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“So, before you go
Was there something I could’ve to said to make your heart beat better?”
Before you go –
Lewis Capaldi.


 
 
 
 
Percy dormiu na casa de Annabeth Chase, embora fosse terminantemente proibido por Atena – o que não fazia sentido algum, já que a filha dormia na casa do moreno quase todo dia.

Mas dessa vez, Atena abriu uma exceção nas regras, talvez já tivesse sido informada sobre o Jason.

Chase estava horrível e bastante preocupada com o namorado. Percy, sentado no sofá com Frederick, parecia tentar absorver a morte de Jason. Ela estava com medo de deixá-lo sozinho. Poxa!, os dois tinham crescido juntos como melhores amigos, eram primos e, agora, Jason sofre um acidente de avião e infelizmente não sobrevive. O coração dela se apertou pela perda.

Atena, que estava terminando de preparar o macarrão do jantar, suspirou do lado da filha.

– Eu sinto muito mesmo, Annabeth, pelo Jason. Foi tão... horrível.

– É – ela concordou sem animação.

– Zeus me ligou contando. Ele disse que vai fazer de tudo pra... achar alguma coisa do Jason e trazer de volta. Isso não era pra era acontecido. – Atena ficou calada.

A loira desviou o olhar para a toalha de prato em sua mão.

– Estou triste, claro. Jason era meu amigo, eu gostava dele, mas estou mais preocupada com o Percy.

– Ele vai ficar bem, mas se quer um conselho, Perseus vai precisar do seu apoio agora.

Ela assentiu. O telefone da mãe começou a tocar e Atena saiu para atendê-lo.

De noite, Chase fingia dormir, e ela tinha certeza de que Percy também estava fingindo. Ele se remexia de um lado para o outro na cama. Foi então que percebeu que ele tinha hiperatividade.

Ela se sentou na cama e olhou para o namorado. Percy estava com os olhos embaçados, ela tinha certeza. Não foi preciso palavras para se entenderem. Ele se aconchegou no abraço da loira e começou a chorar baixinho.
 

Dois dias depois...

Chase caminhou até o banco de madeira do parque e se sentou com sua caixa de rosquinhas e café em cima do seu colo. McLean estava sentada sozinha alguns minutos naquele banco, mas isso não fez com que ela quebrasse o silêncio, pelo menos não imediatamente. Ela observou a morena. McLean olhava fixamente o nada em sua frente enquanto mexia inconscientemente o latte quente para esfriá-lo. Estava perdida nos pensamentos, e a amiga sabia exatamente quais eram. Era incrível como apenas uma notícia ruim estragava toda uma semana.

– Tem certeza de que quer ir? Se você não estiver se sentindo bem, eles vão entender.

– Não – disse. – Quero fazer isso. Tenho que fazer isso.

As duas ficaram novamente em silêncio.

– Vamos – a loira chamou. – Vamos lá.

Elas seguiram todo o caminho no carro da Chase em um silêncio mórbido que sugava qualquer felicidade. Um buraco negro não faria um trabalho tão bom quanto aquele silêncio.

No portão da pequena pista de vôo, carros estacionados enchiam as vagas do lado de fora. A imprensa corria para lá e para cá tentando arrancar alguma informação dos convidados daquele evento, ou pelo menos deduzir qual seria o próximo grande furo de notícia. Chase entendia que estavam apenas fazendo o trabalho deles e que não tinham relação sentimental com Jason em nada, mas mesmo assim, ficou pensando se eles não podiam ter um pouco mais de consideração por eles. Já era ruim tudo aquilo, quanto mais tocavam na ferida, mais doía. Talvez fosse por isso que as pessoas mais poderosas, e ricas, faziam eventos secretos ou contratavam milhares de seguranças, porque só queriam paz.
McLean continuava neutra no banco de passageiro, mas a amiga provavelmente estava pensando no que iria ver.

Como informado no protocolo pelos seguranças, assim que elas saíram do carro, já dentro da área alugada por Zeus, colocaram óculos escuros e não olharam para trás, de onde os flashes vinham. As duas caminharam alguns metros com o vento batendo no rosto e viraram à direita, onde um jatinho particular e um grupo de pessoas esperavam em frente a uma caixa, ou caixão.

Chase logo reconheceu seus pais, amigos, Zeus, Hera, Percy e Thalia.

Dessa vez, Thalia estava de branco.

Sua expressão não era nem um pouco feliz, naturalmente, mas ela estava tranquila, mais tranquila que Hera. Hera, sob o véu longo e preto, chorava compulsivamente nos braços do marido, que não demonstrava nada pela perda do filho mais jovem. Todos estavam em silêncio, esperando que fizessem alguma coisa. Assim que as duas últimas chegaram, Thalia chegou perto da caixa e a beijou. Um beijo longo e demorado enquanto suas lágrimas caíam pela bochecha.

Ela se afastou e olhou para todos.

– Muito obrigada por virem – sua voz firme deixava a entender que vinha treinando bastante para não desabar. – Jason ficaria feliz em saber que todos nós nos importamos muito com ele, que o amávamos. Como vimos nesses últimos dias, infelizmente, perdemos nosso companheiro tragicamente. O que nós... conseguimos achar dele, não conseguimos suportar e tivemos que cremá-lo. Ah, pequeno irmãozinho – ela riu e secou uma lágrima –, vou sentir tanta falta. Me lembro como se fosse ontem o dia que ele tentou comer um grampeador e acabou com uma cicatriz na boca. E quando ele me protegia mesmo eu sendo a mais velha? Meu pequeno herói... Jason, meu irmão, que você descanse em paz.

Então ela se agachou novamente e beijou a caixa. Ninguém disse nada, ninguém fez outro discurso. Todos continuaram calados presos em seus próprios pensamentos. Zeus, por fim, levantou a cabeça e conduziu.

– Meus amigos, por favor, vamos partilhar uma última refeição com Jason, para que, assim, ele possa voltar para casa em paz – e apontou para a enorme mesa com pratos de comida.

Todos se sentaram e comeram em silêncio, comeram o que conseguiam comer, porque quase não tinham fome. Percy, do lado da loira, mal tocou na comida, o que era não era do fetio dele. Havia no mínimo umas quarenta pessoas ali, a maioria, Chase se perguntava quem eram ou o que tinham a ver com o loiro falecido.

Depois que todos terminaram, Zeus pegou uma taça de água e foi até a caixa com as cinzas de Jason. Ninguém parecia notar que o homem havia discretamente se dirigido para lá, mas Chase notou. Zeus andou até a caixa, ficou parado alguns segundos, talvez refletindo tudo, e derramou todo o copo d’água em cima da caixa. A água desapareceu. Chase ficou boquiaberta. Não, ela pensou, só não estou vendo a água, mas ela está lá. Ou talvez a tensão dos últimos dias estava a deixando cansada. Não teve muito tempo para pensar nisso, porque Percy se sentou ao seu lado novamente e isso direcionou toda a atenção dela a ele.

Chase passou uma mão nas costas dele.

– Ei, quer conversar?

– Não – disse –, só ficar em silêncio. Não sei muito o que falar.

– Nem eu – ela concordou. – Mas que tal começar falando como está se sentindo?

– Mal.

Isso foi o suficiente para ela ficar calada por alguns minutos desconfortáveis. Percy suspirou.

– Me desculpe, Anna. Eu só realmente não quero conversar, me desculpe.

Chase assentiu.

– Vamos fazer o seguinte, vamos dar uma visitinha no Empire State, ok?

– Certo.

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