Capítulo 12

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                                    Dias actuais

Aquelas perguntas de Kennan me faziam lembrar de quem era, uma raiva se apossou de mim, me virei e disse:

— Nem todos têm a sorte que você tem, em ter um pai general que dá um emprego de borla, que você ainda se dá ao luxo de recusar. Outros testam em universidades e são recusados por dois anos consecutivos... — me arrependi quando o vi dar passos para trás e anuir positivamente visivelmente indignado — Ken eu não...

— Já terminaram com a manutenção do autocarro — interrompeu minha tentativa de um pedido patético de desculpas — acho melhor irmos...

Ele passou por mim, e foi para o autocarro, como todos os outros passageiros faziam.

E lá estava eu sozinha do jeito que tinha que ser.
Do bolso do meu casaco de couro senti meu telefone vibrar, tirei-o com a intenção de atender quem ligava para mim.

Não tive coragem de fazê-lo assim que vi o nome no ecrã: Era Niara ligando.

Minha mente formulou várias teorias para justificar o motivo de só agora minha irmã ter dado sinais de vida:

Talvez tenha se demorado no trabalho, e ao terminar o expediente, o noivo a tenha levado para almoçar ou para um outro lugar, o que a levou horas em conversa. Imagino-a chegar em casa, sorridente, e ansiosa para contar-me sobre o dia maravilhoso que teve, como sempre fazia. Vejo-a ir para o meu quarto, abrir a porta e dar de cara com o tudo arrumado na perfeição, vazio como se minhas memórias ou sequer minha presença tivesse habitado naquele lugar e uma carta por cima da cama...

— Oiê! — gritou o motorista — vai entrar ou não?
Apercebi-me que estava parada perto do meio fio, com os olhos fixos no telefone que a algum tempo parou de vibrar. Meneei a cabeça e desliguei-o — por um segundo tive vontade de atender o telefone — subi no autocarro, sentei-me do lado de Kennan em silêncio.

Após a ligação da minha irmã a última coisa que queria era trocar farpas com Kennan ou sequer pedir desculpas pelo que disse.

O clima ficou estranho, ele fitava a pequena tela, com o maxilar cerrado, o peito estufado e a testa franzida. eu me limitava a olhar pela janela a silhueta das árvores, os caminhões que iam e vinham, e as pequenas luzes das casas que se viam no horizonte.

Mergulhada em meus pensamentos e teorias sobre o que a minha irmã deve estar a pensar sobre mim nesse momento.

Nós éramos inseparáveis, discutíamos na maior parte do tempo, mas o amor estava aí. Com a certeza de que ela lera a carta, uma coisa era certa: eu já não podia voltar.

                 Namibe 21 de outubro de 2010

Faltavam 7 dias para o meu aniversário, eu não era do tipo de pessoa que se importava com essas coisas. Qual a graça de festejar o seu envelhecimento?
Eu queria ser como o Peter Pan, viver em uma terra onde somos crianças para sempre, porque acredito que é a melhor fase, onde ainda somos inocentes e os machucados não doem assim tanto.

Estava prestes a fazer 15 anos, mas me recusava a crescer, a ser influenciada pelos outros a dar meu primeiro beijo ou a ter um namorado. Eram coisas que eu não estava ansiosa por experienciar.
Eu preferia continuar a roubar óleos às mucubais, só pela adrenalina de ter o meu coração pulsar em meu peito.

Gostaria de continuar a tomar banho em uma chuva de abril e não sentir vergonha da roupa que gruda no meu corpo por evidenciar minhas curvas ou meus peitos.

Gostaria de andar livremente na rua sem receber assovios de homens de família que não conseguem segurar as calças ao ver uma " novinha " passar na rua.

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