CAPÍTULO 6 - ENTRE MATO E MAR

824 169 200
                                    

Desde quando Hoseok podia se lembrar, os alfas ao seu redor fumavam em cachimbos. Era uma alternativa mais sofisticada à mascar tabaco como os camponeses faziam, mas vinha com um preço: a argila não era resistente ao calor e queimava os dedos dos fumantes pouco a pouco através dos anos, derretendo suas digitais e tornando a pele fina e sensível. Não que isso atrapalhasse muito a vida de aristocratas que não engajavam em qualquer atividade manual além de escrever cartas e participar de orgias, mas esse simplesmente não era o tipo de homem que Hoseok gostaria de ser.

Ele era um líder, sim. Mas também era amigo e companheiro de seu povo. Ajudava a colher cada grão, participava das caçadas, transferia o gado para outros pastos quando a grama secava. Hoseok, mesmo tendo os bolsos cheios de prata, tinha os mesmos calos nas mãos que seus pais e os pais deles, pessoas humildes, forjadas com muita luta e muita fé.

Honestamente, ele nem gostava de fumar. O cheiro do fumo trazia suas melhores memórias de infância, como sentar aos pés de seu avô e ouvir histórias sobre terras de fantasia e contos de fada.

Mas a fumaça era desagradável. Tudo que Hoseok amou foi tirado dele pela fumaça, e ele não estava disposto a entregar sua vida a ela também.

Diversos curandeiros e médicos, inclusive Seokjin, citavam os diversos benefícios de fumar plantas medicinais, mas Jung tinha uma fonte muito mais confiável de se seguir.

- Ainda vai demorar uns quarenta e oito anos até os alemães descobrirem que cachimbos de sarça não queimam a mão. - Hyejin disse, entrando no escritório de Hoseok certa vez com uma caixa de madeira nos braços. - Esses aqui devem manter o cheiro mesmo se não forem acesos. E se quer a opinião de especialistas daqui uns 300 anos, é melhor não acender mesmo, faz mal aos pulmões.

Colocou o caixote pesado sobre a mesa e abriu. Grossos canudos de folha seca enfileirados e etiquetados pareciam caros e delicados.

- O que são? E de quando? - O rapaz perguntou, passando os dedos pelo produto e levando um ao nariz para cheirar.

- 1834. Se não me engano o nome será traduzido para "charuto", mas eu definitivamente preciso melhorar meu espanhol para a próxima vez.

- Não são ingleses? - Hoseok aproximou um dos cigarros para tentar ler o rótulo. - É seguro mantê-los?

- São cubanos. Tabaco de qualidade não brota no frio, Hoba. E sim, você pode ficar com eles. A menos que tente patenteá-los ou vendê-los, o curso da história não deve ser alterado. Eu preciso ir agora, mas diga a Taehyung que estou com saudades. - A alfa se despediu, já a meio caminho para fora, mas parou no meio do corredor. - Já ia me esquecendo! Feliz aniversário, oppa!

26/09/1782 (Quinta-feira)

Mais de cinco anos haviam se passado. Hoseok estava mais velho, talvez até mesmo um pouco mais sábio. Taehyung já não era seu parceiro e Jung já não podia mais ler letrinhas pequenas de etiquetas em espanhol. Mas os charutos continuaram em sua mesa.

Todos os dias, ele tateava a caixa e tirava um deles. Sentia o cheiro forte, guardava no coração, e depois de volta na gaveta com um suspiro.

Estava sempre exausto, sempre desanimado, mas aquela manhã era particularmente incômoda. Todos os moradores foram convocados para ajudar com os estoques de inverno, e em outros tempos, Hoseok estaria coordenando tudo, cortando bambu ou depenando galinhas, talvez correndo lado a lado com Taehyungie em suas quatro patas, pêlos ao vento.

Mas depois de tanto tempo sem ajudar, suas mãos eram finas e macias, como as dos aristocratas com seus cachimbos de argila.

Suas cortinas não foram abertas. Ele mesmo pediu a Namjoon que não se preocupasse com nada, pois sem Yoongi perambulando pela casa, Hoseok podia circular tranquilamente.

Love Is Blind - SOPE A|B|OOnde histórias criam vida. Descubra agora