[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2021 na categoria YOUNG ADULT]
Tem poucas coisas que Eva Aquário não odeia no mundo, e elas são: biscoitos sabor limão, matemática e garotas. De resto, ela faz questão de deixar claro o quanto não suporta.
Eva não suporta...
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A NOITE ESTÁ surpreendentemente fria quando saímos da Lanchonete Limonada. Algumas pessoas ainda estão na rua, fantasiadas, e Mina e eu caminhamos juntas, ela falando sobre os melhores lugares pra pegar doces, como se eu conhecesse direito os bairros da cidade.
— Mas a gente não tem muito tempo, então vamos torcer pra achar alguma casa ainda entregando doces por aqui mesmo — ela avisa, olhando pra mim e sorrindo. — Posso te pedir uma coisa que... eu sempre quis pedir, mas nunca tive coragem?
Ergo uma sobrancelha, sem saber o que esperar.
— Pede.
— A gente pode andar de mãos dadas?
Abro o maior sorriso, me rendendo na mesma hora. Estendo a minha palma na sua direção e a sinto segurar firme, nossos dedos se entrelaçando em um encaixe perfeito.
— Sei que possivelmente a gente já deu as mãos assim antes — ela diz, sorrindo com os olhos. — Mas agora é diferente. Agora é... mais bonito.
Concordo, apertando sua mão de leve.
Cruzamos uma esquina e alcançamos uma área mais residencial. Seria um pouco assustador andar tão tarde da noite pela cidade, mas as ruas ainda estão movimentadas, gente indo e vindo com fantasias cada vez mais variadas e criativas. Cruzamos com um cara vestido de árvore de Natal, e não seguramos o riso.
— Acho que ninguém vai me dar doces. Não comigo vestida assim.
Mina me olha de cima a baixo, como se só notasse agora que estou com uma meia-fantasia tosca de pirata.
— Do que você tá fantasiada, aliás?
— De Eva Aquário — brinco, e ela ri, me pedindo pra falar sério. — O Bruno me emprestou o colete da fantasia dele e... — tiro o tapa-olho do bolso do meu short, o colocando no rosto —... isso aqui, ó.
— Era pra ser um pirata? — Mina pergunta, e eu assinto como se a resposta fosse óbvia. — Sem querer ofender, mas tá péssimo, Eva.
— Eu sei, mas foi o melhor que a gente conseguiu.
Mina me encara por alguns segundos, me analisando. Antes que a gente alcance uma das casas com as luzes ainda acesas, ela me puxa até uma arruela, um espaço estreito entre uma casa e outra.
— Calma, eu vou dar um jeito nisso — avisa, tirando do bolso da calça um lápis de olho.
— Por que você anda com isso?
— Ah, eu não podia sair de casa sem. Sou uma vampira, esqueceu?
Solto uma risada, sentindo a ponta do lápis começar a manchar o meu rosto.