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"Oh come and save me, we're crazy
But still I keep on dreaming of you" 
Save me -
Vintage Culture.



Annabeth Chase acordou zonza.

Chase poderia dizer de quem era a voz que ela reconhecia no fundo se não estivesse grogue e confusa. Ela abriu os olhos se forçando a acordar definitivamente. Estava em um galpão escuro e sujo, com barras de ferro que iam de um lado para o outro e teias de aranha enormes – não via nenhuma aranha por perto, então estava tranquila quanto a isso. Um único fiapo de luz natural vinha do alto. Ela olhou para cima e perdeu o fôlego. Com seus conhecimentos de engenharia, o telhado cederia logo logo se continuasse segurando aquela grande bola preta de metal. Cederia em cima dela.

Assustada, ela tentou se levantar e percebeu em cima da hora que as mãos  e os pés estavam amarrados. Chase caiu de cara no chão, fazendo ecoar o barulho da queda. Se não tivesse um pano na boca, teria grunido.

As vozes pararam de conversar, e a loira escutou passos vindo para perto dela. Sua cadeira foi levantada e um homem com um terno marrom de seda e uma expressão régia e fria apareceu na frente dela.

Chase fez a sua melhor cara de má, e o homem apenas gargalhou debochando. Tirou o pedaço de pano da boca dela.

– Então você é a filha de Atena e a namoradinha do filho de Poseidon?

Ela não respondeu.

– Certo. Vai bancar a difícil – ele tirou um canivete afiado do bolso e o aproximou do pescoço da garota. – Vamos fazer do jeito mais difícil.

Chase engoliu em seco, tentando pensar no que fazer para sobreviver.

– O que você quer comigo?

– Oh, isso é fácil. Queremos começar uma guerra, e você vai servir de estopim. Pense direito, filha de Atena, você é muito inteligente, está no seu sangue.

– Vou servir de Helena – Chase disse depois de um tempo.

– Sim. Ah! O rapto da Helena de Troia! Aquele sequestro deu o que se falar por milênios...

– Mas que guerra é essa? Não sou tão importante a ponto de uma Terceira Guerra Mundial.

Mantenha ele falando, pensou.

– Isso, pequena, é apenas um acerto de contas. Algo mais antigo que você pode ter noção. Seria como uma Segunda Guerra Fria. Fique tranquila quanto a sua vida, prometi que não te mataria, não enquanto você puder ser um objeto de barganha.

Chase não gostou nem um pouco do comentário.

– Que horas são?

Ele a olhou desconfiado.

– Umas sete da manhã. Me surpreendo que você tenha dormido por tanto tempo, mesmo com a droga.

A loira olhou para longe.

– Acha que eles virão atrás de você? Acha mesmo isso? Acha que eles farão de tudo para que você volte? – Como se soubesse o que estava pensando, o homem perguntou. – Estou começando a ter pena de você, filha de Atena. É cética o suficiente para não perceber todas as falhas na sua realidade.

– Como é?

Ele gargalhou.

– Você vai ser uma boa companhia. Talvez ele esteja certo em não te matar agora.

– Ele? Ele quem?

O homem começou a subir uma escada atrás dela – Chase sabia disso por conta dos rangidos de metal.

– Quem é você? – Ela gritou.

O homem parou. Deduzia que ele se virou para ela.

– Sou apenas um general. Apaguem ela.

•••

Chase sonhou com Percy. Ele estava sentado em um banco numa praça arborizada entre dois homens fortes que usavam terno e óculos escuro. O garoto estava chorando silenciosamente enquanto fitava o celular. Ela poderia afirmar que, com a força que ele segurava, ele quebraria o aparelho eletrônico. Vê-lo daquele jeito, fez seu coração pesar.

Chase quis correr até ele, abraça-lo, beija-lo e dizer que estava tudo bem, que ela não queria vê-lo assim, mas suas pernas não se moveram e sua voz não saiu.
Outro homem, parecido com Percy, porém mais velho e com barba, se aproximou dele e os três se levantaram. Percy o abraçou e eles saíram de lá, se distanciando da garota.

O sonho dela mudou. Ela estava no topo de um prédio em Manhattan. Era noite e as nuvens cercavam a ilha numa chuva fina com uma forte ventania. Um temporal estava para vir. Chase se virou e viu três figuras com capas de chuva e guarda-chuvas.

Ela quase se engasgou com o vento – que a empurrava para o precipício, em uma queda lenta e rápida em direção à morte – quando viu que uma das figuras era a sua mãe. Atena Parthenos usava seu blazer adaptado e saltos altos brancos. Seu rosto estava sombrio, como se uma nuvem estivesse pairando na sua frente. Ela discutia com os dois homens de costas para a loira. Parecia irritada, prestes a explodir, o que não era normal, já que Atena sempre tinha um plano para ganhar uma discussão.

Chase pôde andar no sonho, e a cada passo que dava para poder ver quem eram os outros, mais assustada e com medo ficava. Seu coração batia aceleradamente. Ela segurou nas costas de um deles, e na hora de virar, o vento a empurrou para fora do terraço. Gritou.

Chase acordou sentindo que estava caindo. Por alguns instantes, pensou que estava tudo bem, que estava em casa e que tudo não passara de um sonho, mas ela olhou em volta. Definitivamente não estava em casa.

O sol batia na cabeça dela, a aquecendo. Poderia ser meio-dia, ou talvez três da tarde, ela não estava ligando.

Annabeth Chase estava cansada.











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