Dias actuais
Me impressionava o facto de algumas horas de viagem terem mudado tanto em mim. Não quanto ao que me levou a fugir de casa — isso era um caso irrefutável — mas quanto a tudo que envolve me importar com alguém.
Kennan não dirigiu palavra alguma para mim, e eu detesto admitir, mas me importava com isso.
A paisagem vista da janela se tornou enfadonha, no momento que percebi que olhar para Kennan se tornara minha vista preferida.Lancei-lhe olhares de cachorro molhando na chuva e chamei seu nome.
— Oi! — respondeu sem desviar os olhos da pequena TV e tampouco mudou sua postura.
Cerrei os punhos, controlando o meu lado orgulhoso dizendo que não era necessário pedir desculpas.
— Me desculpa! — falei por fim — Depois do que você me contou eu não tinha o direito de dizer aquilo.
Ele aliviou a sua postura descruzando os braços.
— Demorou para pedir desculpas! Estava cansado de fingir ficar chateado.
— Espera, o quê? Não está chateado então?
— Não! — Ele sorriu — Você não mentiu de todo, meu pai ser um general me garante alguns privilégios, dentre eles, ter um emprego sem ter feito nada.
— E pra quê fingiu ficar chateado?
— Para ensinar-te a pedir desculpas! — falou convencido.
— Foi uma maneira infantil de fazê-lo. — Retruquei.
— Mas que resultou — sorriu torto — Agora eu quero saber de algo— O quê? — recostei-me no banco.
Apesar dessa tática idiota, eu estava feliz por voltar a falar com ele.
— Você não foi admitida por duas vezes na universidade?
Anuí
— Como isso é possível?
— Eu acho que os que têm padrinho na cozinha têm mais possibilidades de passar.
— Que curso testou?
— Enfermagem — sorri orgulhosa — Eu sempre tive uma grande paixão, desde os meus 14 aninhos.
— Sabe que uma enfermeira precisa ser simpática né !? — zombou.
Bati em suas costas com os punhos fechados, enquanto riamos os dois. Eu não era famosa pela simpatia, mas em saber cuidar das pessoas!
— O que deu errado nos testes? — perguntou.
— Não seria melhor perguntar o que deu errado na minha vida? — soltei um suspiro de cansaço
As vezes sentia como se estivesse sempre a fugir, e agora essa viagem me mostrara o quão cansada estava de fazê-lo.— Quer falar sobre isso?
Os olhos de Kennan mostravam segurança, eram parecidos com os olhos do meu melhor amigo que em tempos atrás me fitaram com tanta ternura, E apenas eles me compreendiam.
Talvez seja por isso que do lado de Kennan me sinta bem, e com vontade de não mais fugir.
— Eu quero falar sobre você... — Mudei o foco para ele.
— O que quer saber?
— Me conta sobre a tua infância — falei tamborilando com os dedos no braço do banco de Kennan.
— Eu era uma criança traquina — ele riu. — Amava brincar na rua com os meus amigos. — Continuou
— E qual era a sua brincadeira preferida?
Ele rolou os olhos para cima, ao passo que batia com o dedo indicador nos lábios.
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Por mais horas com você
RomansaVocê já conheceu alguém num autocarro de viagem, e imaginou sua vida inteira ao lado dessa pessoa? Dara Mendes tem 21 anos, e esconde um grande segredo da irmã mais velha, sem saber como contar para ela, decide fugir de casa, com o objectivo de enco...