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Garrafa aqui e copo ali acabei perdendo não apenas a minha responsabilidade, mas também a razão. Tudo que eu tinha conquistado se esvaiu como água que se escorre de mãos abertas. Deu que fui morar com alguns miseráveis num cortiço sujo e fétido. Memórias que guardo dali são as piores que alguém pode ter; acredite. Certo dia alguns canalhas se juntaram para me roubar as roupas que eu usava, que eram as únicas coisas que ainda me restavam. Foi só depois de ter sido agarrado e de levar uma facada na mão que eu consegui me libertar, fugindo de lá correndo o mais rápido que pude.

É com muita dor que passei aqueles dias, meu amigo. Eu vagava sem rumo nenhum pelos bairros afora, batendo de porta em porta usando a mão que havia sobrado: isto é, a que não estava ferida. Suplicava ajuda, pedia esmola... esperando sempre que alguém me desse de comer e de beber. Por várias vezes me batiam a porta na cara, como se eu fosse algum tipo de animal indesejável. Da rua eu sempre vislumbrava as famílias felizes em suas belas casas, com suas mesas cheias da melhor comida enquanto eu do lado de fora apenas assistia tudo tremendo de frio, ferido, faminto e abandonado. Foi uma tremenda provação.

Um dia fui procurar a assistência social de lá, dizendo que precisava urgentemente de alguma ajuda. Foi quando me disseram que não seria possível. Segundo eles, todo tipo de auxílio já tinha sido entregue a quem precisava e que eu havia chegado tarde demais. O que pude fazer?

Lembro que depois de ter saído de lá, fui andando até à enorme praça do centro da cidade. O sol já se punha. A fome me corroía por dentro, de forma que não vi solução senão tentar ignorá-la dormindo num banco qualquer por ali. Se eu morresse ali naquele lugar e naquela hora, não me importaria.

Cartas de Um MiserávelOnde histórias criam vida. Descubra agora