CAPÍTULO 4 - O COELHO NA LUA

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23/09/1782 (Segunda-feira)

Durante os primeiros raios da manhã, um jovem alfa prestava atenção no ritmo dos cascos de um cavalo batendo no chão. O clima estava ameno, tão úmido quanto sempre, mas a falta do vento tornava o ar pesado para se respirar. Talvez estivesse mais fresco perto da orla onde deveria ter pego a balsa no rio Mersey, mas os movimentos da água embrulhavam seu estômago, o que sempre o fazia optar por uma carruagem para o trajeto de Londres a Liverpool, mesmo que isso adicionasse um dia de viagem.

Observava as mudanças de cor na vegetação, metade verde, metade palha, sem saber mais o que fazer para matar o tempo. O livro em seu colo já não despertava seu interesse, e já não tinha mais sono depois de dormir (muito mal) a noite toda.

As tiras de couro que prendiam os arreios dos cavalos pendiam das mãos calejadas do beta ao seu lado em uma cadência quase musical. 1, 2, 3, 4. Couro, arreio, ferradura, chão.

O senhor pretende visitar alguém em Liverpool? - Sua divagação foi interrompida pela voz do cocheiro, que até então havia se mostrado um homem de poucas palavras.

- Voltando para casa, na verdade, alguns assuntos pessoais fizeram necessário que eu fosse a Londres. Mas por que pergunta?

Não é que o rapaz fosse rude ou desrespeitoso, era simplesmente curioso e comunicativo por natureza. E se aquela era a oportunidade de manter um assunto depois de três dias de silêncio, não podia desperdiçá-la.

- Há uns poucos dias trouxe um outro rapaz que estava a caminho de lá. Fizemos quase esse mesmo trajeto até Stafford, mas ele preferiu pegar a balsa em Birkenhead. Disse que estava indo a trabalho, então pensei que talvez o senhor fosse vê-lo.

A criatividade das pessoas sempre fazia o alfa sorrir. Naqueles três dias, seu companheiro de viagem deve ter imaginado milhares de histórias. Talvez ele e o viajante anterior fossem amantes, talvez fossem inimigos mortais, amigos de longa data que se perderam através do tempo, noivos proibidos, espiões da rainha. Nada o deliciava mais do que ser um personagem nas fantasias dos outros.

- Infelizmente ainda não tive o prazer de conhecê-lo. - Pôde perceber uma leve decepção em seu novo amigo, que com certeza também ansiava por uma boa crônica que matasse o tempo. - Mas me conte mais sobre ele. Não devo passar pela cidade dessa vez, já que meu corpo mal pode esperar para chegar à Solar e descansar, mas quem sabe eu não tenha a chance de conhecê-lo numa próxima?

- Seria uma ótima coincidência, de fato! Mas não tenho muito o que dizer. Era um ômega bastante quieto, então não dividiu quase nada comigo. Tinha um cheiro diferente... Limão com algo suave, mas não consigo lembrar.

O alfa suspirou. A verdade é que sentia falta do cheiro de um ômega em particular, mas não aquele que havia viajado em seu lugar dias antes. Se respirasse fundo, poderia quase sentir a brisa trazer o aroma doce com um leve toque de coco, mas isso não era uma informação que pretendia dividir com o boleeiro.

- Prometo ficar atento a esse ômega então. - Viu o sorriso do outro no canto do olho. As fábulas alheias pareciam ser a principal e única fonte de entretenimento daquele beta. - Mas que rude da minha parte, acredito que não perguntei seu nome?

- É falha minha não ter me apresentado, senhor. Sou Hwang Seowoo.

- Prazer em conhecê-lo, Seowoo-ssi. Me chamo Kim Taehyung.

- Já lhe disseram que sua companhia é extremamente agradável, Sr. Kim? A maioria das pessoas são tão quietas...

O resto do percurso passou mais rápido do que o jovem esperava. Seowoo também era um bom acompanhante. Conversaram sobre as diferenças de se viver no campo ou na capital, e se o beta procedeu em lhe contar todas as "novidades" que ouvia de seus passageiros, bem, não era da conta de ninguém.

Love Is Blind - SOPE A|B|OOnde histórias criam vida. Descubra agora