Capítulo 5- Boxe

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Ouvi a campainha. Levantei-me do sofá, com alguma dificuldade por ter o corpo dormente, e dirigi-me à porta de casa. Abri-a.

-Noelle...Que bom ver-te.- eu disse.

A bonita rapariga sorriu-me. Desviei-me do seu caminho para que pudesse entrar em minha casa.

-Trouxe filmes que podemos ver, se quiseres.- a sua voz melódica já não me era totalmente estranha.

Sentámo-nos no sofá encostados um ao outro. Os seus cabelos raspavam na minha cara, e eu podia sentir o cheiro do seu champo de chocolate.

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-LIAM LEVANTA O TEU CU GORDO DESSA CAMA!!! O QUERES CHEGAR ATRASADO AO TREINO?!!

Haverá melhor maneira de acordar senão com os fantásticos gritos da minha irmã? Sim. A resposta é sim, caso estejam com dúvidas. Ninguém acorda de maneiras piores. Nem aqueles pessoas um bocado passadas da vida que põem o despertador a fazer aqueles barulhos enormes tipo PI PI PI PI ou então aqueles que parece que o barco vai ao fundo que são tipo UÉÉÉUMMMM!!! Ho. Rrí. Vel.

Mas já agora... Que horas são mesmo? Olhei para o relógio que estava ao meu lado( AKA telemóvel). FUCK! SÃO FUCKING ONZE DA MANHÃ! Tenho que me levantar!

Depois da minha higiene matinal e de estar devidamente vestido fui ter com a Ruth a cozinha que me disse que a mãe e a Nicola tinham ido sair.

-A mãe foi aprovar a casa nova da Nicola.

Foi só isso que ela me respondeu, por isso supus que a minha irma mais velha ia finalmente sair do ninho. A casa sem ela já ficar estranha. Quem é que me ia defender de tudo agr??? É suposto eu ficar sozinho no exército? Quem é que vai pregar partidas à Ruth??

Despedi-me da minha irmã e saí de casa para apanhar o autocarro.

***

Andar de autocarro sempre fora algo muito enfadonho na minha vida. Ficar sentado à espera que um homem que não conheço me leve ao meu destino. Mas sempre aproveitei para olhar para as pessoas. As caras delas. As expressões. Maioritariamente cansadas. Para onde iriam? De onde viriam? Será que tinham à espera delas alguém que as fizesse felizes? Ou uma má notícia? Observar as pessoas é o que, para além da minha música, me distrai no autocarro.

Mas hoje, e hoje apenas, algo na minha mente me distraía. Algo me puxava para fora daquele veículo amarelo comprido. O sonho. Ela. O meu sonho evoluiu. Aconteceu mais do que era previsto. Foi tão estranho. Tão bom.

***

Dei outro murro no saco pesado que estava a minha frente. Este apenas abanou um pouco por ser um dos mais pesados. Não desisti, continuando a aplicar as mais diversas técnicas que aprendera.

Sempre que vinha para aqui lembrava-me do porquê de ter começado a lutar. Tento sempre transformar a dor do passado em força para aguentar o presente. Às vezes é difícil. Penso no sofrimento que me causaram. Na humilhação que senti. Lembro-me de mim deitado no chão, o sangue à minha volta. De me dizerem que não valia nada, que não era ninguém. Senti-me tão sozinho, tão vulnerável, tão ridículo. Não me consegui defender quando Jackson me bateu com os amigos. Era como um boneco imóvel. Como este saco em que estou a bater. Imóvel, a quem se pode fazer tudo. Foi por isso que decidi começar a lutar. Para me defender. Mas o boxe não apaga o passado. Não o rescreve. Não apaga danos psicológicos.

"Every day every hour
Turn the pain into power."

***

Assim que cheguei a casa corri para o banho pois a Ruth comentou "VAI TOMAR BANHO IMEDIATAMENTE! CHEIRAS A ORNINTORRINCO MORTO!", assim que viu. Tive para lhe responder que ela nunca tinha cheirado um ornintorrinco morto, mas achei desnecessário, porque eu cheirava mesmo a qualquer tipo de animal sem vida.

Noelle •L.P. Fanfiction•Onde histórias criam vida. Descubra agora