12 - ótimos julgadores de caráter

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BRUNO ME MANDOU uma mensagem antes do fim da última aula na sexta-feira me pedindo para esperá-lo na entrada da Escola de Boafortuna

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BRUNO ME MANDOU uma mensagem antes do fim da última aula na sexta-feira me pedindo para esperá-lo na entrada da Escola de Boafortuna. Arrasto os meus tênis surrados até lá quando o sinal finalmente toca, apoiando minhas costas na parede ao lado dos portões e esperando que o meu irmãozinho resolva dar as caras.

Descendo as escadas do corredor principal, Bruno enfim aparece com os seus amigos. Dois deles são da minha turma, e acenam quando me veem, os outros suponho que sejam do terceiro ano B. Com um sorriso de quem não está muito confortável, meu irmão os apresenta:

— Nico e Cecília são da sua classe, então já devem se conhecer. — Aceno de volta para eles, lhes dirigindo o sorriso mais simpático que consigo oferecer no momento. — Esses são Bernardo e Olinda, estudam comigo.

— E aí? — cumprimenta o garoto, com um sorriso de lado.

Os amigos de Bruno são, bem, iguais a ele. Não estou dizendo em aparência, mas no jeito de ser, ou sei lá. Exalam alguma coisa, uma espécie de supremacia adolescente que me incomoda um pouco. Olinda tem dreads e pele escura, e usa óculos de sol de marca em cima da cabeça. Bernardo também é negro, tem cabelos crespos e volumosos e olhos muito bonitos. Já a Cecília é a mais parecida comigo, com seus cabelos curtos e castanhos na mesma altura dos meus, mas ela parece incontestavelmente mais simpática. E tem o Nico.

Quase suspiro de alívio ao perceber que o meu radar não está quebrado. Pelo menos não totalmente. Porque, quando olho para esse garoto, eu tenho a absoluta certeza que ele beija bocas masculinas.

— Vamos indo? A gente vai ter que se apertar no carro.

Caminho em silêncio junto a eles até o estacionamento, onde o carro de Bernardo nos espera em uma das vagas. É uma caminhonete de quatro portas recentemente lustrada, e aposto que foi comprada novinha. O garoto se acomoda no banco do motorista, Bruno no assento a seu lado, e antes que o restante se esprema no banco traseiro, Olinda sugere:

— Que tal alguém ir lá atrás? Pra não ficar tão apertado.

— Eu posso ir — proponho, soltando uma das alças da mochila que já machucam os meus ombros. — Não tem problema.

Vejo Cecília balançar a cabeça, me dando um não como resposta.

— Você não vai lá sozinha, garota. — Ela encara a carroceria do carro por dois segundos antes de sugerir: — Que tal as meninas irem juntas lá atrás?

— Vai tá quente pra porra, Lia — avisa Bernardo, encarando a gente sem muita paciência enquanto mantém uma das mãos no volante.

— Não tem problema — Olinda assegura, já pisando no pneu traseiro e pegando impulso para subir na carroceria da caminhonete. — Sentamos em cima das mochilas.

Depois de alguns minutos discutindo se isso realmente poderia dar certo, Cecília, Olinda e eu nos acomodamos no compartimento de cargas do carro, sentadas em cima dos nossos cadernos. Bernardo dá partida, saindo de ré da vaga que ocupava, e com um solavanco, ele avança com a caminhonete pela estrada.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora