CAPÍTULO 8 - MEU. SEU?

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26/09/1782 (Quinta-feira)

Em outra vida, Seokjin poderia ter se apaixonado por Moonbyul.

Havia algo tão particular e bonito naquela garota e mesmo não sendo do tipo que gosta de chamar atenção, era impossível não admirar a mulher que ela era. Equilibrava nos braços umas cinco jarras de vinho da safra passada que tinha ajudado Wheein a encontrar, mas fazia questão de que os copos de todos que passavam por ela fossem cheios. Brincava com as crianças, e mexia no cabelo de Jungkook, sempre lá, nunca indecorosa, mas sempre atenciosa a tudo e todos ao seu redor.

E ali, assistindo todas aquelas pessoas na mesa de jantar celebrando mais um inverno farto, quente e seguro, ele mal podia acreditar como, não importava quando, nem onde: Byulyi sempre seria Byulyi.

Tudo começou em...

30/05/1774 (Segunda-feira)

Naquela época, Seokjin mal conhecia Byul. Conversava mais com seu pai, que, como ele, gostava de pescar na proa do navio quando não tinha vento nas velas.

Moon JunWon era um velho boticário que havia perdido tudo nas mãos dos cobradores de impostos do imperador. Tinha calos nas mãos e rugas no rosto. Apertava os olhos para enxergar melhor, costurava as mangas do vestido da filha quando rasgavam e quando algumas pessoas a bordo ficaram doentes, puxou Jin pelo braço no meio dos tripulantes e o fez ajudar, com um senso de propósito e de obrigação que despertaram algo no rapaz, um tipo de admiração e devoção que jamais havia sentido.

Seokjin era bom nessa coisa de curar. Nada mal para um iniciante. Mas estavam no mar há quase dois meses, com oito pessoas febris, três cobertas de feridas e uma precisando urgentemente de uma amputação.

E os recursos já estavam pela metade.

07/07/1774 (Quinta-feira)

Lá pelo meio do verão, Seokjin ofereceu sua cama a alguém que precisava mais. Dormia em uma rede ao lado de Byulyi que gostava de inventar nomes para as constelações. Chamava a Ursa Maior de panela de macarrão e dizia que Orion parecia Kim segurando um graveto, o que não era necessariamente mentira.

Esses eram seus momentos favoritos. A paz que antecedia a tempestade, que sempre vinha de um jeito ou de outro.

Naquele dia, o nome da trovoada era Jeon Jungkook.

O garoto era alto para um ômega. Tinha um corte no braço, já velho de alguns dias e claramente infeccionado. E mesmo a saúde do garoto estando em óbvio risco, uma de suas amigas, uma mulher com cheiro de laranjas chamada Wheein, não permitia que JunWon administrasse mercúrio no ferimento.

- Eu sinto muito pelo inconveniente, JunWon-nim. Mas nós já vimos envenenamentos por mercúrio em Joseon e eu não estou disposta a apostar a vida de Jungkookie por algo que pode matá-lo de qualquer jeito. - Wheein se recusava a sair do caminho, com os braços cruzados em frente à porta da cabine do paciente.

- E o que é que você sabe sobre medicina, criança? Da última vez que chequei, ômegas não eram permitidos nos templos. - Moon já estava no último fio de sua paciência.

- Eu não sou médica, não. Mas fui criada por um, tão arrogante quanto, mas felizmente mais capacitado que o senhor. Acredite quando eu digo que não há nada que vá me fazer sair daqui enquanto sua intenção for usar mercúrio.

- Olhe em volta, garota! Nós não temos quase nada nesse lugar e a não ser que você queira levar o corpo de seu amigo para a Inglaterra em um barril de rum, eu sugiro sair da minha frente!

Love Is Blind - SOPE A|B|OOnde histórias criam vida. Descubra agora