Love Is Blind - SOPE A|B|O

CAPÍTULO 1 - SOLAR VIDETUR

20/09/1782 (Sexta-feira)

Uma coisa que sempre fascinava Yoongi nos outonos da Inglaterra, era como tudo ao seu redor adquiria um tom rico de dourado. Fazia com que se sentisse sempre andando em um campo de trigo e causava um estranho senso de gratidão, pois sabia como o cenário era diferente em sua terra natal. Sempre ouvia seus hyungs do orfanato falando sobre como a Europa era úmida e chuvosa, sempre mantendo a vegetação viva, mesmo em setembro. Min se pegava pensando naquela época do ano que, não fossem os campos de arroz, a Coréia teria fome.

Às vezes sonhava com os campos de arroz. Embora nunca tenha adotado seu nome ocidental, – pequeno Jamie, o chamavam quando criança – jamais conheceu seu primeiro lar, e tudo que sabia de lá era através de livros e das histórias dos imigrantes mais velhos.

Os pais de Yoongi fugiram da fome em 1754, escondidos em um cargueiro chinês que deveria levá-los até Londres. Mas os marinheiros se infectaram com a peste branca ao desembarcarem para abastecer provisões na Índia. Como camponeses mal alimentados e de saúde fraca que eram, o casal padeceu da doença pouco depois, deixando seu recém-nascido nos braços do capitão, que largou o garoto no primeiro orfanato que encontrou ao chegar na capital britânica. Os deuses pareciam ter um plano para ele, que não envolvia conhecer seus pais, seu país ou campos de arroz.

Apesar de tudo, nunca usou de infortúnios como desculpa para conquistar menos. Foi educado duramente pelas freiras do St. Anne, e por muitos anos lecionou no mesmo prédio onde cresceu.

Mas agora, com vinte oito, Yoongi estava cansado. Londres era suja demais, agitada demais, apertada demais, perigosa para um pequeno ômega como ele, o que o fazia pensar constantemente sobre como gostaria de deixar aquele lugar, enquanto lia o jornal sobre o café todas as manhãs.

E como se por intervenção divina, um anúncio chamou sua atenção no folhetim de primeiro de setembro. Uma mansão de um senhor feudal coreano alguns quilômetros fora de Liverpool procurava por alguém com instrução para um cargo de secretário. Era perfeito.

Foi assim que havia chegado ali, analisando a grama dourada no começo de uma estrada de terra, o cabelo claro se embolando com o vento e a mão direita carregando uma pequena mala de couro marrom enquanto caminhava na direção da mansão que havia lido sobre.

Era um lugar impressionante. A casa principal subia três andares na direção do céu, com grossas paredes de pedra cobertas por uma planta trepadeira em flor, diversos botões amarelos pendiam dos galhos entrelaçados e fizeram Yoongi pensar brevemente sobre quão competentes os funcionários dali provavelmente eram para manter a beleza daqueles ramos, mesmo no outono.

Na grande porta de carvalho, emoldurado por canteiros de hortênsias como algum tipo de divindade, um mordomo aguardava sua chegada. Era alto, com cabelos lisos e loiros, e seu uniforme pendia perfeitamente alinhado dos ombros austeros. "Um ômega perfeito.", Min se pegou pensando, enquanto sentia uma brisa trazendo o cheiro de alecrim e erva-doce vindo do homem, que puxava uma fina corrente do bolso, ligada a um relógio de prata.

- Sua pontualidade é, de fato, bastante britânica, senhor Min.

- Como deveria ser. – Yoongi o cumprimentou, com uma curta reverência.

- Kim Namjoon. – O mordomo correspondeu o movimento, e abriu a porta. – Me acompanhe, por gentileza. Vai ficar frio daqui a pouco e tenho certeza que essa conversa será melhor aproveitada se acompanhada de chá quente.

Assim que atravessou o portal, o mais baixo sentiu a diferença na temperatura. Enquanto lá fora um vento frio anunciava o fim do ano, o hall de entrada estava aquecido como um abraço de mãe. Tudo era lindamente iluminado por castiçais de ouro e candelabros antigos, cobertos com cera de velas que eram substituídas de tempos em tempos. Ao respirar fundo, sentia-se cheiro de pão saindo quentinho do forno. Yoongi nunca conheceu conforto maior.