17 - quando plutão beija saturno

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MINA LEÃO ESTÁ me empurrando um copo d'água atrás do outro

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MINA LEÃO ESTÁ me empurrando um copo d'água atrás do outro. Já perdi as contas de quantos eu bebi quando ela se aproxima dos lençóis e me entrega mais um, finalmente se jogando no chão ao meu lado.

— Por favor me diga que esse é o último copo — resmungo, depois de alguns goles. — Não aguento mais beber água.

— Fique sabendo que você vai me agradecer mais tarde.

Largo o copo no chão ao meu lado, olhando para cima em seguida. O Observatório, como Mina chama, é um quarto em cima da Toca da Serpente, minúsculo e sem janelas. Mas em cima das nossas cabeças há uma claraboia, e toda nossa atenção está voltada para ela enquanto ocupamos esses lençóis estendidos pelo piso de cimento queimado.

— Não dá pra ouvir nada — percebo, pensando em voz alta. — Nem parece que tá tendo uma festa lá embaixo.

— É por isso que esse é o meu lugar favorito da Toca — sussurra Mina, ajeitando a postura e se deitando nos lençóis. — Nem os meus pais sobem aqui, então é minha espécie de esconderijo secreto.

— Bem, eu estou aqui, então... acho que não é mais tão secreto assim.

Ela me encara, sorrindo.

— Ele continua secreto, só que agora para duas pessoas. — Mina respira fundo, relaxando os músculos. — Não me importo em dividi-lo com você, Aquário.

Não há luz no Observatório, e a única luminosidade que temos vem da claraboia, mesmo essa não sendo das melhores. A lua deve estar coberta pelas nuvens, então eu não consigo ver tão bem o rosto de Mina quando me deito a seu lado, nossos ombros se tocando de leve. Queria muito a minha jaqueta de volta, porque estou começando a ficar com frio.

— Você pode agradecer Geovan depois? — pergunto, começando a sentir vergonha da minha quase morte mais cedo. — Por ter me ajudado e tudo o mais...

— Agradeço sim, pode deixar — ela assegura, sorrindo um pouquinho. — Elu é um amor de pessoa, vou ficar feliz se puder te apresentar devidamente. Uma pena que tenha se formado no ano passado, porque aposto que vocês iam se dar bem.

— Geovan é... — começo, não concluindo a frase de propósito. Mas sei que Mina me entende, porque ela balança a cabeça em concordância.

— Não-binário. É.

Começou a chover em algum momento depois que chegamos, e eu vejo as gotas de chuva baterem no vidro da claraboia. Mina boceja ao meu lado e eu a encaro, meio sem jeito. Nem sei que horas são, mas aposto que já está tarde.

— Não quer que eu vá pra casa? — sussurro. — Você tá cansada.

— Ei, não! Tá tudo bem — ela assegura, esfregando os olhos para esconder o cansaço. — Quero dizer, eu vou te levar pra casa, mas se quiser a gente pode ficar mais um tempo aqui.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora