2 - pacto matemático inquebrável

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EU NUNCA SENTI tanto a falta da Dona Virgínia como sinto agora

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EU NUNCA SENTI tanto a falta da Dona Virgínia como sinto agora. Porque, enquanto o meu novo professor de Matemática já preenche a lousa com os conteúdos prévios desse ano letivo, eu me dou conta de três coisas.

Primeira: eu realmente amo matemática, mas não sei se a minha relação com ela continuará às mil maravilhas se eu não tiver minha antiga professora comigo.

Segunda: o fato de esse homem ser o estereótipo perfeito de um professor de Matemática (velho, provavelmente infeliz e fã de tênis esportivos) me irrita tanto quanto a sua falta de habilidade em escrever em linha reta.

Terceira: talvez eu não esteja conseguindo focar de verdade nessa aula introdutória por causa da garota de cabelos recém-raspados sentada a algumas fileiras de mim.

Aposto que ela é bonita. Não dá para ver seu rosto mas, sabe, dá para ter uma noção quando alguém é bonito mesmo de costas. E ela tem uma tatuagem na parte de trás do pescoço totalmente visível, o que significa que ela tem estilo. Mesmo com esse uniforme ridículo, ela parece ser o tipo de garota que fica estilosa com absolutamente qualquer coisa.

Eu estava certa em não decretar derrota antes das sete da manhã, porque um pequeno resquício de vitória veio assim que adentrei a Escola de Boafortuna e me deparei com seus corredores largos e cheios de armários. Bruno sumiu de vista assim que passamos do portão, o que já seria um bom motivo para a melhora da minha manhã. Mas, cinco minutos depois, eu descobri algo maravilhoso que com certeza teve uma influência divina a meu favor. Bruno não está na minha classe. Enquanto eu faço parte da lista de vinte e sete alunos do terceiro ano A, ele está na sala ao lado, a uns bons metros e a uma parede de distância, no terceiro ano B. E isso foi o suficiente para alavancar o meu humor em níveis exorbitantes. Porque já basta dividir a casa, o banco traseiro do carro e até a minha mãe, eu não suportaria ter que dividir até as minhas aulas de Matemática.

Ainda que essa não esteja lá essas coisas.

Observo o pessoal da minha turma meio sem jeito, e perceber que todos se conhecem me deixa um tanto desconcertada. Não que eu já não soubesse que isso ia acontecer, eu não sou burra, mas me sentir sozinha nunca foi algo que eu gostasse muito. Mas tudo bem, porque, venhamos e convenhamos, tudo podia ser bem pior. Eu poderia estar no terceiro ano B, por exemplo.

— Alguém pode me dar a resposta dessa equação? — pergunta o professor, a voz rouca e já cansada demais para um primeiro dia de aula ecoando pela classe.

Observo alguns alunos buscarem seus cadernos na mochila, outros escrevendo a questão na própria carteira e tentando resolvê-la, mas muitos não movem um músculo. Encaro o quadro comprimindo os olhos, porque esqueci meus óculos em casa. Faço o cálculo na mente e anuncio:

— Oito.

— O quê? — o professor questiona, buscando entre as carteiras qual foi o aluno que lhe respondeu. Ergo o braço no ar e repito o resultado, sentindo a atenção de todos em mim.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora