era a razão pela qual não foste ter comigo." "Nunca disse que iria estudar." - dito isto, dei o derradeiro gole na minha cerveja e preparei-me para me levantar, após fazer sinal ao Ashton. "Vais a virar-me as costas, Luke Hemmings?" "Vê o lado positivo, poderás apreciar o meu rabo."

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"Vem ter ao Eclipse." - Michael

Debatia comigo próprio se haveria de comunicar ao Ashton a mensagem que o Michael me havia enviado, porém optei por ficar no silêncio e obedecer à ordem implícita nas palavras que o ecrã do meu telemóvel exibia.

01:23h

Saí de casa pelo poste, como sempre, e caminhei até ao bar. Era dia de semana, portanto o bar estaria muito próximo de estar vazio. Não me ocorria nenhuma explicação que justificasse o facto de o Michael se querer encontrar num bar, porém podia dizer que me aliviava porque era um local público, nada de muito mau poderia acontecer.

Chegado ao bar, entrei. Era um bar que eu havia frequentado imenso no passado, porém fazia alguns meses que não entrava lá. O ambiente em tons roxo e preto continuava. Havia duas mesas de bilhar e uma máquina de setas. Era relativamente amplo e a música não costumava estar muito alta; era um bom bar. Assim que avistei o Michael juntamente com o Calum dirigi-me à mesa e sentei-me do lado oposto ao Michael. Acendi um cigarro após ter pedido um fino e esperei que algum deles revelasse o que queriam falar, apesar de eu suspeitar que a conversa iria desviar para o mesmo caminho de sempre. O Michael começou a falar da música que passava na televisão, das pessoas que passavam, do maço de tabaco que pousava na mesa e tanta divagação começava a irritar-me profundamente. "Vais desembuchar o que queres?" - falei de forma seca e impaciente. "Estás sempre com pressa, aproveita a bebida." O meu pé batia ao ritmo da minha impaciência enquanto bebia lentamente o fino, olhando de forma saturada o Michael e todas as pessoas (poucas) que estavam também ali. Eram 2:13h quando olhei o relógio e eu só pensava em ir novamente a casa da Iris e ficar com ela até adormecer. Ela era o meu comprimido para dormir, nada fazia melhor efeito do que visitá-la de madrugada e eu não estava disposto a deixar isso como uma situação de uma só vez. O Michael olhava impaciente para a porta e, consequentemente, para o telemóvel. Eu pressentia que ele estava a armar alguma coisa, mas era um local público, que mal poderia acontecer?

2:21h

"Ah, ela chegou!" - ouvi o Michael quase berrar enquanto olhava para a porta. Virei o olhar para a porta e posso dizer que praticamente morri mental, psíquica, espiritual e fisicamente.

Iris.

Iris.

Iris.

IRIS.

Foda-se. Finalmente percebi totalmente, sem sombra de dúvida, o porquê de o Ashton chamar o Michael de Satanás desde que nos conhecemos.

✹✹✹

n/a: espero que gostem e perdoem lá falhas na sintaxe e gramática pq é meia noite e tenho um traumatismo nas costas (sim, isso existe, afinal) e estou cheia de dores. agradeçam muito por ter publicado este capítulo, ainda que seja um bocado merda. thanks, big love

Crash // l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora