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       Quando eu tinha 5 anos, minha mãe me levou até uma praia no litoral. Era minha primeira vez tendo tanto contato com a água e não era por um motivo bonitinho. Eu tinha medo de tudo, desde meu nascimento, eu sempre tive medo de tudo. Medo do meu próprio choro, de me engasgar com a comida ou o leite quente. De me queimar muito com o sol e meu corpo se encher de bolhas, ou o maior deles, me afogar. Mesmo tendo apenas 5 anos, minha mente já trabalhava como a de um adulto. Um adulto medroso. 

   Por esse motivo, meus pais decidiram que eu precisava superar o maior deles para que eu pudesse evoluir. Não era um gesto muito bonito, mas era lógico. Jungkook devia ter por volta de 12 anos e se opôs a isso. Ele sabia que eu não podia, de  jeito nenhum, entrar em uma quantidade tão absurda de água e me sentir bem. Ele de todos, me conhecia e me entendia. Nessa idade, eu o via como meu super herói. Não meu pai como geralmente acontece, mas sim ele. Ele era meu guarda-costas pessoal, aquele que me deixava ter meus medos e não brigavam nem me zombava por isso. 

     No entanto, nem mesmo ele foi capaz de impedir. Eu me lembro muito perfeitamente de todos os detalhes daquele dia. Meu pai me colocou na cadeirinha no banco de trás, ele não parava de dizer que estava tudo bem e que tudo ficaria tudo bem. Não me acalmou, pelo contrário, o fato de ele precisar repetir tantas vezes a mesma coisa, significava que nada ficaria bem. Minha mãe evitava me olhar nos olhos e isso me causava mais pânico ainda. 

     O carro chegou até seu destino o mais rápido que eu pensei. Fui o caminho todo, me preocupando com acidentes em estradas e mortes instantâneas. Para uma criança, esses pensamentos não eram normais. Eu sabia disso e meus pais também. 

    Eu me recusei a sair do carro, me agarrei ao banco com tanta força que machuquei minhas unhas quando meu pai tentou me puxar. Ele conseguiu, é claro. Sendo mais alto e mais forte e mais velho, ele me puxou com muita facilidade. E eu me agarrei a ele desta vez. Escondi meu rosto no seu ombro e pedi pelo amor de Deus para que fossemos para casa. Porém, eles estavam determinados. 

   Minha mãe entrou comigo, ou melhor, me empurrou até a água. Meu coração estava muito acelerado e ela tentava conversar comigo, para me distrair. Dizia coisas sobre a escola, seu trabalho e o que eu queria comer quando fossemos para casa. Nada disso me importava. Eu só estava tentando me concentrar em não encostar na água. 

    Acho que nem mesmo meus pais, poderiam imaginar que uma onda pequena, me faria desprender de minha mãe e não conseguir subir para a superfície. Eu tentei, tentei muito mover meus braços desesperadamente e tentar encontrar uma saída. A água estava escura, fria e me envolvia com força. Eu escutava os gritos de meus pais um pouco ao longe e tentava me movimentar até eles. Mas eu não saia de onde estava. Puxei o ar que não existia, e me sufoquei com a queimação que me incendiou. Aquilo doía, me desesperava. Contudo, foi quando ocorreu meu ponto de ruptura. O afogamento, me fez virar quem sou hoje. 

    Eles me encontraram minutos depois. A água já estava em meus pulmões e demorei recobrar a consciência. Quando abri meus olhos, e cuspi toda aquela água, eu percebi que eu tinha me tornado alguém que eu não queria ser. Percebi isso, porque depois de repassar a cena várias e várias vezes, eu senti falta da queimação, da vontade necessitada por ar e não o encontrar, de me mover em busca de salvar minha vida, e não conseguir. Havia gostado do que senti, e depois daquele dia, eu passei a repetir a sensação diversas vezes. 

    Meus pais achavam que eu estava determinada a aprender a nadar. Mal sabiam, que meu verdadeiro objetivo, sempre era o afogamento. Depois disso, eu perdi meu medo por diversas coisas. Lembrar-me daquela sensação, me deixa feliz. 

    E é exatamente isso que estou sentindo agora, com esse homem morto no chão. Eu me sinto, bem. Como se quisesse repetir a sensação várias e várias vezes. Uma facada já tinha bastado, mas eu queria mais, meu corpo anseiou por mais e eu não consegui parar. Ao todo, foram vinte e três perfurações. O sangue que estava espalhado por meu corpo, sujando minhas roupas, meu cabelo, meu rosto e embaixo de minhas unhas, me fazia bem. 

Yes, TeacherOnde histórias criam vida. Descubra agora