Capítulo 15

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Creio nunca ter experimentado tamanha liberdade como nos últimos dias. A convivência com pessoas de minha idade é mais fácil do que pensei. Claramente porque a preocupação de cada um não dizia respeito ao que pessoas da nossa idade no meu mundo de origem tinham nas próprias costas. Não sabia que me sentia tão fora dos eixos até realmente me dar conta de que, mesmo caminhando para uma possível morte, era como se estivéssemos nos dirigindo ao final do arco íris, procurando por potes de ouro.

Chuva caía incessantemente na maior parte das noites, o que nos fez inverter o horário de dormir por várias vezes. É uma tortura ter tamanha e brusca mudança. Quando Isis avisou que estávamos a pouco menos que um dia de viagem, meu coração deu vários saltos de um misto de apreensão e agitação.

- A barreira do Mundo dos Dragões ficava aqui – Liliane disse, de repente. Olhei para onde tinha apontado, e percebi onde a grama tinha falhado. Meus olhos não alcançaram o restante do círculo perfeito de grama ainda crescendo. A barreira tinha deixado seus rastros mais do que claros.

Maiele, lembrei.

Eu fiquei de mandar um sinal de vida para ela. Como posso ser tão descuidada...? Como ela pode estar agora?

- Está tudo bem? – Jordan quem perguntou. Era para mim. – Ficou séria, de repente.

- Prometi falar com uma dragão assim que estivesse em segurança. Dar um sinal de vida. Lembrei agora, mais de uma semana depois. – Falei, sem conseguir conter o desgosto.

- Aysha – Liliane me chamou novamente, a voz triste e cuidadosa. – Eu sinto muito, mas não vai dar. Para nenhum de nós. Qualquer tentativa de comunicação pode ajudar a nos rastrearem. Estamos incomunicáveis, todos nós.

- Está conseguindo conter para todos? – Isis perguntou.

- Se descobrirem um, os outros também serão achados. Não é tão difícil, acho. Tenho que bloquear somente rastreios à Aysha. – a Feiticeira respondeu. O clima ficou um pouco pesado, e até pensei em pedir desculpas pelo cansaço que pareceu nos percorrer tão repentinamente. Mas Kahvon falou antes:

- Então todos nós somos criminosos agora? – Estava com um sorriso no rosto, e apesar de não ter graça, nos levou a sorrir também.

Eles vieram por conta própria, repeti diversas vezes mentalmente. Eles quiseram vir. Você não os forçou a vir.

Acho que no fundo, minha culpa se deve à falta de esperança. E ao sentimento de que quem deveria estar segurando as pontas era eu. Mas é infinitamente melhor dividir esse peso com todos, e na verdade não ter ninguém liderando nada.

- A próxima lua cheia é em duas semanas – Kahvon disse, sugestivamente, muito mais tarde.

- Não – Jordan disse, somente.

Apesar de estar tonta de sono, e o vento frio – com a vontade de estar numa cama quente – não ajudar, as declarações não se encaixavam.

- Não o que? – Isis perguntou antes de mim, a voz mais alta que o assobio do vento.

Estávamos a subir uma íngreme inclinação de pedra. Faltavam uns cinco metros mais para cima e as minúsculas pedrinhas arranhavam antes de passar por nós e efetivamente cair lá embaixo. O sol se pondo, o cansaço e as dores pelo corpo... mas ninguém falava sobre dormir. Contive um grunhido ao avançar mais um pouco.

Kahvon e Jordan trocaram um olhar mais que tenso antes do primeiro enfim responder.

- Agora que sabemos que Aysha é Herdeira, acho que é esperado que terminemos as Transformações dela...

Entre Sereias - O Portal Submundano [Livro II]Onde histórias criam vida. Descubra agora