Capítulo 13

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                                  Dias actuais

Me impressionava o facto de algumas horas de viagem terem mudado tanto em mim. Não quanto ao que me levou a fugir de casa — isso era um caso irrefutável — mas quanto a tudo que envolve me importar com alguém.

Kennan não dirigiu palavra alguma para mim, e eu detesto admitir, mas me importava com isso.
A paisagem vista da janela se tornou enfadonha, no momento que percebi que olhar para Kennan se tornara minha vista preferida.

Lancei-lhe olhares de cachorro molhando na chuva e chamei seu nome.

— Oi! — respondeu sem desviar os olhos da pequena TV e tampouco mudou sua postura.

Cerrei os punhos, controlando o meu lado orgulhoso dizendo que não era necessário pedir desculpas.

— Me desculpa! — falei por fim — Depois do que você me contou eu não tinha o direito de dizer aquilo.

Ele aliviou a sua postura descruzando os braços.

— Demorou para pedir desculpas! Estava cansado de fingir ficar chateado.

— Espera, o quê? Não está chateado então?

— Não! — Ele sorriu — Você não mentiu de todo, meu pai ser um general me garante alguns privilégios, dentre eles, ter um emprego sem ter feito nada.

— E pra quê fingiu ficar chateado?

— Para ensinar-te a pedir desculpas! —  falou convencido.

— Foi uma maneira infantil de fazê-lo.  — Retruquei.
— Mas que resultou — sorriu torto — Agora eu quero saber de algo

— O quê? — recostei-me no banco.

Apesar dessa tática idiota, eu estava feliz por voltar a falar com ele.

— Você não foi admitida por duas vezes na universidade?

Anuí

— Como isso é possível?

— Eu acho que os que têm padrinho na cozinha têm mais possibilidades de passar.

— Que curso testou?

— Enfermagem — sorri orgulhosa — Eu sempre tive uma grande paixão, desde os meus 14 aninhos.

— Sabe que uma enfermeira precisa ser simpática né !? — zombou.

Bati em suas costas com os punhos fechados, enquanto riamos os dois. Eu não era famosa pela simpatia, mas em saber cuidar das pessoas!

— O que deu errado nos testes? — perguntou.

— Não seria melhor perguntar o que deu errado na minha vida? — soltei um suspiro de cansaço
As vezes sentia como se estivesse sempre a fugir, e agora essa viagem me mostrara o quão cansada estava de fazê-lo.

— Quer falar sobre isso?

Os olhos de Kennan mostravam segurança, eram parecidos com os olhos do meu melhor amigo que em tempos atrás me fitaram com tanta ternura, E apenas eles me compreendiam.

Talvez seja por isso que do lado de Kennan me sinta bem, e com vontade de não mais fugir.

— Eu quero falar sobre você...  — Mudei o foco para ele.

— O que quer saber?

— Me conta sobre a tua infância — falei tamborilando com os dedos no braço do banco de Kennan.

— Eu era uma criança traquina — ele riu. — Amava brincar na rua com os meus amigos. — Continuou

— E qual era a sua brincadeira preferida?
Ele rolou os olhos para cima, ao passo que batia com o dedo indicador nos lábios.

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