Capítulo XIV - Tratamento de Silêncio

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Fico no sofá a vê-lo ir embora feito estúpido. Suspiro. Mas que reação foi esta?

- Não tenho idade para estas infantilidades.

Tento abstrair-me com algo na televisão mas não consigo deixar de pensar na sua reação. Apesar de não querer admitir incomoda-me imenso a sua atitude. Decidida a não levar desaforo pra casa levanto-me e vou em direção ao seu quarto pronta para discutir se for necessário. Ele não tem o direito de falar comigo daquela maneira.

Até porque não lhe fiz nada.

Bato três vezes na porta do quarto e nada.

- Hardin?! – Chamo. – Abre a merda da porta – Digo.

Nenhuma resposta. Penso em pontapear a porta só pra marcar um ponto, mas controlo-me. Bato de novo com mais intensidade. Nada.

- Abre... agora! 

Nada. Abro a porta e vejo-o deitado por cima das cobertas na cama a olhar para o teto enquanto me ignora completamente. Quantos anos é que ele tem? O tratamento de silêncio é muito 2010. 

Respiro fundo para não me passar já da cabeça.

- Vais-me dizer o que se passa? – Pergunto tentando parecer calma.

Assim como antes ele ignora-me.

- Eu fiz alguma coisa? – Pergunto de novo e de novo não obtenho resposta. – Foda-se, estás a gozar com a minha cara? Fala comigo! – Digo elevando a voz.

Vejo-o a olhar para mim e penso que finalmente me vai responder mas este apenas volta a olhar para o teto sem uma palavra. Pego na almofada em cima do cadeirão da secretária e atiro-lhe pra cima. Ouço-o suspirar mas continua sem dizer uma palavra.

- Eu não fiz nada para não falares comigo, se queres agir como uma criança... ok.

Dou meia volta e saiu do quarto. Vou em direção à cozinha e encho um copo de água gelada. A vingança serve-se fria. 

Literalmente.

Volto com o copo ao quarto dele e entro. Pra minha surpresa (ou não) ele não olha para mim.

- Vais-te arrepender. – Digo antes de lhe atirar com a água para a cara.

Ele abre a boca em choque e levanta-se enquanto olha pra mim sem saber se há de se rir ou chorar. Tenho que me controlar imenso para não me partir a rir.

Ok, eu não me controlei tanto assim e ri-me. Ri-me muito. Ri-me tanto que até tive que me curvar a agarrar a barriga.

Olho para ele e percebo que está tentar não se rir comigo, o que me provoca mais risos ainda. Era suposto ele ficar chateado.

Do nada, sai do quarto sem dizer nada. Paro de rir automaticamente e sigo-o.

Quando o vejo a entrar na cozinha percebo o que está prestes a fazer e é tarde demais. Hardin já está a vir atrás de mim com outro copo cheio. Antes que pudesse fugir já sinto a água a escorrer pela minha cabeça e uma dor corporal devido ao mini choque térmico.

Abro a boca em choque assim como ele fez à pouco e apetece-me gritar. Como é que ele teve coragem?

Corro para a cozinha e agarro a primeira coisa que me aparece, neste caso, farinha.

Nem preciso correr até ele de novo, pois este está bem atrás de mim. Agarrar-me as mãos parando-me antes de lhe acertar com a farinha, mas eu continuo a fazer força e consigo derramar um pouco na sua camisola que já estava molhada pela água. O que tornou tudo grunhento.

ENTRE QUATRO PAREDESOnde histórias criam vida. Descubra agora