27/09/1782 (Sexta-feira)
A princípio, Yoongi pensou que estivesse engasgando, como se tivesse um caroço de abacate alojado em sua garganta impedindo que respirasse apropriadamente já que, ó meu deus, como se respira pelo nariz? Como se engasga com o caroço de um abacate que não se comeu? Como pode Yoongi estar quase correndo se seus joelhos pedem para falhar, e como pode, céus, um alfa com os olhos brancos feito madrepérola? Como pode? Como pode? Como pode?
Em algum lugar o vento assobiava pela fresta de uma janela. Um choro agoniado que deixava o ômega desnorteado, e que não parava, mesmo sendo estranho que estivesse ventando naquela direção e naquele corredor que nem sequer tinha janelas. Tropeçou na beira do tapete, o que o fez morder o lábio e cessar imediatamente aquele som que não era do vento, mas dele, e sua boca sangrou um pouquinho, deixando um gosto metálico na língua.
As batidas de seu coração ficavam mais fortes enquanto agarrava a camisa entre os dedos, arranhando o próprio peito e se perguntando se seria possível arrancá-lo antes que doesse mais, e que decepção seria morrer daquele jeito, pois lhe disseram que veria sua vida inteira diante dos olhos, mas Yoongi mal havia vivido!
O que veria? O orfanato? As ruas de Londres abarrotadas de ambulantes e estrume? Veria os campos de trigo do Solar, veria Namjoon ou Jungkook ou Wheein? Veria os olhos brancos de Hoseok?
Os olhos brancos de Hoseok, os olhos brancos de Hoseok, os olhos brancos de Hoseok.
Algo enraizado no mais profundo ser de Yoongi doía. A verdadeira base de tudo que ele sabia e acreditava desmoronou em uns poucos segundos. Vinte oito anos de vida se esfarelaram quase fisicamente à sua frente
E tudo que ele tinha era o conhecido. O certo. O permanente. Quem era ele se não as coisas que o fizeram, tudo que lhe ensinaram, quem era ele, um pequeno ômega de sabe deus onde, sabe deus de quem, quem era Min Yoongi sem sua fé de que em um mundo tão sujo, errado e caótico, havia uma linha de esperança, um cálice de prata, um resquício de retidão e de perfeição que eram os alfas? Se tudo nesse mundo pode ser quebrado e imperfeito, se até aqueles que eram moldados à imagem e semelhança do impecável podiam ser danificados, o que se fazia dele, ferido e feio, minúsculo e errado Yoongi?
Seus pés se embolavam nos degraus da escadaria e o secretário sentia como se tivesse pesos de chumbo amarrados aos braços, escorrendo pela parede ao chão feito chuva forte, sem forças.
Estava morrendo. O pulso acelerado, a visão turva e uma palpitação tão intensa que fazia doer todo o corpo. Iria morrer sozinho.
Seus amigos estavam ocupados e longe demais para ajudar e mesmo que não estivessem, o que fariam?
Yoongi nunca se casou. Nunca teve filhos. Não tinha família, e as pessoas que o toleravam podiam ser contadas em uma mão.
E isso nunca o havia incomodado tanto assim, até aquele momento. Ele era sozinho, mas não necessariamente solitário e o que ninguém diz sobre a solidão é que ela machuca mais que a perspectiva de partir, mais que a ideia de morrer. Era mais aterrorizante saber que o abraço da morte seria o único e último e seu réquiem seria o próprio choro.
- Yoongi-ssi, consegue me entender? - Que voz linda tinha seu ceifador. Um pouco familiar e tão cheia de preocupação que só podia significar que o Alfa teve pena e mandou um anjo para o acalmar em seus últimos momentos. - Preste atenção na minha voz. Posso segurar suas mãos?
Yoongi achava que havia dito sim, mas não tinha completa certeza se ainda controlava seu corpo.
- Eu estou aqui. Você está seguro.
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Love Is Blind - SOPE A|B|O
أدب الهواةLondres é uma cidade perigosa, especialmente para um ômega. Yoongi estava decidido a abandonar o emprego de professor no orfanato onde cresceu, e a oportunidade perfeita apareceu em um anúncio de jornal que buscava um secretário para uma mansão no i...