40 - garota de boafortuna

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APESAR DA MÃO machucada, Mina consegue dirigir sem problemas

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APESAR DA MÃO machucada, Mina consegue dirigir sem problemas. A noite tá silenciosa, nenhuma música toca na rádio, e preferimos manter o clima assim no carro. Quieto, mas acolhedor. Depois de sair de uma casa noturna barulhenta, nós duas concordamos que queríamos um momento de paz.

Eu não sabia que Mina dirigia, mas foi uma surpresa boa. Ela acelera pelas ruas da cidade, praticamente vazias essa hora da noite, e eu me permito deitar a cabeça na janela, aproveitando a vista, encarando o céu escuro sem estrelas, mas bonito do mesmo jeito.

— Já sabe pra onde vou te levar, não é? — ela pergunta, fazendo uma curva e entrando numa parte da cidade que não conheço.

— Tenho minhas suspeitas — confesso, afastando minha cabeça do vidro e olhando para ela. — Tem algo a ver com uma certa lista?

Ela sorri, cruzando mais uma esquina, preferindo não me responder.

A gente alcança uma estrada de terra depois de algum tempo, o caminho ficando mais íngreme à medida que Mina acelera, os pneus cortando a estrada. Quando finalmente alcançamos o topo da colina, ela desliga o carro, mas não dá sinal algum de que vai sair dele.

— A gente vai ficar aqui? — pergunto, tirando o cinto de segurança.

— Não, é que... — Ela me encara, me dirigindo um sorriso contido. — Possivelmente vai ser a última vez que vou aproveitar essa vista antes de ir embora, e eu tô me preparando pra sentir tudo, sabe?

— É bonita assim?

Ela assente, apertando os olhos e dando um beijo rápido nas costas da minha mão.

— É, mas não tanto quanto a minha namorada.

Só abro a minha porta depois que Mina abre a dela, nós duas finalmente saindo do carro. E é quando dou um passo à frente, finalmente capaz de encarar a vista, que eu entendo exatamente o que ela quis dizer quando falou que precisava se preparar, porque, honestamente, eu não tava pronta pra isso.

É a coisa mais incrível, e é inacreditável pensar que estou olhando para a mesma cidade onde vivo há meses, que de perto não chega nem aos pés disso. As ruas iluminadas, as casas acesas, cada canto de Boafortuna parecendo vivo, como se pulsasse e respirasse. É como olhar para o céu de cabeça pra baixo. Não tem estrelas nele essa noite, mas é como se houvesse milhares flutuando no chão.

— Vem cá — Mina chama, me ajudando a subir no capô do carro. Nós duas nos sentamos, nossas costas apoiadas no para-brisa. — Sei que a maioria vem aqui pra dar uns beijos, mas... olha só pra essa vista. — Ela solta um suspiro, extasiada, e eu noto o momento em que segura o seu punho por um segundo, ele parecendo ainda incomodar. — Impossível não parar pra admirar isso, não é?

— Você tá bem? Depois do que aconteceu hoje, eu... fiquei tão assustada, Mina.

— Sendo honesta? — ela murmura, cruzando os braços. — Ainda tô um pouco assustada também. Até agora tudo tava sendo tão bom que eu por um segundo me esqueci que ainda existe gente ruim no mundo, sabe? Que as coisas não vão ser boas sempre.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora