📚 Açucena 🌼
Não sei porque mas os meus pais acharam esse nome lindo para mim... e essa ideia veio quando eles assistiram a novela Cordel Encantado, da Globo... e se apaixonaram pelo nome da protagonista nordestina que na verdade é uma princesa da Europa. Bem que eu queria.
Nasci na Paraíba, esse pequeno estado pelo qual não pude conhecer muito, pois os meus pais emigraram para o Rio de Janeiro em busca de novas oportunidades. Pelo o que eu sei, meus pais se tornaram cristãos e os meus demais familiares acharam uma desonra para nossa família que há séculos se mantém no catolicismo.
Ao chegarmos aqui vimos a realidade e a segregação gigante entre pobres e ricos, e ainda mais com os nordestinos. E acabamos encontrando um lugar no morro do Fallet, tínhamos um tio que morava com seu filho.
Meu pai conseguiu um emprego, a minha mãe trabalhava lavando roupas para fora e em pouco tempo descobrimos que meu irmão iria nascer, exatamente, mas não nasceu. Houve negligência médica por conta de documentos e discriminação. E ambos faleceram no parto.
Depois disso meu pai teve que se desdobrar para sustentar nós dois, meu tio cobrava mais do que devia. E a igreja que frequentamos nos ajudava na maioria das vezes. Estudei em escola pública pois meu pai queria que eu não tivesse uma vida como aquela futuramente. Então me dediquei realmente aos estudos.
Com muito trabalho e os juros aumentando (não apenas da casa mas de toda a economia do estado), meu pai acabou tendo infarto, e vivi um grande dilema aos meus 12 anos, tentar voltar para a minha terra natal ou morar com o meu tio agiota. Então Deus me enviou um socorro através de um casal de irmãos da igreja que praticamente me adotaram, depois de muita luta no tribunal e com o Conselho Tutelar, conseguiram a minha guarda.
E me mudei para o Méier, me formei em Administração e Pedagogia. E pretendo fazer Direitos humanos. Mas eu não quero parar por aqui, a comunidade que eu vivi por um curto período me deu o propósito de ser luz naquele lugar, fazer a diferença. Nem que para isso eu tenha que confrontar as facções ou a polícia. Com Deus ao meu lado eu não irei parar até Ele dizer não.
Minha mãe sempre falava que Danilo quer dizer O Senhor é meu juiz, mas isso não quer dizer que eu acreditava em Deus e muito menos eu praticava a justiça... pelo contrário sempre fui rebelde desde que o meu pai abandonou a minha mãe e levou todo o dinheiro dela, e desde pequeno fazia bicos no morro, aprendi a dirigir moto aos 13 anos (no morro não existe lei) e virei mototaxista, mas percebi que aquilo ainda não dava para sustentar nós dois, então virei entregador do tráfico. Entregava as drogas para os mauricinhos... seja em colégios ou faculdades particulares. Não digo que nunca experimentei, foram duas vezes para nunca mais, a última foi a minha mãe que viu o estado deplorável que eu estava e descobriu que virei bandido. Me expulsou de casa aos 16 anos... acabei me tornando o braço direito (e meu melhor amigo) do chefe do tráfico. Por terminar o ensino médio me tornei o contador... minha mãe ainda deixa visitá-la mas recusa meu dinheiro sujo.
Com ajuda da igreja local ela está bem... não a vida que eu poderia dar. Na verdade eu guardo uma boa quantia caso eu morresse e se tornasse dela. Nós dois sabemos que na vida do tráfico ou você é preso (se tiver sorte) ou morto, seja pela polícia ou pela facção rival.
É, minha vida não é tão boa quanto os moleques que querem entrar para o comando imaginam. Tenho tanta culpa no cartório, tanto como a minha mãe, tanto na comunidade e nas pessoas que descontei com as minhas frustrações.
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As nossas vidas se cruzaram e que éramos? Nada além de uma vítima e de um agressor na perspectiva do bullying.
Eu Açucena com todo o meu sotaque e ainda tenho, quando cheguei no Rio de Janeiro. E eu Danilo trazia para dentro da escola todas as minhas frustrações que tinha em casa.
Eu Açucena só queria um momento de calmaria e aproveitar a nova oportunidade. Eu Danilo vi a oportunidade de descontar a minha raiva em uma garota nova no território.
Eu Açucena só queria revidar mas algo dentro de mim dizia para que não, nem a escola fazia algo por mim. Eu Danilo só queria ver ela revidar e ouvir a sua voz cheia de sotaque paraibano me respondendo.
Eu Açucena só queria sair da escola quando o meu pai morreu e assim aconteceu, claro que sempre houve uma certa zoação nas outras escolas mas não como aquele atribulado. Eu Danilo perdi meu bode expiatório, não que eu gostasse dela, mas porque ela não revidava o que era a graça, depois disso piorei minha atitudes e quebrei a cara.
Mas quem diria que iríamos nos reencontrar depois de tantos anos... e o que isso irá nos causar?
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Eaiii pessoal, primeiramente bem vindo para a leitura desse conto, como já diz o título e a sinopse, se trata de um assunto sério que é o bullying, confesso que tentei deixar o mais suave possível mas ainda assim ser algo que é perceptível ao nosso dia a dia. Seja presencialmente ou virtualmente (cyberbullying).
E por ser cristã, eu vou puxar para o que Deus nos fala quando enfrentamos esse tipo de situação que nos deixa muitas marcas (principalmente emocionais e psicológicas). Mas e você? Pensa na pessoa que mais te magoou e te feriu nessa vida, você seria capaz de perdoá-la? Ou pode ser que essa pessoa seja você mesmo...
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A Necessidade De Perdoar - CONTO (Revisando)
SpiritualAçucena é uma garota cristã, nascida no nordeste do Brasil que foi morar no Rio, mas com a morte de seus pais, acabou sendo adotada por um casal da igreja que frequentava, e desde pequena foi criada nos ensinamentos de Deus. Sempre foi zombada com o...