Capítulo 1

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POV S/n

Fumaça. Muita fumaça, que me fazia lacrimejar e não conseguir respirar direito. A sensação de sufocamento era insuportável e eu já não tinha mais forças para gritar. Minha garganta parecia em carne viva e o desespero tomou conta do meu corpo me fazendo tremer incontrolavelmente. Me agachei naquele cubículo e pensei que a minha hora havia chegado. Que coisa mais patética, morrer no primeiro dia de faculdade. Eu seria lembrada como a garota que morreu queimada. "Será que eu vou assombrar a universidade pelo resto da minha existência?" Fazia sentido já que eu era só uma menina órfã e sem muita importância para ninguém.

Eu estava começando a perder a consciência, mas ainda não deixava de lamentar por ter sido tão ingênua de cair na conversa daquelas meninas veteranas. Eu era só a caloura idiota que não sabia onde estava e fui mandada para um quartinho de manutenção. Quando tentei sair, vi que estava trancada ali dentro. Chamei várias vezes, mas ninguém me atendeu. Meu celular não tinha sinal ali dentro e eu só me sentei no chão e esperei até que algum funcionário entrasse naquele lugar. Eu só não esperava a fumaça entrando por debaixo da porta.

A princípio eu achei que fazia parte do trote e fosse só mais uma coisa para me assustar, mas quando começou a ficar muito quente e o cheiro de queimado se tornou insuportável, eu vi que estava completamente ferrada. Eu gritei e esmurrei a porta infinitas vezes pedindo por socorro. Porém agora quase completamente sem voz e sufocada, eu não tinha mais forças para pedir por ajuda e simplesmente deixei o meu corpo cair no chão. A minha visão completamente embaçada pelas lágrimas causadas pela fumaça me obrigou a fechar os olhos com força. Era questão de tempo até o fogo chegar ali, tudo já estava muito quente, havia se tornado impossível segurar a maçaneta da porta, as paredes estavam pelando também.

E como um bálsamo, a inconsciência foi me chamando. Era tão convidativo, como o colo carinhoso da minha mãe e eu fui me entregando aos poucos, mantendo os meus olhos fechados e tentando respirar o pouca ar que ainda havia naquele lugar. Mas quando eu já estava praticamente desacordada, um barulho alto me trouxe de volta e logo em seguida senti dois braços me erguendo do chão. Tentei enxergar alguma coisa, mas não consegui ver o rosto de quem me carregava, porém eu pude ouvir a sua voz dizendo que tudo ficaria bem e vi algo borrado tomando todo o seu pescoço, parecia uma tatuagem, mas eu não tive certeza, porque a inconsciência me levou mais uma vez e eu apaguei completamente. Contudo, o som daquela voz continuou ecoando na minha mente infinitas vezes. Por que ela parecia tão familiar?

POV Taehyung

Primeiro dia de um novo ano letivo aqui na faculdade e isso sempre me deixava animado. Era como se eu tivesse uma outra chance para aproveitar e conhecer novas pessoas interessantes. E foi com esse pensamento que eu me levantei esta manhã. Eu era bolsista na maior e mais importante universidade do país e isso gerava certo interesse das outras pessoas. Era legal ser uma espécie de celebridade naquele lugar, quem diria que a minha facilidade em aprender a  tocar qualquer instrumento musical me traria esse tipo de popularidade e me faria "a cara" do curso de música? Tinha alguns outdoor's com o meu rosto estampado espalhados pela cidade e isso era estranho e ao mesmo tempo, bem legal. E aqui a minha aparência "peculiar" não parecia incomodar em nada, muito pelo contrário, dava a impressão de despertar ainda mais o  interesse das pessoas.

A minha vida nos últimos anos havia se tornado muito melhor do que antes. Veja bem, eu não estou aqui para chorar as minhas mágoas do passado, até

porque não foi tão ruim assim ser criado pelos meus avós maternos. Eu não conheço o meu pai, ele me abandonou quando eu ainda estava na barriga da minha mãe.  E, bom, eu sei que sempre fui algum tipo de estorvo para ela e na primeira oportunidade de se livrar de mim, a minha mãe também não perdeu a chance de me deixar com os meus avós e se mudar para outro país em busca de uma vida melhor para cuidar de mim. Só que ela nunca voltou para me buscar.  Porém, diferente do meu pai, a minha mãe manda dinheiro para mim todos os meses, sem exceção. Ela só não tem interesse em manter contato com o próprio filho, ela se estabilizou, se encontrou e não existe lugar para mim em sua vida.

Questão De Tempo - Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora