Eu poderia beijar Pandora de novo.
De novo. De novo. De novo.
Agora não consigo parar de pensar que eu posso beijá-la de novo. Nossas risadas ecoando depois do segundo beijo e ela coçando a nuca, sem graça, dizendo até amanhã. E eu não pude zombar sobre a timidez dela de repente porque também estava à flor da pele, acenando igual uma idiota enquanto ela se afastava. Nos conhecemos há mais de uma década e ainda sim, ainda sim, soou totalmente novo pra mim. Entrei em casa, fechei a porta e precisei me encostar nela por alguns segundos para absorver.
Em alto e bom som.
Estou abraçando meu próprio corpo deitada na cama, como se entre meus braços estivesse a cena inteira. O beijo, cada palavra que saiu da boca da Pandora, o modo como ela agiu como uma idiota enquanto tentava se despedir. O jeito que eu agi como uma idiota porque, sabe, a gente cresce sabendo que esse sentimento é bom. Mas lidar com o quão bom é na prática é demais.
É tudo que nunca deixei meu cérebro imaginar. Nunca deixei imaginar que estaria tão perto de ser a garota que Pandora queria, assim como quero. Nunca. Mas ainda sim, é como se ele também estivesse esperando demais por algo que talvez nem viesse.
Mas veio.
E a tradução próxima para esse sentimento é como o mar era pra mim quando criança. Quando simplesmente ficar perto do mar era a coisa mais legal do mundo. Que eu voltava com um sorriso gigantesco pra casa. Não parava de falar, falar, falar sobre cada detalhe do dia — que não era muito diferente do anterior ou do seguinte, mas parecia incrível.
Acho que o amor é sobre ser a mesma coisa sempre e ainda soar a coisa mais fantástica do mundo, todos os dias. Ou pelo menos era assim com o mar.
Ainda sim, não é tão parecido. Quando se trata da declaração de Pandora surtindo efeito em mim, não é só sobre reciprocidade ou sobre meu peito estar querendo me fazer dizer em alto e bom som que estou apaixonada por ela e que esse sentimento é novo. É sobre desbloquear na minha mente o que realmente me faz bem me imaginar na situação.
Um encontro romântico com uma garota. Dançar na praia com uma garota. Beijar uma garota. Desbloquear a parte da minha mente em que posso finalmente imaginar as coisas do jeito certo.
E é muito bom.
Tão bom que eu me atraso pela milésima vez na aula de educação física.
Provavelmente um combo de acordar tarde, demorar no chuveiro, demorar se vestindo e andar feito uma idiota. Mas uma idiota feliz por não estar mais me forçando a algo que não fazia sentido. Não pra mim.
Parando pra pensar, é a penúltima vez que isso é possível. Atrasar para a aula de educação física. Então, vamos fingir que é só pra manter a tradição. Estive tão idiota no percurso inteiro até o colégio que só quando olho por uns bons segundos para os meus próprios pés que percebo que, apesar das duas serem rosas, as meias não são do mesmo par. E eu olho, desconcertada porque Pandora está encostada no muro da área da quadra, bebendo água.
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A Origem de Gênesis
Teen FictionGênesis tinha vários objetivos para o seu ensino médio, bem organizados em uma to do list. Só que alguns, em especial, eram mais importantes. Primeiro, entraria para o tão sonhado grupo de cheerleaders Furiosas do colégio Quartzo. Segundo, ficaria b...