9 - condomínio falsa escócia

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MAMÃE SEMPRE DIZ que combino com preto, e eu nunca discordei disso, porque de fato a cor universal do luto faz bem o meu estilo

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MAMÃE SEMPRE DIZ que combino com preto, e eu nunca discordei disso, porque de fato a cor universal do luto faz bem o meu estilo. Mas enquanto me encaro no espelho do meu quarto, usando a minha melhor camiseta escura e short da mesma cor, eu me pergunto se não seria melhor ter ao menos uma roupa colorida, mais alegre ou sei lá. Porque é a primeira vez que Mina me verá usando algo que não seja o uniforme da escola, e ainda que eu não dê a mínima para isso, eu só queria não parecer que estou indo para um enterro.

Antes das três da tarde, recebo uma mensagem dela avisando que já está a caminho, mas que não sabe como encontrar a minha casa dentro do condomínio dos bobos idiotas. Desço as escadas e caminho até a cozinha, encontrando a mamãe na mesa do café em frente ao seu computador, possivelmente hipnotizada em sites como o Pinterest. Ela anda bastante viciada em pesquisar coisas bestas de casamento.

— Ei, minha amiga tá chegando aí e eu vou buscá-la na entrada do condomínio — aviso à mamãe, mas ela parece não me dar ouvidos. — Dona Regina, dá pra me ouvir? Vou precisar de privacidade pra estudar e alguém vai ter que manter a gárgula nanica longe.

— Quem? — mamãe pergunta, finalmente tirando os olhos do computador, seus óculos para leitura pendurados na ponta do nariz.

— A Lola.

Tales já voltou ao trabalho, Cassandra só chega à noite da faculdade e Bruno está por aí fazendo sei lá o quê. A casa estaria na maior paz se fosse apenas mamãe e eu, mas a caçula precisa voltar cedo do jardim da infância. E sabe, ela até tem natação, aulas de música e karatê alguns dias da semana, mas Lola precisa estar livre na segunda-feira.

Mamãe sorri.

— Não se preocupe. Eu dou um jeito de distrair a sua irmã.

— Uuuuugh! — Jogo minha cabeça para trás, desejando morrer no mesmo instante. — Nunca mais repita essas palavras, Regina Aquário!

— Regina Aquário Vinhedo, em breve, docinho.

Sorrio, revirando os olhos.

— É, mas ainda não.

Dou um beijo na sua bochecha antes da sair da cozinha, passando direto por Lola na sala de estar e saindo da residência dos Vinhedo.

A rua em que moramos é uma das últimas do Condomínio Nova Escócia, e uma com os moradores mais ricos também. As casas da vizinhança são absurdamente enormes, com janelas de vidro largas e carros caros parados em suas entradas. E óbvio que eu me sinto uma intrusa. Enquanto ponho as mãos nos bolsos do short e caminho pelas ruas de paralelepípedos perfeitamente alinhados, eu me sinto mais azeitona do que nunca.

OK. Talvez eu precise urgentemente me livrar dessa comparação idiota.

Passo pela piscina do condomínio, essa sempre vazia já que todos os moradores têm piscinas em suas casas. Também passo pelas quadras de basquete, futebol, vôlei e tênis, também vazias. Aposto que as pessoas daqui devem se gabar por terem todas essas coisas na palma da mão, quando na verdade nunca usufruem de nada. Um bando de bobos idiotas legítimos.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora