Vendedora

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Era a província em que nasci, cresci e vivi a maior parte da minha vida, até tudo mudar e sermos obrigadas a sair de lá para virmos para Luanda

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Era a província em que nasci, cresci e vivi a maior parte da minha vida, até tudo mudar e sermos obrigadas a sair de lá para virmos para Luanda.
Um grande inferno para mim, e não digo isso apenas pelo facto de ser uma província quente.

Luanda tem a sua beleza, e os seus encantos, não se espera menos que isso para a capital de um país, mas não era a minha casa... não era o meu lar, por isso desde sempre me sentia como um peixe fora d'água.
Aqui, não conseguia acompanhar a correria e a rotina agitada que as pessoas têm.

Porque no meu lar... tudo é calmo, é o oposto de Luanda a única semelhança que têm, é o facto de serem ambas províncias quentes, mas a quentura do Namibe deve-se ao facto de ser uma província desértica e a outra, é quente por motivo nenhum.

Meus olhos ainda estavam submersos na imensidão do mapa a minha frente, até ouvir a locutora anunciar a chegada do autocarro com destino Luanda-Huambo.

Voltei para a minha cadeira, tirei o telefone da mochila para conferir as horas: eram 10 horas e 29minutos — era suposto o autocarro estar aqui as 10 horas pontualmente.

A locutora voltou a insistir para que as pessoas com o Destino para o Huambo se aproximassem do autocarro azul laranja e branco que havia chegado.
Varias pessoas saíram dos seus assentos, e atravessavam a grade que separava a sala de espera, com a pista onde os autocarros estacionavam.

O processo era o seguinte:
Quem tivesse muitas bagagens, pô-la-ia no porão do autocarro, e depois o motorista avaliaria o preço de quanto custariam as mesmas.
Mas quem estivesse a levar pouquíssimas coisas, podia apenas entregar o bilhete comprado na recepção, nas mãos do motorista, ele fingiria ler, colocaria um sinal no papel, ou rasgaria na ponta — por motivos que eu desconheço por completo.

Dentre os passageiros, vi uma senhora que levava grandes balões de fardo*, ela pedia que as pessoas a ajudassem a levar até onde estava o autocarro, porque eram demasiadas coisas.

Expressava-se com o linguajar de certo número de pessoas que vivem no norte de Angola, carregando o r em palavras que têm apenas um, e fazendo o contrário com as que têm dois! — quem ouvisse riria muito — mas quem fosse estudado o suficiente apenas corrigiria a pessoa.

Ela me lembrou a minha mãe não pelo linguajar mas, porque pressupus que ela fosse vendedora, pela quantidade de balões de fardo que carregava... o que me levou de volta a 8 anos atrás...


    Namibe, 16 de fevereiro de 2009


Namibe... considerado o mais antigo deserto do mundo junto do litoral, pela sua sequidão à descida do ar seco, arrefecido pela corrente fria da linda Benguela que passa na costa da Namíbia.

É a província onde o deserto se encontra com o mar — o que faz atrair turistas nacionais e estrangeiros, curiosos para ver tamanha beleza! — cresci vendo tudo isso, desfrutando das lindas praias e de tudo de bom que a província tinha a oferecer.

Nasci em Moçâmedes, a capital da província.
É uma cidade pacata, caracterizada pelas lindas construções deixadas pelo colono, organizada de uma forma exímia, sendo considerada umas das capitais mais organizadas do país.

Todo e qualquer habitante do Namibe, sonhava em ter uma casa com vista para as lindas praias, mas nem todo mundo tinha a sorte de tê-la. E nós fomos os azarados do processo: nossa casa ficava no centro da cidade a uma distante significativa do mar.

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