Capítulo VI - O Ritual Sombrio

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Despertando com barulho de vozes distantes, senti um arrepio na espinha. Havia saído da trilha, não sabia mais em que lugar estava, e muito menos de quem eram as vozes. – Seriam os guardas? – Perguntei-me em pensamento.

Levantei-me e fui seguindo as vozes sem saber aonde elas me levariam. O som das folhas e galhos sob meus pés ecoava na floresta, fazendo-me sentir como um intruso.

De repente, deparei-me com um lugar lindo e sombrio. Eram pedras enormes erguidas em círculos com uma mesa de pedra centralizada, onde tudo era envolto de plantas. Era incrivelmente lindo e arquitetado.

Inúmeras pessoas vestidas com roupas de seda com capuz e sapatos, todos brancos, ao redor da mesa de pedra

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Inúmeras pessoas vestidas com roupas de seda com capuz e sapatos, todos brancos, ao redor da mesa de pedra. A luz da lua estava tão fraca que mal conseguia distinguir seus rostos, mas podia sentir a intensidade de seus olhares.

Abruptamente, ao ouvir o movimento dos arbustos, vi outras duas pessoas que também usam tais roupas saíndo de entre as árvores. Eles se moviam com uma elegância sinistra, como se estivessem dançando ao ritmo de uma música sombria.

Com receio de que me vejam, me encolhi entre as folhas e galhos, silenciosamente, apenas os observando. Meu coração estava acelerado, e minha respiração estava presa na garganta.

Eles carregavam em mãos um cervo morto, seu corpo flácido e inerte, em direção à mesa de pedra. Posicionaram o corpo sem vida do cervo no centro, como se estivessem oferecendo um sacrifício.

Em seguida, alguém se posicionou de frente à mesa, retirando uma faca com lâmina curva e brilhante. A luz da lua refletiu na lâmina, criando um efeito hipnótico.

Com movimentos precisos e rituais, a faca abriu o cervo, desenhando com seu sangue um círculo estranho. O sangue escorreu pela mesa de pedra, formando um padrão intricado.

O ar estava carregado de um cheiro metálico e doce, como se o sangue estivesse invocando algo. As pessoas ao redor da mesa começaram a cantar em uníssono, suas vozes criando uma harmonia sombria.

– Tu és a dúvida e a revolta, sofisma e a impotência, tu vives novamente em nós, como nos séculos atribulados quando reinaste, manchado de sangue das torturas como um mártir obsceno no teu trono das trevas, brandindo em tua mão esquerda o ceptro abominável de um símbolo fálico – entoou uma voz masculina.

– Hoje teus filhos degenerados estão espalhados e celebram teu culto nos seus esconderijos. Teus pontífices tradicionais são como pastores cegos, viciados, infames, mágicos, presunçosos, envenenadores e párias. A época da escuridão está chegando – entoaram. – A hora do despertar está próxima.

O círculo de sangue começou a brilhar, como se estivesse absorvendo a luz da lua. A atmosfera estava se tornando cada vez mais pesada, como se algo estivesse se aproximando.

De repente, uma figura emergiu das sombras, sua presença tão intensa que fez meu coração parar. Era um homem alto, com olhos vermelhos como carvões em brasa.

– Asmoday, ajudai-nos – repetiram as vozes em uníssono.

– O mestre está aqui – sussurraram as pessoas ao redor da mesa.

O homem começou a falar, sua voz como um trovão na distância.

– O tempo do sacrifício está aqui. O tempo da renovação está próximo.

Eu estava paralisado de medo, incapaz de me mover ou falar. Estava preso em um pesadelo do qual não conseguia acordar.


– O sangue do cervo é o símbolo da vida que deve ser dada para que a escuridão possa reinar.

As pessoas ao redor da mesa começaram a se mover em direção ao círculo de sangue, como se estivessem sendo atraídas por uma força invisível.

– O círculo está completo – disse o homem. – O portal está aberto.

De repente, o ar começou a vibrar e uma luz intensa surgiu no centro do círculo. A luz era tão forte que tive que fechar os olhos.

Quando os abri novamente, vi uma figura emergir do portal. Era uma criatura com asas negras e olhos vermelhos, como se fosse um demônio saído do inferno.

– Asmoday, nosso senhor – disseram as pessoas ao redor da mesa, caídas de joelhos.

O homem que havia falado anteriormente se aproximou da criatura e começou a falar em uma língua desconhecida.

A criatura começou a responder, sua voz como um rugido de leão.

– Eu sou Asmoday, o senhor da escuridão – disse. – Eu sou o que vocês invocaram.

O ar estava carregado de uma energia sombria e perigosa. Eu sabia que tinha que sair dali antes que fosse tarde demais.

Mas quando me virei para fugir, percebi que estava cercado pelas pessoas vestidas de branco. Elas me olhavam com olhos vazios, como se estivessem possuídas.

– Você não pode sair – disse uma delas.

Eu estava preso. Não havia escapatória. O pesadelo estava se tornando realidade.

                                                     

O Pecado da Luxúria - AshmadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora