QUANDO MINA LEÃO pede pra você vestir algo legal, você precisa fazer um esforço muito maior do que todos que já fez durante a sua vida. Acontece que todas as minhas roupas legais eu já devo ter usado em algum momento com ela, então engulo o meu orgulho e peço ajuda pra mamãe novamente, prometendo pra mim mesma que será a última vez. Ela sorri, busca as chaves do carro e me leva até a área comercial da cidade.
— O que acha de a gente parar pra comer alguma coisa na volta? — ela sugere, parando em um sinal. — O bebê tá implorando por comida italiana.
— Tinha que ser um Vinhedo... — brinco, fazendo Dona Regina rir.
— Não tenho culpa se o Júnior tem um paladar refinado.
Ergo uma sobrancelha na mesma hora.
— Júnior?
— É. Tales Júnior, o que você acha?
Espero de verdade que essa mulher esteja brincando, porque é impossível que minha progenitora pense que eu ache essa uma boa ideia.
— Mãe — ponho uma mão no seu ombro —, não. E relaxa, vai ser uma menina.
— Ah, é? E como você sabe?
— Não é certeza — dou de ombros, apoiando minha cabeça no vidro e olhando para o céu, bonito demais nessa época do ano —, mas prefiro ter esperanças.
A gente estaciona o carro em frente a uma loja, apesar de nada na vitrine me chamar muito a atenção. Mamãe me arrasta até os fundos, onde ela diz ter roupas mais parecidas com o meu estilo, seja ele qual for, e eu confiro as camisetas estampadas dispostas perto de mim.
— Pra onde é que vocês vão, afinal?
— Eu não sei, a Mina não quis me contar — respondo, franzindo as sobrancelhas. — Pode ser que ela me leve pra um restaurante chique ou, sei lá, pra casa dela. Eu realmente não sei o que esperar, por isso não faço ideia do que vestir.
— Precisa estar bonita, mas não pode parecer que se esforçou muito. — Eu aceno em concordância, arrastando as camisetas no cabideiro, nenhuma bonita o suficiente. — Mas, sabe, não acho que ela ia pedir pra você vestir algo legal se fossem só pra casa dela.
— Como assim?
Ela me encara, erguendo uma sobrancelha de modo sugestivo.
— Ah, você sabe... Não precisariam de roupa pra...
— Mãe! — exclamo, desviando a atenção na mesma hora, sem conseguir olhar para ela. — Por favor, não vamos falar sobre isso.
— Pra uma garota tão evoluída, não acredito que Eva Aquário acha que falar de sexo é um tabu.
Reviro meus olhos, fazendo uma careta. Desisto das camisetas e caminho até ela, mamãe procurando alguma calça do meu tamanho.
— Não é tabu. É só que... falar sobre isso com a minha mãe não é lá muito confortável.
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Todas as Coisas que Eu Não Odeio em Você
Teen Fiction[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2021 na categoria YOUNG ADULT] Tem poucas coisas que Eva Aquário não odeia no mundo, e elas são: biscoitos sabor limão, matemática e garotas. De resto, ela faz questão de deixar claro o quanto não suporta. Eva não suporta...