32 - Famílias Minúsculas

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Voltamos à estaca zero

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Voltamos à estaca zero.

Eu queria fingir que está tudo bem voltar a mesma sensação de antes, mas não está. Tipo, não "bem", quis dizer que estou conseguindo lidar melhor com essa coisa no meu peito me apertando nos momentos mais importunos e me fazendo chorar. Quando Pandora me deixou naquela vez, me senti insignificante. Boa parte do tempo, procurei saber onde errei. Eu pensei que tivesse superado isso. Deveria ter superado isso. Ela me disse o motivo, foi sincera e não foi por idiotice. Juro que entendi o lado dela porque aquele medo também se tornou o meu.

Só que... eu não sabia o motivo por três anos. E isso me machucou. E o motivo dela podia ser o mais plausível de todos — perdoável pela pessoa mais rancorosa do mundo — e a espera de três anos ainda teria feito um estrago. E esse estrago foi visível quando eu me vi no Isaac, com o coração partido por uma amizade. Se eu tivesse sido corajosa, teria agido do mesmo jeito com Pandora há três anos atrás. Teria feito um discurso sobre o quão insensível ela era por me deixar sem explicações e seria plausível da minha parte. Talvez a amizade nunca teria sido a mesma.

Todas as palavras de Isaac soaram machucadas.

No fim, ele era legal demais pra mim.

E o violino voltou para debaixo da cama enquanto eu encharcava meu travesseiro de lágrimas.

A culpa está me consumindo três vezes mais dessa vez. Eu pensei que tivesse começado a lidar bem, mas foi uma pura ilusão do meu cérebro. É como se após quinta-feira todas as sensações que superei tivessem voltado. Culpa por não sentir nada por Isaac. Se eu tivesse tido qualquer faísca por ele, talvez eu estivesse no momento namorando um garoto legal e Pandora seria minha melhor amiga. E isso é mais sobre o vazio na carteira da Pandora, nessa segunda-feira, ou não ter visto Isaac. Ou sobre as olheiras embaixo dos olhos e as mãos que desbloqueiam o celular, vão até as mensagens da conversa da Pandora e percebe que elas nunca chegaram.

Melhor assim, estou com raiva dela.

Eu estou... com raiva dela.

Estou me sentindo culpada também.

Não ter tido coerência com meus sentimentos me enganou e machucou uma pessoa. Não sei como me explicar sendo sincera.

Até porque ser sincera implica em aceitar minhas responsabilidades.

E eu ainda estou na fase das olheiras e do cabelo que mais parece um ninho de passarinho. Não estou na fase de chamar ninguém pra conversar e assumir minha culpa nisso.

Você estragou tudo. Não mudou nada.

E mesmo assim...

Droga.

Eu estou me olhando no espelho. É só uma confirmação que não deveria sair de casa hoje, mas tem uma incógnita em ficar em casa. Meu tio, depois de um bom tempo, está aqui. Em Nova Atlântida. Eu nem preciso dizer qual maldito lugar ele gosta de ficar porque é sempre assim. É sempre esse lugar. Esse lugar idiota com areia clara e cheio de crianças pulando nas ondas minúsculas. Mas família pequena significa família unida, pelo menos a minha.

A Origem de GênesisOnde histórias criam vida. Descubra agora