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Sofya Deinert Pov

   Mais uma consulta, mais quimioterapia, mais e mais preocupações. Era nisso que se resumia minha vida, minha fraca vida. Felizmente uma doutora maravilhosa disse que poderia operar a massa e remover a mesma. O problema? Meus pais acham que isso não seja seguro. Sinceramente. 

    Me sento na cama mais uma vez. Sempre o mesmo leito da cama, sempre a mesma coisa entediante. Eu tô exausta disso. Eu só quero ir pro baile, só quero dançar com o Noah na formatura dele, eu só quero fazer o meu namorado sorrir, porque ultimamente a última coisa que eu tenho visto é um sorriso verdadeiro dele. Eu estou exausta de quimioterapia.

— Boa tarde.-a doutora fala, sorrindo largamente—Pensaram na minha proposta?-pergunta. Olho minha mãe, que dessa vez tinha vindo comigo. E logo depois para Sina, que sentou na poltrona e não se levantou dês de que chegamos.

— Me diga a operação...toda de novo.-ela não pede, ela ordena, enquanto meu pai segura os ombros dela.

— Mãe! Chega. Só diga se farei ou não.-falo seria.

— Querida, é uma cirurgia, é arriscado!

— Viver tem sido arriscado pra mim mãe!-grito de volta, enquanto sinto meu pulmão pedindo pra eu parar com isso e começo a tossir. Noah pega a máscara, colocando no meu rosto e logo me abraçando de lado, sorrindo fraco. Era como se ele dissesse que ia ficar tudo bem logo, mesmo que ambos soubéssemos que não era verdade.—Ou eu faço essa cirurgia e removo isso de vez, ou eu vou parar com a quimioterapia.-afirmo. O queixo da minha cai.

— Você... você... não...não pode.

— Posso. Vocês não podem me obrigar a fazer a quimio, e eu estou cansada dessa vida. É isso.

— Sof, você não pode.-meu namorado fala

— Eu não aguento mais ver hospitais! Eu não aguento mais fazer isso, viver essa vida é uma tortura!-falo enquanto sinto lágrimas descerem do meu rosto. Noah segura meus ombros, me abraçando enquanto escondo meu rosto no peitoral dele.—Eu não posso... eu não posso...viver assim... não é viver.-falo tirando o rosto do tronco do Americano. Subo meu olhar pra Sina, procurando suporte, mas ela parece não aprovar minha decisão também, então pedi que Heyoon estivesse aqui, mas ela estava ocupada na terapia. Volto a chorar, tirando minha máscara com agonia. Me levantando.— Chega! Eu vou embora.

— Sofya.-escuto a doutora falando

— Filha.-sinto minha mão tocar meu ombro

— Não. Não. Não me toque. Não toque em mim. Eu estou farta. Sabe o que eu queria pra esse ano? Eu queria morar com minhas irmãs. Eu queria... convencer Sina que a namorada dela não era saudável, queria fazer ela se apaixonar perdidamente por alguém. Merda eu queria fazer a Sara largar um pouco o trabalho! Queria fazer festas de pijama com minhas duas melhores amigas, mesmo que eu ficasse de vela. Era esse meu plano. Era esse. Não era câncer! Não era nada disso. Não eram...hospitais, nem...nada disso. Eu não posso olhar pra mais uma parede branca!-grito tentando tirar as agulhas da minha veia

— Querida. Querida. Me escute.-a médica me chama, enquanto eu soluço alto, negando com a cabeça.

— Eu quero ir embora. Eu quero ir pra casa. Eu quero ir pra casa e ficar no meu quarto. Eu não posso ficar aqui.-falo afastando meus cabelos com a mão, enquanto vejo uma grande parte dele vindo na mão. Percebo Noah se aproximando, mas me afasto, negando com a cabeça com a cabeça abaixada—Não me olhe assim. Não. Não me veja assim...

— Amor.-tenta

— Por favor. Não.-sinto meus ombros tremendo—Eu estou cansada...-olho pra Sina, que estava em pé me encarando.

— Não posso ver você assim.-ela murmurra baixo—Você é a pessoa mais alegre que eu conheço, não posso ver você assim.

— Estou quebrada.-murmurro de volta, secando uma lágrima que havia caído

— Você não está quebrada, Sofya. Você é uma Deinert.-fala se aproximando com os braços abertos.—Você aguenta.-sinto ela passar os braços ao redor do meu corpo. Tudo que eu precisava era isso, dês de sempre, o abraço da minha irmã.

— Por favor me leve pra casa. Me leve pra casa. Eu preciso...preciso ver Hina, preciso ver a Shivani. E...preciso da minha vida normal. Eu preciso disso. Ninguém está do meu lado. Me leve pra casa.-deito meu rosto no ombro dela

— Nossos pais vão fazer o que você escolher.-Sina fala

— Sina...-minha mãe tenta falar, mas minha irmã a interrompe

— Eles vão.-afirma mais uma vez—É, eles vão.-se vira para doutora—Quais as consequências da cirurgia? Caso dê errado?

— Eu ia falar isso. Sofya, por favor, se sente.-aponta pra cama. Sina anda comigo em seus braços até a cadeira, me colocando ali, sentada.

— Diga, doutora.-foi a vez do meu pai falar

— O câncer se espalhou da área do útero até o resto do corpo, por sorte ele não estava tão grande quando encontramos. E com as seções de quimio, nos conseguimos eliminar mais da metade da massa, dos outros órgãos. Com essa cirurgia nós iríamos remover a parte principal, impedindo de crescer novamente, e remover a maior parte possível do corpo da menina. Isso daria uma cirurgia de...dez horas, ou mais.-ela fala, enquanto todos ali escutam tudo atentamente.—O lado ruim é que por ser no útero, Sofya pode não conseguir ter filhos.

   Meu mundo desaba assim que a explicação dela termina. Sinto meu estômago revirando e meu pulmão se apertando. Volto a tossir sem forças e estico minha mão para pegar a máscara, colocando no meu rosto.

— Então...-minha irmã quebra o silêncio que estava no quarto. Aperto a mão dela, inciando que ela deveria ficar quieta.

— Posso...ficar sozinha com o Noah. Por favor?-peço. Minha mãe, por já saber o que eu iria falar com ele, e por ser controladora, nega com a cabeça, mas meu pai puxa ela para fora da sala. A doutora murmurra um "licença" e também sai. Minha irmã deixa um beijo na minha testa, logo saindo dali.

   Eu sei quanto é o sonho do Noah ter um bebê, ele sempre disse isso. Inclusive, quando tudo isso começou ele disse que mesmo com a idade ele iria cuidar muito bem de mim e da possível criança.

— Me desculpe.-falo, caindo com a cabeça no colo dele

— Não faça isso. Não.-pede desesperadamente, segurando minha mão

— Eu...eu não. Eu sei o quanto você quer ser pai...

— Sofya.-tenta, mas paro de ouvir

— Eu sinto muito.

— Sofya. Olha pra mim. Eu quero ser pai, não vou mentir, mas eu quero mais do que tudo que você esteja saudável, que esteja bem. E se isso for o preço pra você estar bem, então eu aceito. A decisão é sua, eu vou ficar com você de todo jeito... e, tem outras maneira de se ter filhos. Você sabia que muitas crianças são deixadas em orfanatos e dariam de tudo para ter uma mãe carinhosa como você? Pra ter uma tia que os provoque eles o tempo todo, ou uma tia legal pra brincar e fazer biscoitos pra ele?-rio, concordando com a cabeça. Sinto ele deixar um beijo no topo da minha cabeça—Está tudo bem...

— Obrigada.-murmurro baixo, fechando meus olhos.

Eu iria fazer isso, era essa minha decisão final. E eu teria os filhos mais carinhosos do mundo, quando fosse a hora.






Save me   Siyoon/HeynaOnde histórias criam vida. Descubra agora