Capítulo V - A Realidade do Poder

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Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que tudo estava como deveria estar. Estava curado das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dias, praticamente impedindo que eu lesse ou pensasse.

Deitado, com a mão no peito, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentado, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz, mas perfeito mesmo seria acordar pela manhã e ver que ainda tenho duas horas de sono e não deveres reais para cumprir.

Os Vikings estavam mortos, e eu tinha uma cidade para reconstruir. Soldados mortos. Havia muito a ser feito.

Na primeira hora da manhã, levantei-me, e após o café fui até a cidade com alguns soldados, ajudar a reconstruir a cidade pessoalmente, ver o que precisava ser feito. Situada no alto da colina, a aldeia de pedras proporcionava um visual muito bonito. Trata-se de uma aldeia muito antiga.

Ao chegar próximo à entrada da aldeia, existe um lindo arco de pedras marcando a entrada da cidade. Quando chegamos, e enquanto andávamos, notei que os aldeões estavam felizes, sorrindo e acenando para nós. Para mim. A sensação de paz que tive pela manhã só se intensificava mais e mais.

Vê-los felizes e alegres como nunca havia visto antes, aquecia meu coração. Havíamos levado uma grande quantidade de comida para os aldeões e começamos reconstruindo casas, arrumando as pequenas baias para os cavalos, doando uma pequena quantia ao comércio...

Após deixar alguns homens na aldeia para o término da reconstrução, voltei para o Castelo. E ao me aproximar da entrada, me deparo com meu contador.

– Olá Eric.

– Olá, Majestade.

– O que faz aqui?

– Creio que precisamos ter uma conversa séria, Majestade.

– Venha até meu escritório. – Digo indicando a sala.

– O que foi, Eric? Me parece preocupado.

– Sim, Majestade, creio que sim... Estava fazendo a contabilidade das despesas do palácio e creio que estamos sem dinheiro, senhor.

– Como assim, sem dinheiro? – Indaguei confuso.

– Depois do feito de hoje, estamos com os cofres extremamente baixos, senhor...

– Oras, como isso é possível?! – Transtornado, bato na mesa derrubando alguns papéis.

– Após a guerra com os Vikings, precisamos reembolsar todas as famílias que perderam seus entes queridos, soldados mortos. Sem contar que ainda temos todos os funcionários do palácio e os guardas. Além de suas despesas pessoais, senhor.

E em segundos, toda minha felicidade some. Como um rei em seus poucos meses de reinado poderia se declarar falido? O que eu diria a minha mãe? Meu pai estaria envergonhado.

Mandei Eric ir embora e fui para meu quarto transtornado, pensando em um jeito de contornar esta situação sem que fosse necessário pedir um empréstimo ao Reino da Itália e à Igreja. Seria uma catástrofe.

Passei o dia trancado em meus aposentos pensando. E por um instante, ao olhar pela janela, vejo um lindo pôr do sol, e, naquele momento, tudo se acalmou.

Lembrei-me de quando saía para cavalgar com minha mãe ao entardecer, e no mesmo instante decidi fazer o mesmo. Precisava espairecer imediatamente.

Pedi que alguns guardas me acompanhassem, onde saímos montados em cavalos para uma trilha na floresta, onde nela passa por uma linda formação de rochas cobertas com plantas ornamentais seguindo em direção a um pequeno riacho rodeado de palmeiras. Ainda na mesma rota, há uma área de saleiro, local onde a terra é naturalmente rica em minerais. Como toda extensão do nosso reino, banhado pelo Sol, o dourado do entardecer era lindo de cima das montanhas, e desde que me tornei rei nunca mais possuí tempo para apreciar tamanha beleza.

E estar ali, observando o entardecer, de certa forma, me trouxe a esperança de que eu poderia construir um reino digno. Eu precisava de ajuda e não estava preparado para admitir isso.

Ao final do entardecer, voltamos pela floresta em direção ao reino pela mesma trilha, até que uma bruma leve de nuvem se formou, cobrindo o topo das árvores à minha frente, se intensificando e ficando cada vez mais difícil de enxergar.

Desprotegido, mal notei que estava sozinho. Os ouço chamando, mas não consigo encontrá-los, muito menos enxergá-los – o que era um problema, afinal, estava prestes a escurecer, e eu estava sozinho em uma floresta ao oeste do reino em um ponto afastado sem segurança.

Cavalgando, encontrei uma árvore grande, para que eu pudesse amarrar o cavalo e descer até esperar que os guardas viessem ao meu encontro. E, neste processo, adormeci.

Quando acordei, estava completamente escuro. O silêncio era ensurdecedor. Eu estava sozinho, completamente vulnerável.

De repente, ouvi um barulho atrás de mim. Me virei rapidamente, tentando ver o que era, mas não consegui distinguir nada.

– Quem está aí? – Gritei, tentando manter a calma.

Não houve resposta. O silêncio era ainda mais ensurdecedor.

Eu sabia que precisava sair dali o mais rápido possível. Desamarrei o cavalo e montei, começando a cavalgar em direção ao reino.

Mas, enquanto cavalgava, não conseguia sacudir a sensação de que estava sendo perseguido.

De repente, ouvi um grito atrás de mim.

– Majestade!

Era um dos meus guardas.

– Aqui! – Gritei, parando o cavalo.

O guarda se aproximou, ofegante.

– Majestade, estamos aqui. Nós o encontramos.

– Obrigado – disse eu, aliviado.

Mas, enquanto seguimos em direção ao reino, eu não conseguia sacudir a sensação de que havia algo errado.

Era como se alguém estivesse observando-me, esperando o momento certo para atacar.

Eu sabia que precisava tomar medidas para garantir minha segurança. Não podia mais confiar em ninguém.

A partir daquele momento, eu estava sozinho. Sozinho para proteger meu reino, minha família e minha própria vida.

Era um peso pesado para carregar, mas eu estava determinado a não fracassar.

Eu era o rei, e eu faria o que fosse necessário para proteger meu reino.

O Pecado da Luxúria - AshmadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora