CAPÍTULO 10 - LUA DA ALVORADA

748 119 177
                                    

02/10/1782 (Quarta-feira)

Só havia escuridão. Completa e impenetrável. Maciça o bastante para que fosse sentida, como a pressão de águas profundas. O cheiro no ar era o de suor, de carne queimada, de fumaça e de desespero e em algum lugar naquele breu, uma voz soava familiar, mas se perdia no véu de trevas que tornava impossível discernir o que era dito.

De repente, luz.

E com ela uma dor intensa que percorria seu braço. Do ombro às pontas dos dedos, tudo doía, mas a dor era familiar de certa forma, natural, parte de seu ser.

Quando conseguiu abrir os olhos, lutando contra a agonia, pôde ver o chão de terra, iluminado por uma dança de tons de laranja, banhado por uma chama forte que não sabia de onde vinha.

- Jimin! - A mesma voz outra vez, um pouco mais nítida.- Jimin, por favor!

Quem quer que fosse, soava desesperado. Gritava seu nome, angústia entremeada em cada nota, arranhando a garganta e chorando em uma aflição intensa.

- JIMIN! - Mais uma vez.

Jimin sentia que deveria saber quem o chamava, deveria reconhecer aquela voz, não importando o que ela dissesse, mas estava tudo tão... confuso.

Tentou andar até ela, mas percebeu que não conseguia. Amarras fortes prendiam seu corpo no lugar. De onde tinham vindo?

- Eu vou matá-los, Jungkook! Todos eles! ESTÃO ME OUVINDO?! EU VOU MATAR TODOS VOCÊS E QUEIMAR ESSA CIDADE ATÉ O PÓ POR TEREM TIRADO JIMIN DE MIM!

Taehyung. Era Taehyung, seu Taehyung, o Taehyung que amava, o Taehyung que havia jurado amar e proteger enquanto... Vivesse.

Sentiu uma das cordas se partir e, após libertar seu braço, tentou esticá-lo na direção do alfa, mas um calor súbito varreu seu rosto.

Os fantasmas de seus nervos ainda se moviam, mas em seus delírios de dor percebeu que não era mais seu braço ali.

Ao invés de músculos, longas plumas douradas, incandescentes e refinadas, enfeitadas por finas chamas que percorriam toda a asa. Forçou o outro lado do corpo para frente até que todas as cortas queimassem, se libertando, e soube que estava livre para voar, finalmente.

Alçou-se do chão, batendo suas novas asas e deixando pequenas labaredas pelo caminho, planou até Taehyung, que estava ajoelhado no chão, em prantos nos braços de Jungkook que o abraçava com olhos vermelhos.

- Eu estou aqui, Tae. Está tudo bem! - Jimin disse, mas nenhum dos dois parecia ouvi-lo.

Queria poder tocar seus rostos, tranquilizar as duas pessoas mais próximas de seu coração, mas tinha medo de que pudesse queimá-los.

Nem sabia mais quanto tempo passou ali, de joelhos ao lado daqueles que significavam tudo para ele, assistindo-os chorar, impotente. Os amava e os feria em similar proporção e não havia escapatória.

Quando se levantou finalmente, derrotado, encontrou uma última pessoa.

Hoseok.

O alfa o encarava com profundos olhos castanhos, cheios de um estranho misto de superioridade e tristeza.

E então, acordou e suspirou.

Vez ou outra, tinha sonhos assim, que pareciam reais o bastante para deixá-lo sem ar, mas que não faziam sentido algum na luz da manhã e acordava sempre antes do nascer do sol, com uma dor de cabeça horrível que o acompanharia por todo o dia.

Levantou da cama, um pouco tonto, e sentiu o cheiro de pão de ló fresco e xarope de lavanda se alastrando por toda a casa e viajando diretamente para o seu rosto, como um beijo de bom dia.

Love Is Blind - SOPE A|B|OOnde histórias criam vida. Descubra agora