CAPÍTULO 24

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Las Vegas foi maravilhosa. Elena e Damon passaram as noites no cassino e o os dias juntos. Elena chegou a se perguntar se fazer sexo com tanto excesso não podia fazer um dos dois enjoar, eles deviam ter gasto bem uma caixa de camisinhas em 2 dias (Elena questionou Damon sobre aquilo, mas ele apenas respondeu com um “prefiro assim”, e logo o assunto foi esquecido), mas a cada
vez era melhor. Jennifer reaparecera no sábado de noite, e segundo Hayley que ouviu de Lydia, ela se embebedou e terminara a noite de um jeito pouco
convencional: Transando... Com 03 homens que conheceu na mesa de bilhar. Ela acordou com uma ressaca infernal, e escandalizada com o acontecido. É claro que Elena se deliciou com aquilo. As noites foram ótimas, ela e Stiles disputaram fortunas nas mesas de jogo, e nunca perdia a graça. Os dias eram...
Atordoantes. Parecia não haver espaço entre ela e Damon. Podiam passar até por um casal normal. Foi com pesar que ela arrumou as coisas na segunda-feira de tarde. Foi cansativo no começo: Haviam peças de roupas nos lugares mais
improváveis da suíte. Damon foi fechar a conta enquanto ela terminava. Ela olhou a cidade um instante pelo vidro, sorrindo. Vegas era o único lugar existente que adormecia quando o resto do mundo acordava. O avião já esperava por eles. Os homens foram resolver questões do embarque e elas
ficaram na sala de espera, conversando.
Elena: Vou ter problemas. Troquei meus horários. – Disse, cansada. Não dormiu tecnicamente nada nos últimos dias.
Hayley: Sei bem o horário que você trocou. – Disse, debochada. Foi ajudar Elena com a mala e a encontrou maquiando a marca de uma mordida na dobra do ombro.
Elena: Cale a boca. – Dispensou, e Hayley riu.
Jennifer: Do que vocês estão falando? – Perguntou, sem se conter.
Elena: Nada que seja da sua conta, pizza família. – Debochou, sorrindo. Jennifer ia responder, mas Stiles voltou pra chamá-las. A loira saiu na frente, querendo distancia de
Elena, que levantou, se espreguiçando.
Lydia: Espere. – Disse, vendo Elena e Hayley indo pra saída – Eu não ia
perguntar, juro por Deus, mas não chego a uma conclusão... Porque “pizza família”? – Elena riu gostosamente.
Elena: Porque dá pra todo mundo. – Respondeu, divertida, saindo em seguida. O vôo de volta foi tranqüilo. Elena se entupiu de café: Estava exausta. Anoitecia quando chegaram em Nova York. Ela já havia resolvido que ia deixar a mala pra amanhã: Tomaria seu remédio, um banho, e dormiria o sono dos justos. Porém,
ao chegarem no saguão do prédio, Stefan esperava lá. A cara dele não era nada boa.
Elijah: A saudade foi tanta? – Perguntou, sorrindo.
Stefan: Tentamos entrar em contato de toda forma, mas os celulares de vocês estão desligados. – Disse, irritado.
Lydia: Eu guardei. Sempre faço isso. – Disse, estranhando – O que aconteceu? –  Stefan hesitou por um instante, então se voltou, encarando Elena, que inconscientemente segurava o braço de Damon.
Stefan: Elena... É o seu pai. – Os olhos de Elena se arregalaram em choque –
Ele sofreu um acidente ontem de tarde. O carro capotou e colidiu com uma caçamba. - Elena viu a cena se dissolver lentamente. Toda a alegria e paz de espírito que estava sentindo se evaporaram instantaneamente, substituidos por um panico
sem precedentes. O peito dela se contraia dolorosamente, ela não conseguia respirar direito. Seu pai havia batido o carro. Foi grave o suficiente pra Stefan esperar ali, o carro capotou... Uma vertigem pegajosa subiu pela nuca dela, junto com um tremor violento.
Elena: Stefan... – Perguntou, sem querer perguntar, com medo da resposta – Onde está o meu pai?
Stefan: No hospital. – Elena respirou fundo, arfando, tremula – Eu soube
quando... - Eles foram interrompidos, porém, pela imprensa. Os Salvatore não eram nenhum tipo de celebridades, mas eram a família que mandava em Manhattan (Aliás, em
grande parte do país), logo sempre havia algum curioso, pronto pra conseguir uma foto e lançar algum tipo de fofoca.
Damon: Vamos subir. – Disse, apanhando Elena pelo braço.
O elevador foi cheio. Jennifer, sem a menor cerimônia, não ficou pra ouvir a história. Lydia ficou, mais por educação do que por preocupação. Stiles havia ido pra casa. Ao chegarem na cobertura, Stefan deu continuidade.
Stefan: Pelo que podemos supor, foi o seguinte: Seu pai estava no carro com a namorada dele, Susan, acho que era o nome. Eles discutiram no carro, ele se distraiu, então veio um perdeu o controle, quase topando com um ônibus. – Elena gemeu, torturada – Na tentativa de desviar do ônibus ele terminou passando pra outra pista,
onde colidiu com a caçamba. O impacto fez o carro capotar.
Elijah: Eu vou pro hospital. – Disse, apressado. Hayley assentiu, apertando o braço de Elena pra dar apoio, e seguiu o marido, apressada.
Elena: E ela...? – Perguntou, se sentindo aérea no choque.
Stefan: Ela não resistiu. – Elena caiu no choro, tapando a boca – Estava morta quando a ambulância chegou. O enterro foi hoje a tarde.
Elena: E meu pai? – Stefan hesitou, parecendo procurar palavras. Damon estava muito quieto. Lydia vasculhava a bolsinha de veludo, catando os celulares que ficaram com ela.
Stefan: A situação não é boa, Elena. – Disse, derrotado – Ele estava sem cinto de segurança, na hora o primeiro impacto o lançou contra o volante, e a pancada quebrou as costelas dele. O coração está tecnicamente esmagado dentro do peito, e os médicos não vêem um modo de operar ainda, há muitas arestas, o risco de perfuração é muito grande. – Elena ouviu aquilo sem reação, só as lagrimas denunciando que estava ouvindo.
Elena: E...?
Stefan: Quando o carro capotou ele ficou preso nas ferragens, perfurou varias artérias. Ele perdeu muito sangue. – Disse, desgostoso – Olhe, os médicos vão saber explicar melhor. – Elena assentiu.
Lydia: Irmão. – Damon a olhou, e ela devolveu os dois celulares dele e o de Elena – Eu sinto muito, Elena. – Disse, parecendo sincera, então deu as costas, separando celulares na bolsa enquanto se encaminhava pro elevador. Essa idéia nunca pareceu
tão estúpida.
Elena: Ele vai morrer? – Perguntou, rouca.
Stefan: Eu não sei te dizer isso. Me desculpe. – Disse, derrotado – Eu estava esperando vocês chegarem, não tinha mais como tentar entrar em contato. Vou avisar a Caroline que você chegou. Ela queria descer também, mas Clair está resfriada. –
Elena assentiu e Stefan seguiu o rastro de Lydia. Elena precisou de um instante pra assimilar tudo. Parecia uma realidade fora da sua. Sabia que Alexandre e a namorada brigavam, mas isso... O coração comprimido... Perdeu sangue demais... Se ele tivesse fora de risco, Stefan teria dito. Ela precisava ir pro hospital, precisava ver o pai. Quando se virou, porém, Damon tinha se sentado, observando-a, impassível. Não havia nem rastro do Damon alegre, leve e caloroso dos últimos dois dias.
Elena: Eu preciso ir pro hospital. Preciso ver o meu pai. – Disse, decidida, tirando o cabelo do rosto. Ele não se moveu. Estava muito sério – O que você está esperando?!
– Perguntou, exasperada, a voz tremula pelo rosto. Ele levou um instante pra responder.
Damon: Você não vai. – Anunciou, sério, os olhos azuis decididos.
Elena: É o que? – Perguntou, exasperada.
Damon: Você não vai sair. As coisas não mudaram, Elena. Você só sai do
apartamento com a minha autorização, e você não a tem. – Disse, tranqüilo.
Elena: Meu pai. Está. Morrendo. – Rosnou entre as lagrimas, furiosas – Não é hora de mostrar que você manda em mim, seu idiota!
Damon: Curioso. – Disse, impassível. Elena gemeu, nauseada, tirando o cabelo do rosto impacientemente. Não tinha tempo pra conversar, não tinha tempo pra nada – Há anos atrás era o meu pai morrendo, e por sua culpa eu não pude me despedir. – Lembrou, sereno. Elena congelou, percebendo do que se tratava – Bela contradição,
não é?
Elena: EU ERA UMA ADOLESCENTE! – Gritou o obvio, desesperada. – NÃO SABIA QUE DIABO VOCÊ FAZIA NO PRINCETON-PLAINSBORO, NÃO FIZ DE PROPOSITO!
Damon: Você nunca quis saber. – Reparou, tranqüilo, apesar da explosão dela – Eu só estou retribuindo o favor. Você vai sentir na pele o que eu senti, Elena. – Garantiu.
Elena: Nós crescemos, pelo amor de Deus. – Implorou, sem recursos. Não havia tempo – Você quer que eu implore, é isso? Quer que eu me ajoelhe?
Damon: Seria adorável. – Disse, com um sorriso enviesado – Pode fazer, se quiser, mas não vai resolver. Você não vai sair.
Elena: Isso não é um jogo. – Se recusou, tremula – Não agora. Meu pai está morrendo, eu não me importo com mais nada. Eu preciso ir ver ele.
Damon: Você continua falando e eu não sei porque. – Debochou, divertido, ligando o celular, sem dar bola a ela – Você não vai.
Elena: Vou, você querendo ou não. Eu quero o divorcio. – Disse, dura, e ele ergueu os olhos pra encará-la. Não havia nem um traço de blefe nos olhos dela: Estava falando
sério. Malfeito feito.

Damon: Desculpe? – Perguntou, observando-a.
Elena: Foda-se o seu contrato. Foda-se você. – Disse, enojada – Você ganhou. Eu quero o divorcio. – Disse, decidida – Chame a porra do elevador agora. – Damon sorriu.
Damon: Você agüentou um ano e meio. Eu estava até admirado. – Disse, satisfeito – Tudo bem. Amanhã, quando o cartório abrir, vamos até lá e daremos baixa no contrato. – Disse, satisfeito.
Elena: Chame o elevador. – Rosnou, parecendo fora de si. Damon caminhou, tranqüilo, indo até o aparelho de telefone. Tirou o aparelho, deixando só o fio. Ele
estava com o celular dela.
Damon: Você não vai sair hoje. – Disse, decidido. Damon foi pra cozinha, e ela parou na sala, incrédula. Alexandre estava
morrendo. Ela não sabia quanto tempo tinha, e Damon a prendeu. Não sobrou nem o telefone. Ela caminhou até a cozinha, desconsolada, e ele estava tranqüilo, amassando algo com um machucador. Enquanto ela observava ele gotejou água em cima do que quer que fosse que estivesse fazendo. Estava tranqüilo. Pra ele a morte de Alexandre não significava nada. Isso a enfureceu: Ela partiu pra briga. Acertou a orelha dele com um murro, mas a raiva dela a tornava vulnerável, e ele era mais forte. Já estava esperando aquilo. A dominou
facilmente, rindo, e a prendeu. O mais estranho: Forçou o dedo na boca dela,
com algo amargo, que a fez engasgar. Elena tossiu, tentando tirar aquilo da
boca, parecia uma pasta.
Elena: Que porra é essa, Damon? – Perguntou, com uma careta, abrindo a geladeira e se servindo de água. Seja lá o que ele tivesse colocado na boca dela travava, de tão amargo. Ela virou dois copos de água, e ele observou, sorrindo serenamente. Quando o gosto amenizou, ela se virou pra ela, furiosa – O que foi isso? - Damon apenas sorriu, colocando o pote dos remédios de dormir dela em cima
da mesa como resposta. Ele esmagou os comprimidos, empurrando na
garganta dela, e ela, facilitando tudo pra ele, se empanturrou de água. Nem que vomitasse agora deteria o efeito. Pelo contrário: O comprimido dissolvido agia mais rápido que inteiro.
Damon: Dorme neném, que a chuva vem ai... – Cantarolou, divertido.
Elena caiu de joelhos, derrotada, e ele se manteve sereno, como se o desespero ou as lagrimas dela não estivessem ali.
Elena: Pelo que você mais ama... – Suplicou, humilhada, as lagrimas caindo fluentemente. Já sentia a tontura conhecida do remédio – Eu faço qualquer coisa. 
Damon: Eis o que você vai fazer. – Disse, se aproximando. Ela o olhou, meio débil – Vai parar de insistir nisso, e vai pra cama, como a boa menina que você é. – Ele a carregou e Elena afundou o rosto na mão, chorando, desconsolada. Estava cansada da viagem, e já sentia o remédio lhe roubando a força. O pai dela ia morrer enquanto ela dormia.
Elena: Eu odeio você. – Disse, a voz falha pelo choro.
Damon: É assim que se fala. – Disse, pondo-a na cama – Boa noite. - Ele viu Elena apagar, o rosto pálido lavado em lagrimas, e sorriu de canto, sem
alegria alguma. Saiu do quarto, apanhando o telefone da sala e foi pro seu quarto, ligando pra Elijah.
Damon: Elena teve uma crise histérica. – Mentiu, deslavado – Não tenho como levá-la hoje.
Elijah: Onde ela está? – Perguntou, exasperado – Damon, a situação não é boa.
Damon: Eu sei... Mas faça o impossível. – Disse, olhando a cidade pela vidraça – Se ele morrer, meu casamento acaba. – Disse, convicto. Esse era um fato que não tinha
como refutar.

Mas aquela noite ainda ia ser longa. Damon trabalhou um pouco, depois foi dormir... E Elena acordou. Ela se levantou, caindo de joelhos, fraca, e olhou o relógio. Ia dar meia noite. O timing era perfeito. Cambaleou pra fora do quarto e correu pra academia. Sabia que os faxineiros entravam pela área de serviço mais ou menos esse horário, pra recolher o lixo sem serem notados. O lixo ainda estava lá. Ela apanhou um peso da academia e foi pra dispensa, esperando,
esperando...
Xxx: E juro a você, ele simplesmente driblou e afundou a cesta. Você devia ter visto. – Disse, a voz se aproximando. Elena estava atrás da porta, com o peso na mão. Descalça, cambaleava sozinha às vezes. Via tudo turvo. Sua cabeça doía pelo sono interrompido, mas Alexandre a esperava. Ela ouviu a chave entrando na porta da área de serviço e prendeu a respiração... Acertando a cabeça do faxineiro assim que ele entrou com o peso. O homem caiu no chão, estatelado, o celular caindo do lado, e ela saltou ele e desatou a correr. Só que ela estava no 40º andar. Elena se lançou nas escadas, correndo como se sua vida dependesse disso. Caiu varias vezes, rastejando pelos degraus até conseguir se levantar de novo. A visão estava turva, as pernas tremulas, e as escadas não acabavam nunca! Não sabia quanto tempo levou, nem quantas quedas, até que se bateu com a porta do térreo. Tateou em cego, puxando a maçaneta e abrindo-a... Caindo diretamente nos braços de Damon, que esperava. 
Damon: Indo a algum lugar, amor? – Perguntou, segurando-a. Elena o encarou, piscando varias vezes pra focalizar a imagem, gemendo em seguida – Está tarde.
Elena: Tire as mãos de mim, eu vou ver o meu pai... – Gemeu, rouca, caindo no choro de novo, tentando se soltar dele.
Damon: Você vai voltar pra cama. – Disse, decidido. Elena o olhou, piscando febrilmente. Não era possível... Ele estava dormindo... Quanto tempo ela levou nas
escadas?
Elena: Como você soube? – Perguntou, desolada.
Damon: Acordei com o barulho do pobre do funcionário que você abateu. A segurança me avisou em seguida que você estava na escada de emergência, mas não parecia bem, porque já havia caído duas vezes. Então eu desci e te esperei. – Disse, simples, ainda prendendo-a – Sabe, alguém mais inteligente teria descido um lance de escadas e recorrido a Stefan. Você sabe ser burra quando quer. – Debochou, divertido. Elena gemeu de novo, derrotada. Sua mente não estava funcionando. O plano foi
sair pela escada de emergência e conseguir um taxi – ela só não lembrava que eram tantas escadas.
Elena: Me deixe ir. – Pediu, débil, olhando-o. Tinha os lábios acinzentados, soada pelo esforço, os olhos vermelhos pelo choro, pálida. Ele não se compadeceu. Ela encheu o
pulmão de ar, gritando com o melhor que conseguia – SOCORRO! – Gritou, a voz ecoando pelo saguão, e ele tapou a boca dela.
Damon: Shhh! Não queremos acordar ninguém. – Debochou, apanhando-a no colo. O movimento de ser carregada quase apagou Elena de novo.
Segurança: Sr. Salvatore? – Perguntou, se aproximando. Elena lutou contra as pálpebras pesadas – Algum problema?
Elena: Socorro... – Disse, com o que conseguiu reunir de sua voz, mas estava quase apagada – Me ajude...
Damon: Em absoluto. – Negou, a voz tranqüila. Era claro que nenhum segurança ia contrariar o dono do prédio. Ela caiu no choro ao se sentir ser levada de novo. Ninguém ia ajudá-la. Seu pai estava morrendo. Damon entrou no elevador, parecendo divertido, e ela apagou
de novo, amolecendo nos braços dele. Dessa vez acabou.

Elena acordou zonza no dia seguinte. As lembranças da noite passada pareciam anuviadas, embaçadas... Mas foi ao se ver com a roupa que voltou de Vegas que a verdade a atingiu como um murro no estomago. Pulou da cama, saindo do quarto correndo, determinada a dar um jeito de sair dali. Encontrou Damon na
sala, com uma caneca de café, lendo o jornal.
Elena: Meu pai morreu? – Rosnou, furiosa, e ele ergueu os olhos, sorrindo em seguida.
Damon: Bom dia, querida. – Elena rosnou de novo, o ódio correndo em seu sangue, quente – Não, ele não morreu. Estava esperando você acordar pra saber se você prefere ir direto pro cartório, dar baixa no contrato, ou se prefere passar no hospital antes. – Disse, tranqüilo.
Elena: Damon, FODA-SE O SEU CONTRATO! – Rugiu, tirando o cabelo do rosto. Ele a observou, quieto.
Damon: Entendo. Vá se compor, vou levá-la ao hospital então. – Disse. Elena o olhou, furiosa e exasperada, mas assentiu. Brigar só a faria perder tempo. Entrou no chuveiro de cabeça, com a escova de dentes na boca, tomando o banho mais rápido que já tomou. Apanhou o primeiro par de roupas que encontrou, sem nem olhar, e vestiu. Se penteou, os cabelos molhados, e em 5 minutos estava pronta. Damon não disse nada no caminho do hospital. Parecia em paz consigo mesmo, coisa que não se via no geral. Elena nem esperou o carro parar totalmente pra pular pra
fora dele, entrando no hospital às pressas, deixando Damon pra trás.
Elijah: Até que enfim. – Disse, ao vê-la entrar na recepção as pressas. Ele tinha olheiras, obvias de quem perdeu a noite em claro.
Elena: Onde ele está? Ele está vivo? – Se atropelou.
Elijah: Me escute com atenção, porque eu preciso da sua autorização. – Elena
assentiu – Como Stefan disse, o volante esmagou as costelas dele. O coração está comprimido no peito, sem conseguir bater direito. Há arestas entre as fraturas, o que não nos possibilita nem movê-lo direito com segurança. Se um osso perfurar o
coração, não há nada que possamos fazer. – Elena assentiu.
Elena: Pra que você precisa da minha autorização? – Perguntou, as pressas. Damon chegou, caminhando tranqüilo, nesse momento.
Elijah: Eu reuni os melhores especialistas em ortopedia e cardiologia que eu tinha em
mãos. Chegamos que a única conclusão é operar. – Elena franziu o cenho, desembaralhando as lembranças.
Elena: Stefan disse que não havia como. – Lembrou. – Por favor, eu quero vê-lo, explique do modo mais simples que puder. Não entendo termos médicos.
Elijah: Encontramos outro modo. – Começou, simplificando – Vamos parar o coração dele. – Elena arregalou os olhos – Calma. Existe uma maquina que substitui a função
do coração por um determinado tempo, bombeando sangue pro corpo. Vamos parar o coração dele e deixá-lo na maquina, abrindo as fraturas para tentar repará-las. Se um osso perfurar o coração, nós podemos transplantar um novo.
Elena: Tem algum coração disponível? – Perguntou, aflita.
Elijah: No normal, não. Mesmo que consigamos reparar o coração, há dezenas de outros problemas graves espalhados pelos outros órgãos. Nenhum conselho o colocaria na fila de doadores. – Elena gemeu, os olhos se enchendo d‟água – Mas, pra encurtar conversa, eu contatei uns conhecidos e esse problema foi resolvido. – Claro. Sendo um Salvatore, conseguir um coração era o mínimo.
Elena: Tudo bem. Faça. – Autorizou, o desespero evidente em sua voz. Damon observava tudo, tranqüilo.
Elijah: É uma operação de altíssimo risco. As chances de haver alguma complicação, com o quadro que ele tem... – Ele respirou fundo – Existem altas chances de não dar certo. Eu não posso operá-lo: Não sou cardiologista e faço parte da família, mesmo
indiretamente, mas vou acompanhar. – Ele respirou fundo – Elena, eu preciso ser sincero. Nós vamos tentar, mas as probabilidades estão contra ele. – Garantiu.
Elena: Existe outro modo? E se ele não fizer a cirurgia? – Perguntou, devaneando.
Elijah: Com o coração comprimido como está, morrerá em questão de horas. – Disse, pesaroso.
Elena: Opere. – Disse, a voz morta – Se essa é a única chance, opere. – Elijah
ergueu pra ela a prancheta que tinha na mão, e ela assinou, autorizando a cirurgia – Eu quero vê-lo.
Elijah: Vamos preparar a sala de cirurgia. Você pode vê-lo, enquanto isso. – Elena assentiu. Elijah a levou por vários corredores, parando em uma porta que tinha as cortinas fechadas. Ele apontou a porta, pedindo licença, e ela olhou o vidro por um instante, ignorando Damon e respirando fundo pra recolher forças, puxando a porta de correr em seguida. Porém nada no mundo poderia tê-la preparado para o que a esperava ali. Alexandre estava todo machucado. Haviam roxos pelo rosto, inchaços, cortes. Estava imobilizado na cama, preso por ataduras, (Elena supôs que tudo aquilo era pra evitar que ele se movesse de alguma forma), e respirava superficialmente. Ela sabia que se ele respirasse fundo, se inspirasse... Ela sacudiu a cabeça. Haviam vários aparelhos em volta da cama, monitorizando cada respiração dele, que tinha um tubo de oxigênio no rosto. Havia sangue e soro sendo injetados nas veias dele. Estava pálido, parecia de papel, de tão
frágil.
Elena: Papai. – Murmurou, rouca pelo choro, se aproximando da cama.
Nem notou Damon ali, parado na porta. Se aproximou, prestes a tocá-lo, mas teve medo, então conteve as mãos, olhando-o, desolada. Damon observava tudo com o semblante duro, impassível.
Elena: Papai... – Disse, rouca, fungando pra dar firmeza a voz – Sou eu. Elena. Eu estou aqui, você vai ficar bem. – Ela respirou fundo, secando o rosto inutilmente – Vai dar tudo certo. Você é forte, sempre foi.
Alexandre: Elena... – Murmurou, rouco, e ela se refreou de tocá-lo de novo. Ele tinha os olhos semi abertos, a voz rouca.
Elena: Sou eu. Eu estou aqui. – Disse, afobada, secando as lagrimas. Demorou até ele responder.
Alexandre: Meu amor... Me perdoe. – Continuou, a voz tortuosa, olhando-a como podia – Eu devia ter... Ter sido seu pai. Não devia ter permitido que aquele desgraçado...
Elena: Não... – Cortou, contendo o impulso de tapar a boca dele – Não diga isso. Você é o melhor pai do mundo. Sempre foi.
Alexandre: Diga... Diga que me per... Que me perdoa. Diga agora. – Pediu, apanhando a mão dela, que estava do lado da dele na cama. Não havia força nenhuma, era só o toque.
Elena: Eu perdôo. Claro que eu perdôo. – Se apressou a dizer, com medo de que ele se alterasse. – Vão operar você logo, e vai ficar tudo bem. – Prometeu.
Alexandre: Meu peito dói. Minha cabeça... – Ele suspirou, se contendo, e olhou pra ela – Minha garota de ouro. Eu amo você. Sempre amei, sempre vou amar. – Elena soluçou. Era o modo como ele falava com ela desde que ela era pequena, algo intimo
dos dois, mas não tinha o mesmo significado agora.
Elena: Não se despeça de mim. – Pediu, desistindo de conter o choro. – Você é a única coisa que eu tenho, papai, por favor.
Alexandre: Aconteça... O que acontecer. – A respiração dele era difícil, rasa, parecia não suprir a necessidade de ar – Você vai... Vai seguir em frente. Vai seguir o seu...
Casamento... Vai me dar lindos netinhos... – Elena soluçou, desolada – E você vai ser... Feliz.
Elena: Não fale mais. Não se esforce tanto. – Disse, respirando fundo pra prender o choro.
Alexandre: Elena...
Elena: Não se despeça, papai. – Implorou, e dava dó ver o sofrimento dela. Era pânico, dor, desespero, tudo misturado, oprimindo-a. Damon estava quieto na porta, apenas olhando – Não faça isso comigo, não me deixe. Eu posso suportar tudo,
menos isso. – Completou, fanha pelo choro. Alexandre apenas a olhou. Não podia iludi-la: Apesar de não haver nenhuma dor insuportável, ele sentia que não havia reparo pra aquilo.
Alexandre: cante para mim querida. - perdiu fechando os olhos, Elena fez um pequeno carinho em seu rosto e segurou sua mão da forma que dava.
Elena: E só uma gota no oceano, uma mudança no clima - Cantarolou com o que lhe restava da voz. E as lágrimas insistiam em cair. - Eu estive rezando
Para que você e eu pudéssemos terminar juntos - Ela não aguentou essa parte, soluçou alto devido ao choro - É como desejar a chuva, enquanto eu estou no meio do deserto, mas estou segurando você, mais perto que a maioria... Porque você é meu céu. - Alexandre sorriu pra ela e nos minutos seguintes nenhuma palavra foi dita. Os dois apenas se olharam, ela acariciando a mão dele de leve, os dois se encarando como se aquele olhar dissesse tudo. E dizia. Então Elijah apareceu.
Elijah: Estamos prontos. Precisamos levá-lo agora. – Aquilo atingiu Elena de um modo que ela não esperava. Não estava pronta, entrou em pânico. Ela se abaixou do lado do pai, soluçando em seu choro.
Elena: Eu amo você. – Disse, fanha – Sempre amei, sempre vou amar.  - Alexandre esboçou o que pôde de um sorriso, então ela teve que deixá-lo ir.
Foram 10 enfermeiros para transferi-lo da cama para a maca, todos com todo o cuidado possível, e por fim ele foi levado. O pânico engolfou Elena , que levou as mãos até os cabelos, totalmente desorientada, sem ter noção de nada, a não ser de que... Ela nem ousava pensar... Então foi a vez de Hayley aparecer. Pelo visto, ela também não dormiu. Damon não se moveu esse tempo todo. Apenas assistia o pânico, a dor de Elena, como se fosse algo que merecesse ser estudado.
Hayley: Ei. – Disse, passando por Damon como se ele não estivesse ali. Ela abraçou Elena, que desabou em seu choro – Calma... Vamos sair daqui. Vai ficar tudo bem. Ele está nas mãos dos melhores médicos do país. – Consolou, tranqüilizando Elena.
Então foram para a sala de espera, perto da sala de operação. Grace estava lá, assim como Caroline (Stefan ficou com Clair, que continuava resfriada), e Stiles. Elena perdeu a conta das horas. Fez das lembranças um lugar seguro, e se refugiou lá. Se lembrou de quando Alexandre ganhou a guarda dela. Ela foi
internada, bulimica, esquelética: Pele e osso, os cabelos sem vida, os lábios
rachados, se odiando, mas ainda assim ele brincava com ela, dizendo que ela continuava linda, e que não sabia do que ela se queixava em questão de beleza. Um filme dos anos que vieram em seguida passou na mente dela. O dia em que ela recebeu alta: Ele se mudou com ela para New Jersey, pra uma mansão linda, e havia montado um quarto dos sonhos pra ela. Montou pra ela um lugar onde
nenhum traço do horror que ela havia vivido poderia alcançá-la. Uma vez que recebeu alta ele acompanhava a alimentação dela de perto: Dava a ela comida de aviãozinho, o que era patético, mas era o modo dele de mostrar preocupação. Levava ela ao psicólogo e então sempre descobria algo que tinha pra fazer de ultima hora, o que ela sabia que era obviamente uma desculpa pra deixá-la a sós com o psicólogo sem fazê-la se sentir mal. Passara tardes assistindo os filmes que ela escolhia com ela na sala, mesmo atrasando o trabalho, fazendo pouco caso dos galãs. Nas primeiras noites, receoso com a medicação forte, passava a
noite inteira acordado, velando o sono dela como se fosse um bebê, e sorria abertamente quando ela acordava no dia seguinte, saudável e sem nenhum pesadelo. Deu a ela o melhor que tinha em si mesmo. Quando o colegial acabou, foram para NY. Os dois desempacotaram as coisas juntos, descobrindo a nova casa juntos, o que foi maravilhoso... Então, aproximadamente 10 horas depois,
os médicos saíram aos poucos da sala de operação. Elena se levantou, Caroline e Hayley apoiando-a, então Elijah saiu. Ela encontrou o olhar dele, e soube. Mas era outra daquelas verdades que precisa ser dita em voz alta pra se tornar real...
Elijah: Nós fizemos todo o possível. – Disse, parecendo cansado, derrotado – Eu sinto muito, Elena. - E havia acabado.

Elijah tentou explicar, mas ela ouviu muito pouco. Pelo pouco que ouviu, no momento da reparação duas das arestas da fratura perfuraram o coração, o que os levou ao transplante. Foi uma cirurgia delicada, a remoção do coração
perfurado, a remoção dos pedaços de ossos que ficaram soltos, o transplante
do novo coração... Quando terminaram e por fim desligaram a maquina, reativando a função do coração, após alguns minutos houve rejeição pelo corpo. Para a reanimação eles não podiam utilizar eletrochoque, devido às costelas,
nem massagem cardíaca, os ossos se soltariam e perfurariam o coração novo. O único recurso era tentar reanimá-lo com adrenalina, o que não surtiu efeito. Elena não ouviu muita coisa; havia um zumbido em sua orelha, bloqueando-a do resto do mundo. Só uma coisa era clara na mente dela: Perdeu a única pessoa
que amou no mundo. Agora estava totalmente sozinha.

O velório durou a noite inteira. Elena agiu sem saber porque, guiada por
Caroline e Stefan: Foi pra casa, trocou de roupa e voltou pro velório. Quando, por fim, amanheceu, ela estava do lado do pai. Os cabelos estavam lambidos, caindo em volta do rosto pálido, marcado pelas lagrimas que caíram a noite inteira. O caixão de Alexandre foi de um mogno luxuoso, com lindas flores em cima. Perante a incapacidade de Elena de fazer qualquer coisa, Hayley se encarregou dos preparativos. Vendo o pai morto, as coisas pareciam sair de
foco. Não havia um motivo pra nada. Tudo o que Elena conseguia sentir era dor. Não viu as horas passarem, nem a quantidade de pessoas que entraram e saíram da capela; não se moveu a noite inteira, do lado do caixão, olhando o pai. As lagrimas caiam fluentemente, e esse era a única evidencia de que ela estava ali. Não viu o dia nascer, não viu nada, então chegou a hora. O velório de Alexandre foi cheio. Fora Elena, todos os Salvatore (exceto Jennifer), Stiles, amigos do pai de Elena, sócios... Houve muita gente. Até o pequeno Greg foi, bonitinho em um blazer preto, parecendo triste ao lado da mãe. Mary teve a cara de aparecer lá, mas Elena não teve forças pra fazer nada. Não ouviu as palavras do padre, nem de alguns amigos, não viu as dezenas de coroas de flores, e não teve condição de falar nada, só olhava o caixão agora fechado, com um crucifixo dourado em cima. Alexandre entenderia. No fim houve uma salva de palmas enquanto o caixão descia. Ela se sentia morrer cada palmo que descia. Flores foram jogadas, e Greg se aproximou dela. Ela virou o rosto, olhando o menino que tinha os olhos cheios d’água por vê-la daquele jeito. Ele tampouco disse nada: Apenas deu uma rosa branca a Elena, e a abraçou em seguida. Ela cambaleou, sem reação por um instante, então retribuiu o abraço.
As pessoas se aproximavam dela, dando os pêsames, dizendo que sentiam muito, mas ela não via os rostos. Greg continuou lá, abraçado a ela, e isso não a incomodou. Damon só se moveu duas vezes durante todo o processo: Da primeira pra mandar os seguranças dele tirarem a imprensa dali, e na segunda quando, no
final, Mary se aproximou de Elena. Não chorava, parecia muito neutra, enquanto Elena estava em migalhas. Ele se aproximou, parando atrás de Elena e encarando Mary, e aquele olhar dizia tudo. Ela se afastou. As pessoas ao pouco foram embora. Elena ficou no mesmo lugar, vendo os
funcionários do cemitério luxuoso encerrarem o tumulo com pedras de mármore branco. Já havia lá uma lapide com o nome do pai dela. Os Salvatore, vendo o estado dela, se encarregaram do que havia de ser feito. Elena não viu porque, nem como, Greg foi tirado dela. Ela não procurou saber. Quando ficou sozinha
se sentiu andando, então estava sentada do lado do tumulo do pai. Ela colocou a flor que Greg lhe deu em cima do tumulo, singela comparada as coroas de flores que haviam em volta, e chorou. Era tudo o que conseguia fazer, imersa na dor que sentia. Chorou, desolada, sozinha, mais abandonada que nunca, mais ferida do que jamais esteve. Não viu o tempo passar. A dor não diminuía, o choro também não. Devia ter passado algum, porque Damon veio buscá-la.
Damon: Elena. – Chamou, se abaixando do lado dela. Estava sério. Ela não reagiu, foi como se não tivesse ouvido. Algo frio a alfinetava, chuva, provavelmente – É hora de
ir.
Elena: Me deixe em paz. – Murmurou, rouca.
Grace: Querida, - Desde quando Grace estava ali? – Vai anoitecer. Você vai adoecer se continuar aqui.
Elena: É bom. Com sorte eu morro junto com ele. – Devaneou, o rosto pálido marcado pelas lagrimas, os olhos de um vermelho forte, irritados pelas lagrimas que não paravam de cair, os lábios sem cor.
Grace: Não diga isso. – Disse, e uma mão acariciou o cabelo dela. Provavelmente Grace.
Damon: Vamos pra casa. – Chamou, tentando convencê-la. Estava frio, ela de fato ia adoecer.
Elena: Me force. – Disse, sem dar a mínima pra quem estava ali – Você adora fazer isso mesmo...
Caroline: Elena. – Disse, firme, e Elena viu saltos pretos na grama a sua frente – Você não pode mais ficar aqui. Vamos. - Elena ergueu os olhos, que doeram perante a luz, e Caroline estava perto dela, tirando o blazer preto que usava. Ela se abaixou, envolvendo Elena com seu blazer, e abraçou a outra, pondo-a de pé. Elena não tinha força nas pernas,
entretanto. Não comia nada há muito tempo, não dormiu... Um braço forte passou pelo joelho dela e ela foi erguida do chão Damon a tomou de Caroline, carregando-a no peito e levando-a dali. Ela quis protestar, mas não conseguiu. Não conseguia
fazer mais nada.

Nas semanas que se seguiram, Elena não existiu. A Katherine Salvatore Designs parou, uma faixa de seda preta embaixo da fachada do ateliê. Ela apenas ficou encolhida na cama, chorando sua dor. Damon cuidou dela, por ironia. Depois de perceber que ela não ia reagir, assumiu o controle. Dava banho nela, penteava o
cabelo, semelhante ao que se faz com um bebê. Levava comida, o que no inicio foi problemático: Elena se recusava a comer ou beber, seja o que fosse.
Damon: Eu sei que você está me ouvindo. Ou você come, ou eu vou levá-la para o hospital. É sua escolha. – Avisou, sem obter resposta. Depois disso, após algumas tentativas ele conseguiu forçar a comida na boca
dela, assim como água. Quando a noite caía ele voltava lá e forçava os remédios na boca dela, fazendo-a dormir. Elena só saiu de casa na primeira semana, pra missa de 7º dia do pai. Fora isso, se encarcerou dentro do quarto. Quando não estava cuidando dela, Damon não interferia. A deixava sofrer sua dor em paz: Isso ele conseguia compreender. Quando Richard morrera ele levou meses sem falar, mesmo sendo levado a psicólogos, e recebendo todo dia de ajuda. Não queria que ninguém o incomodasse, logo ele não a incomodava. Caroline, Hayley, Grace e Greg iam lá todos os dias. Elena não reagia a ninguém. Encarava o vazio, parecendo não ouvir nem ver. Grace estava preocupada que ela pudesse estar enlouquecendo, levou psicólogos até lá, Elijah a visitava constantemente, e fisicamente ela estava sadia. Damon não se
preocupava em relação a isso, porque ele conhecia aquilo. Não era loucura, nem doença: Era dor. Bruta, maciça, sufocante. Ele já provou. Uma hora ela ia reagir, mas essa hora viria sozinha.
No decorrer das semanas Elena, que não saia do quarto, perdeu a cor. O cabelo estava sempre sem forma, caído, e os olhos não tinham vida. Damon não interferiu no processo: Só aparecia para dar banho nela e alimentá-la. Ela não saía de lá, não dizia nada, não fazia nada. Assim é compreensível a surpresa dele quando, um mês e meio após do enterro, ela apareceu no escritório dele (que vinha trabalhando em casa). Usava um moletom preto, calça e blusa, o cabelo curto estava esticado pra trás, preso em um rabo de cavalo curto. Não chorava mais.
Elena: Precisamos conversar. – Disse, séria, a voz rouca pela falta de uso,
respondendo a indagação muda do olhar dele.
Damon: De fato. – Disse, fechando a tampa do laptop e olhando-a. A próxima coisa de que se teve noção foi da mão de Elena cortando o ar, rápida como uma vespa, atingindo-o com um tapa na cara cujo som ecoou pela sala. Ele virou o rosto por um instante, com o impacto, a pele clara ganhando o a marca da mão dela em um vermelho escuro, e segurou a maxilar, balançando-a pros lados. No entanto, o fato de tê-lo acertado não pareceu ter alegrado Elena. Não parecia ter mudado nada.
Damon: Modo interessante de começar. – Comentou, balançando a maxilar mais uma vez e passando a mão onde recebeu o tapa, tentando conter o ardor absurdo.
Elena: Você estava certo. – Disse, rouca, se sentando na cadeira na frente da mesa.
Damon: Na maioria das vezes, estou. – Admitiu, parecendo bastante a vontade – Mas você se refere especificamente a...?
Elena: Eu estava apaixonada por você. – Disse, neutra, o rosto sem emoções. Ele ergueu as sobrancelhas – Sentia ciúme cada vez que você se afastava com outra, e me alegrava cada vez que voltava pra casa. Fui idiota o suficiente pra deixar isso acontecer. – Admitiu, pensativa. Ela percebeu isso nos dias em silencio, trancada no quarto. Percebeu quando ele se aproximava, percebeu pelo modo como seu corpo reagia à presença dele: Estava apaixonada por ele. Esteve em negação, mas agora era obvio. Faria qualquer coisa por ele. Só que, perante a dor do que ele a fez, esse sentimento apodreceu dentro dela, se convertendo em algo morto, em um ódio tão profundo, tão absoluto que chegava a ser doentio. Olhá-lo a dava um aperto no
estomago, falar o nome dele lhe amargava a boca.
Damon: E...?
Elena: E que agora eu percebi que você é a criatura mais desprezível que eu já tive o desprazer de conhecer. – Continuou, tranqüila. – Não existe perdão pro que você me fez, Damon.
Damon: Eu sei o que você está sentindo. Sei porque você me fez sentir isso, dez anos atrás. Eu só fiz você experimentar o próprio veneno. – Respondeu, tranqüilo – Com a
diferença de que você pôde se despedir; eu não.
Elena: E com a diferença de que éramos crianças e eu não tinha consciência do que estava te fazendo, enquanto agora somos adultos e você fez diretamente pra me infligir dor. – Corrigiu, o rosto sem emoções – Eu poderia ter passado a noite com o
meu pai, acalentá-lo perante tudo aquilo, mas graças a você passei a noite dormindo enquanto ele sofria sozinho. – Ela balançou a cabeça negativamente – Não existe
perdão.
Damon: Sei que não. Se houvesse, não estaríamos aqui. – Disse, obvio – Chegamos a um impasse. .
Elena: De fato. – Citou – Nosso casamento... Contrato... Perdeu o o fundamento. – Lembrou, fria. – Você conseguiu sua vingança. Tornou minha vida a mais miserável possível durante o ultimo ano, e no fim me devolveu a mesma moeda.
Damon: O que você acha que vai acontecer agora? – Perguntou, os olhos insondáveis.
Elena: Quero que você me venda a empresa do meu pai. – Disse, por fim – Quero que venda a mim, e depois me dê o divórcio. – Damon sorriu.
Damon: Você não tem dinheiro...
Elena:...Para mantê-la. Tenho mais que o suficiente para tomá-la de você e deixá-la falir, naturalmente. – Cortou.
Damon:...E mesmo que tenha, eu não quero seu dinheiro. – Continuou, como se não tivesse ouvido ela. Elena o encarou por um instante, os olhos frios.
Elena: O que você pretende fazer? – Perguntou, séria.
Damon: Seguir o plano original. Se você pedir o divórcio... Kaboom. – Ilustrou, sorrindo.
Elena: Não foi o suficiente, Damon? – Perguntou, imóvel - Tudo o que eu passei aqui não bastou? Porque ainda me quer aqui?
Damon: Quando eu me proponho a algo, não costumo desistir. – Dispensou. Elena respirou fundo.
Elena: Se eu ficar... Se você me fizer ficar... – Ela respirou fundo, com asco, então se inclinou pra frente, os olhos nos dele – Damon, eu não tenho mais nada a perder. Não é algo que você queira aspirar pra si. – Avisou, os olhos mortos.
Damon: Minha família... – Interrompido.
Elena: Não. Não tenho nada contra sua família. Meu alvo vai ser você. – Avisou, o rosto sem emoção nenhuma – Então eu estou pedindo: Me venda a empresa do meu pai, e me dê o divorcio. Vamos acabar com isso, de uma vez por todas. – Damon se
inclinou na direção dela, sorrindo.
Damon: Não. – Debochou, e ela sorriu de canto, um sorriso sem vida.
Elena: Muito bem. Se você faz tanta questão... – Ele assentiu, parecendo satisfeito – Mas você vai afastar suas mãos imundas da empresa do meu pai. Eu vou gerenciá-la daqui pra frente.
Damon: Desde quando você sabe administrar alguma coisa? – Perguntou, achando
graça.
Elena: Não é da sua conta. – Disse, dura. – Vou manter minha grife e a empresa dele, e você não vai se meter.
Damon: Como queira, madame. – Disse, observando-a. Elena hesitou, respirando fundo de novo.
Elena: Me deixe ir, Damon. – Pediu, uma ultima vez, e ele pensou ter visto algo nos olhos dela. Não conseguiu ver o que, entretanto.
Damon: Não, amor. – Negou, pela ultima vez.
Elena: Que fique claro que foi você que me fez ficar. – Disse, resignada – O que acontecer vai ser culpa sua. – Ele ficou quieto, o dedão traçando o lábio inferior, em silencio – Avise seus capangas que eu vou sair em meia hora. – Avisou, se levantando
e dando as costas. Damon a observou sair, neutra do mesmo modo que entrou, e se perguntou o que teria perdido naquela conversa. Se ela achava que estavam quites e que
tinha acabado, estava enganada. Acabaria quando ele dissesse. Elena, por sua vez, sentia apenas o misto poderoso de ódio e dor, que era o que dava força a ela pra se pôr de pé. Queria o divorcio: Queria sair daquele maldito prédio, daquela cidade e nunca mais voltar a ouvir o nome dele, mas estava fora de
cogitação deixar que ele brincasse com o nome do pai dela, debochasse dele, principalmente agora que ele não estava mais lá pra se defender. Ela o defenderia. O pensamento se formou e ganhou força imediatamente, se tornando uma
convicção. Damon queria que ela ficasse, então ela ficaria. Se ele queria tanto que ela levasse o sobrenome imundo dele, ela levaria. Mas não seria mais como a senhora Salvatore. Muito em breve, ela seria conhecida
de um modo melhor e melhorado: Ela seria a “viúva Salvatore”.

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EFEITO BORBOLETA 1° Temporada (DELENA) ADAPTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora