CAPÍTULO 7 - CONFIE EM MIM

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27/09/1782 (Sexta-feira)

Estava próximo das três da manhã quando sentiu seu corpo queimar. Já não era mais ele mesmo. O último resquício de sanidade que ainda possuía rlhe escorria por entre os dedos, se perdendo lentamente no sangue que parecia ferver em suas veias, apenas brevemente consciente do nome que saía de seus lábios.

Seokjin.

Seokjin, Seokjin, Seokjin.

Tudo ao seu redor era sobre Seokjin. A brisa tinha seu cheiro, as cortinas o mesmo tom castanho de seus cabelos. Sentia como se pudesse desenhá-lo no ar, desejava que pudesse materializá-lo, que sua vontade, seu desejo, fossem suficientes para fazê-lo surgir ali, no meio de seu quarto em uma madrugada de outono.

Não havia explicação. Namjoon, que se considerava um homem inteligente, não conseguia racionalizar um motivo para querer tanto a presença de alguém com quem sequer era compatível. Não compartilhavam ideais, nem conversavam sobre seus pensamentos, mas nada disso mudava a única palavra em sua garganta...

- Seokjin, Seokjin, Seokjin! Por favor, Seokjin!

Sua imaginação voava livre, como um pardal nascido em gaiola que estica as asas pela primeira vez. Seokjin e seus ombros largos, sua cintura estreita, suas pernas fortes. Seokjin lhe rasgando a camisa, arranhando seu peito, mordendo seu pescoço como um pêssego primaveril.

Seokjin o fazendo seu.

- Seokjin! - Namjoon tentava não dizer, mas o nome arranhava o caminho por entre seus dentes, doce em sua língua, como se fosse feita apenas para chamar pelo alfa.

- Seokjin! Seokjin! - Sua alma, seu corpo, seu ômega gritavam na mesma frequência do formigamento na base de seu torso.

- Seokjin... - Tentou mais uma vez.

Talvez, se fosse honesto, admitiria que tinha esperança de que ele viria se chamasse com vontade. Mas quando a porta de seu quarto se abriu e no lugar do alfa, Wheein com um castiçal em uma mão e um pedaço de pano cobrindo o nariz, Namjoon usou toda sua força para não dizer aquele nome mais uma vez.

- Jungkook. - Ele disse invés.

Namjoon amava o quarto de Jungkook.

Há muito tempo, quando chegaram a Liverpool, Hoseok contratou arquitetos para planejar a mansão. Todos trabalharam duro na construção, mas ninguém estava mais motivado que o maknae. Hoseok lhe deu permissão para usar parte do andar superior para um telescópio, com a condição de que se empenhasse em suas lições de inglês.

Em pouco tempo, Jungkook era quase fluente, praticamente um engenheiro e orgulhoso dono de um quarto de dois andares.

Era maior do que o do próprio Hoseok, com uma escada em espiral no meio, cheia de ganchos que penduravam vasos de flor. Tapetes macios no primeiro andar, carpete de palha trançada no segundo, com janelas em todas as direções possíveis e sua luneta gigantesca trespassada em uma clarabóia, em direção às estrelas. Paredes pintadas com paisagens, retratos, curvas e ondas, e cortinas finas que abafavam levemente a luz de ambos nascer e pôr do sol, gentil cor de âmbar que banhava os lençóis como um cálido beijo dourado.

Todas essas coisas eram símbolos do que Jungkook era. Sua inteligência, sua gentileza e sua criatividade. Sua capacidade de beijar o corpo de Namjoon e fazê-lo se sentir como se fosse feito de ouro.

O mais novo não estava dormindo quando Wheein bateu em sua porta. Atendeu já de pijama, com um par de óculos na ponta do nariz. Namjoon reconheceu vagamente em cima da escrivaninha o livro de entomologia que o havia presenteado em seu aniversário.

Love Is Blind - SOPE A|B|OOnde histórias criam vida. Descubra agora