Vencer um trauma parte I

220 31 558
                                    

Não importa onde eu váNo final de cada estradaVocê foi bom para mim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Não importa onde eu vá
No final de cada estrada
Você foi bom para mim

Jeremy Zucker e Chelsea Cutler
"You were good to me"

                      Dias actuais

—  Depois do susto que ele deu á mãe ao desaparecer, foi obrigado a acompanhá-la nas suas vendas na praça. A tia Rosa vendia peixe, e Lueji sacolas.

— E quanto as surras? — Kennan perguntou.

—  Elas cessaram... eu acho...

—  Não tem a certeza?

—  Desde que Lueji começou a vender na praça, nos víamos muito pouco. As tardes na praia deixaram de ser frequentes, e as idas em minha casa também —  lembrar daquilo me entristecia, mas era necessário falar. Ele me confessou algo do passado dele, e senti-me na obrigação de fazer o mesmo.

—  Uau! Que história hein!

—  Podemos mudar de assunto agora? Falar de passado é meio chato — fiz um biquinho nos lábios.

Kennan olhou para mim de um jeito estranho, seguido de um abanar de cabeça.

—   Eu estou com sono — ele deitou sua cabeça sobre meu ombro.

—  Eu também estou! —  retirei-a abruptamente — Agora é a sua vez de servir de almofada! — pus minha mochila sobre o seu colo, e deitei minha cabeça nele.

—  Não está com frio? — suas mãos estavam suspensas no ar, tive a ligeira impressão que ele ponderava se me tocaria ou não.

—  Estou com frio! —  confirmei!

Ele tirou um lençol de sua mochila —  que só naquele momento percebi existir — me cobriu da cintura para baixo. Sussurrei um "obrigada" e me coloquei confortável com a cabeça apoiada em seu colo.
Fechei os olhos, mas conseguia sentir seu olhar me fuzilar.

—  Porquê olha para mim dessa forma? — murmurei.

—  Como?

Eu abri os meus olhos, e me posicionei de uma forma que me permitia olhar para ele.

—  Desse jeito — meus dedos se moveram no ar, em direcção aos seus grossos olhos castanhos claros.

—  Só estou admirado... você passou de me tratar super mal, à me tratar super bem!

—  O que revelações do passado não fazem nê?

—  E por falar nisso... não quer revelar mais nada?

—  Eu não! Você quer?

Ele balançou a cabeça negativamente.
Pelo que contámos um para o outro pude conhecê-lo um pouco mais, mas ainda tinha perguntas por fazer.

—  Tem namorada?

—  Wow! Quer falar de relacionamento agora? —  ele riu fraco.

—  É apenas uma curiosidade —  apoiei a minha mão sobre a minha barriga.

— Não estava prestes a dormir?

A necessidade de se esquivar do assunto era bem patente, e eu não era do tipo que insistia. Então virei para o lado, ficando de cara com os bancos azulados à nossa frente. — Todos os bancos do autocarro eram azulados, e o tecido parecia ser feito de algodão de tão aconchegante que era.

Eu não olhei, mas certamente Kennan se debatia e considerava a hipótese de me contar sobre a sua vida amorosa.
Um sorriso vitorioso se apossou dos meus lábios quando ouvi-o dizer:

—  Tudo bem, eu conto.

Voltei a virar meu rosto na sua direção.

—  Eu não tenho uma namorada okay?

— Se era essa a resposta porquê demorou para responder?

—  Eu... não sei! — deu de ombros.

Uma coisa que eu aprendi sobre rapazes, quando eles usam a frase "eu não sei" ou eles realmente não sabem —  O que é um caso improvável de acontecer  — ou ocultavam a verdade —   que é o frequente.

— Você tem namorado? —  ele ergueu umas das sobrancelhas.

Devo admitir que lhe dava um ar "sexy", elas eram grossas, pretas e ligeiramente desarrumadas.

—  Eu não tenho namorado.

— Quando foi a última vez que teve um?

—  No ano de 2014 talvez...

—  É muito tempo não acha?

— Para ser sincera eu nem sei se chegamos a terminar o relacionamento! — ri ao me lembrar. —   A quanto tempo não tem uma namorada?

—  Mn... — ele pôs a mão sobre o queixo. — 6 meses.

—  É recente! Porquê acabou? E não vale colocar a culpa nela! —  meti o dedo indicador na sua direção.

— Bom... digamos que eu não sou um dos homens mais fieis de Angola! —  ele cobriu os olhos com a mão esquerda, coberta de anéis grossos de prata.

— Porquê?

— Dara você já olhou para as mulheres? dotadas de curvas, que nem a serra-da-Leba*, têm um gingado único, que só a mulher africana tem, e a pele negra oh! meu Deus! Eu não consigo resistir!

— Como traiu a sua namorada então?

—  Eu não traí, só falei para ela que já não estava apaixonado! Ela pensou ter outra novinha em jogo, quando não era nada disso.
E quando disse que não ser o homem mais fiel de Angola, era pelo facto de eu não conseguir ficar sem apreciar a beleza das nossas mulheres!

Desculpa esfarrapado, era isso o que parecia.

— Já que é um grande apreciador das mulheres... qual o seu tipo?

— Mn... eu gosto de raparigas com curvas, com personalidade forte, independentes...

—  Acabou de me descrever — ri

Kennan ruborizou, após ouvir minha afirmação. Mas não negou nem afirmou nada quanto a ela

Por mais horas com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora